Boa leitura.
Materials and Materiais
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VIDA ÚTIL DOS
REVESTIMENTOS DE FACHADA E AS PATOLOGIAS EM BRASÍLIA
Elton Bauer (*),
Eliane Kraus de Castro (**), Maria de Nazaré B. da Silva (***)
(*) Professor do Programa de Pós-graduação em
Estruturas e Construção Civil – Universidade de Brasília – Laboratório de
Ensaio de Materiais.
(**) Professora
do Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade de
Brasília – Laboratório de Ensaio de Materiais.
(***)
Aluna de Doutorado do Programa de Pós-graduação em Estruturas e
Construção Civil – Universidade de Brasília.
Revisão e adequação: pesquisador Manuel Alejandro
Rojas Manzano (mat and mat)
Enviado por: Maria de Nazaré B. da Silva
INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS
A vida útil e a durabilidade das fachadas estão
ligadas à agressividade do meio ambiente, às propriedades dos elementos e dos seus
componentes e à interação entre estes ao longo do tempo. Como requisitos de
durabilidade, o edifício deve manter a capacidade funcional durante a vida útil
prevista em projeto sem os sinais de desgaste, desde que realizadas as
intervenções periódicas de manutenção e conservação(1).
Os diversos fatores ambientais de degradações das
fachadas (variações térmicas, os ventos, as chuvas e as contaminações) podem
ocorrer com intensidades diferenciadas em função da região de influência, ou
seja, do microclima do edifício, mais especificamente, em função das
orientações das fachadas, sendo necessária uma análise minuciosa desses efeitos
para a obtenção de um adequado diagnóstico das degradações nos edifícios(2)(3)(4).
Para estabelecer uma relação da degradação das fachadas com os aspectos
relativos ao clima, além de verificar sua influência sobre os processos de
degradação, são utilizados os dados da radiação solar incidente nas fachadas de
Brasília em função das orientações cardeais.
Este estudo aborda uma análise das degradações nas
fachadas de quatro edifícios de Brasília. Os edifícios selecionados possuem
seis andares e pilotis, e idades que variam entre 10 e 40 anos. As fachadas
apresentam área média em torno de 3510 m² e área total de aproximadamente 14040
m². Os levantamentos dos danos (descolamentos, falhas de rejunte e fissuras)
sobre as fachadas foram realizados em conformidade com as rotinas de inspeções
desenvolvidas no Laboratório de Ensaio de Materiais da Universidade de Brasília
(LEM-UnB).
Os índices de degradações são obtidos por intermédio
de uma abordagem comparativa de duas rotinas(5)(6). A primeira
rotina consiste em estabelecer um processo de avaliação e quantificação
detalhada dos danos nas fachadas rebocadas através da extensão dos danos e nível
geral de degradação (NGD). A segunda rotina aborda a influência de diversos
fatores que podem inferir na degradação das fachadas, estabelecendo uma
estimativa e classificação percentual do nível de dano através do índice de
performance (IP).
MATERIAIS/MÉTODOS/DESENVOLVIMENTO
A equipe de especialistas em estudos das manifestações
patológicas em edifícios do LEM-UnB desenvolveu uma metodologia que consiste em
diagnosticar as principais patologias nas fachadas dos edifícios em Brasília(7)(8)(9).
A metodologia LEM-UnB integra as seguintes etapas: Obtenção de informações
preliminares, inspeção, ensaios e diagnóstico.
A figura 1 mostra a fachada de um dos edifícios
analisados (edifício A). Os danos visíveis dos edifícios analisados com 10 anos
(A e B) e 40 anos (C e D) foram mapeados (Figura 2) a partir de levantamentos
fotográficos efetuados pela equipe do Laboratório de Ensaios de Materiais da
Universidade de Brasília.
Figura 1 – Fachada do edifício A.
Figura 2 - Representação esquemática do mapeamento de
danos das fachadas.
Este estudo aborda duas metodologias para a análise da
degradação nas fachadas. A primeira rotina (R1) emprega um modelo de avaliação
do nível geral de degradação (NGD) para fachadas com acabamento em argamassa de
reboco ou em placas cerâmicas(5)(10)(11). A segunda rotina (R2)
estabelece um modelo para avaliação do índice de performance das fachadas(6).
Ambas as rotinas R1 e R2 foram analisadas tanto em função da idade do edifício
como também da influência da incidência solar nas fachadas.
A rotina R1 consiste em um modelo de estimativa do
nível geral de degradação (NGD) das fachadas simplesmente rebocadas ou com
revestimento em placas cerâmicas(5)(10)(11). Este modelo foi
proposto a partir de uma adaptação do método fatorial(12). O NGD
estabelece uma relação direta entre a área da fachada afetada pelos defeitos
com o respectivo nível de defeito em função da área total das fachadas
analisadas.
A segunda rotina (R2) estabelece um modelo de
avaliação de desempenho das vedações verticais em alvenaria de blocos ou
tijolos cerâmicos baseada em inspeções visuais(6). O modelo foi
adaptado do método fatorial proposto originalmente para estruturas de concreto(13).
A rotina R2 permite qualificar e classificar as degradações através de um
índice de performance do elemento (IP) para cada tipo de dano i no elemento
inspecionado (B).
RESULTADOS/DISCUSSÃO
Este estudo apresenta os resultados obtidos dos
levantamentos dos danos para as fachadas de 4 edifícios e análise dos modelos
de danos para as rotinas R1 e R2. Os edifícios foram avaliados em relação às
orientações norte, sul, leste, oeste (edifícios B e D) e em relação às
orientações nordeste, sudeste, sudoeste, noroeste (edifícios A e C). A Figura 3
mostra o gráfico das ocorrências de todas as falhas (descolamento de cerâmica,
falha de rejunte, fissuras, eflorescências, falhas de vedação e outros)
observadas nas fachadas dos edifícios.
Figura 3 - Ocorrência de manifestações
patológicas gerais nas fachadas.
Os resultados apresentados na figura 3 evidenciam a
maior ocorrência da falha por descolamento de cerâmico (67%), em relação aos
demais (falha de rejunte, fissuração, eflorescência, falha de vedação e
outros).
A tabela 1 mostra os resultados do NGD e IP em função
da orientação das fachadas, radiação solar incidente em dias típicos do ano e
idade dos edifícios. A radiação solar foi obtida para os dias típicos a partir
da carta solar de Brasília. Observa-se que as fachadas com orientações a leste,
oeste, nordeste e noroeste de Brasília sofrem as maiores incidências solares.
Os edifícios de 40 anos apresentaram maior NGD e IP e as fachadas com
orientação oeste e noroeste para os edifícios de 40 anos, apresentaram maior
estágio de degradação, comprovando o efeito da incidência da radiação e da
idade no processo de degradação das fachadas
Tabela 1 - Resultados do NGD e IP para os
edifícios de 10 anos (A e B) e 40 anos (C e D).
A rotina R1 mostrou clara diferença na degradação em
função da idade (Figura 4). O edifício C (40 anos) apresentou maior incidência
solar e maior valor de degradação (NGD). O edifício A (10 anos) apresentou
incidência solar mais elevada na fachada nordeste, que também foi a mais
crítica.
Figura 4 – Resultados da degradação geral
para edifícios A e B (10 anos) e C e D (40 anos) em função da orientação solar
utilizando o NGD para rotina R1.
A Figura 5 apresenta os resultados obtidos a partir do
modelo de avaliação de desempenho das fachadas dos edifícios (rotina R2). O
edifício C (40 anos) apresentou o maior valor do índice de performance, bem
como o maior resultado da degradação para a maior incidência solar. O edifício
D (40 anos) também apresentou elevado IP para a maior incidência solar.
Figura 5 – Resultados dos índices de
performance para edifícios A e B (10 anos) e C e D (40 anos) em função da
orientação solar utilizando o IP para a rotina R2.
As rotinas R1 e R2 identificaram com precisão os
diferentes níveis de degradação em relação à idade e exposição à radiação
solar, evidenciando maior intensidade de degradação para os edifícios de 40
anos e consequente comprometimento da vida útil destes edifícios. Para os
edifícios com 10 anos, ambas as rotinas apresentaram resultados similares para
as diferentes orientações solares. Para os edifícios com 40 anos (C e D), as
rotinas convergiram em relação à orientação solar, sendo mais evidente em relação
à orientação mais crítica (noroeste).
CONCLUSÕES/AGRADECIMENTOS
O estudo
permite enumerar as seguintes conclusões principais:
Ø As fachadas apresentaram elevado índice de
ocorrência de descolamento de cerâmica.
Ø As duas rotinas analisadas foram eficientes
na avaliação da degradação em função da idade e da incidência da radiação solar
nas fachadas dos edifícios.
Ø As duas rotinas identificaram a mesma
fachada crítica (edifício C, de 40 anos), comprovando sua eficiência na
modelação da degradação e vida útil das fachadas.
Ø Os resultados diferenciados nas duas
rotinas decorrem da forma de ponderação e cálculo dos principais fatores e
agentes de deterioração, entretanto, ambas mostram um comportamento similar das
curvas de degradação e vida útil.
Os autores agradecem à LABORATÓRIO
DE ENSAIO DE MATERIAIS - LEM/CDT/UnB – pela disponibilização do acervo técnico
e pelo apoio às atividades de pesquisa desenvolvidas, à CNPq – pelo apoio na
forma de auxílio à pesquisa e bolsas de pesquisa e à CAPES – pelo apoio na forma
de concessão de bolsas de pesquisa.
REFERÊNCIAS
(1) Associação Brasileira de
Normas Técnicas. NBR 15575: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos –
Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2008.
(2) MELO JÚNIOR, C. M.;
CARASEK, H. Comportamento diferenciado na deterioração de revestimentos de
argamassa: influência da chuva dirigida, IX Simpósio Brasileiro de Tecnologia
de Argamassas, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011.
(3) RIVERO, R.; Arquitetura e
clima: Acondicionamento térmico natural, D. C. Luzzatto Editores, Ed. da
Universidade, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1985, 240p, 1ª edição.
(4) MATOS, V. C. M.; LIMA, M.
G. Manual para avaliação de fachadas – Importância da avaliação dos fatores
ambientais de degradação, XI Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente
Construído, ENTAC, Santa Catarina, 2006.
(5) GASPAR, P. L.; BRITO, J.
The perception of damage on rendered façades. In: XII DBMC - Proceedings of the
12th International Conference on Durability of Building Materials and
Components, (Físico e CD - ROM), Porto, 2011.
(6) TAGUCHI, M. K. Avaliação e
qualificação das patologias das alvenarias de vedação nas edificações.
Dissertação (Mestrado) – Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná,
Paraná, 2010.
(7) BAUER, E.; KRAUS, E.; ANTUNES, G. R. Patologias
mais correntes nas fachadas de edifícios em Brasília, 3º. Congresso Português
de Argamassas de Construção, PFAC, Lisboa, 2010.
(8) BAUER, E.; KRAUS, E.; ANTUNES, G. R.; LEAL, F.
E. Identification and quantification of failure modes of new buildings façades
in Brasília. In: XII DBMC - Proceedings of the 12th International Conference on
Durability of Building Materials and Components, (Físico e CD - ROM), Porto,
2011.
(9) BAUER, E.; CASTRO, E. K.; ANTUNES, G. R..
Antunes, Processo de identificação das manifestações patológicas em fachadas
com revestimento cerâmico, IX Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas,
Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011.
(10) SOUSA, R. D. B. Previsão da vida útil dos
revestimentos cerâmicos aderentes em fachadas, Dissertação (Mestrado) –
Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, 2008.
(11) GASPAR, P. L.; BRITO, J. Limit states and
service life of cement renders on facades, Journal of Materials in Civil
Engineering, vol. 23(10), pp. 1396-1404, 2011.
(12) GASPAR, P.; BRITO, J. Quantifying
environmental effects on cement-rendered facades: a comparison between
different degradation indicators. Building and Environment, v. 43, n. 11, p.
1818-28, 2008.
(13) FIB. Strategies for testing and assessment of
concrete structure, CEB Bulletin, n. 243, 1998.
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