quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DIVULGAÇÃO TÉCNICA- AT 04


Voltamos à temática da quantificação de patologias (danos, anomalias, falhas, etc.) nas fachadas. Somente a análise sistêmica permite quantificar e qualificar as manifestações patológicas nos levantamentos de campo.
Um dos objetivos nessa sistematização( dentre vários outros) é aprender com os erros. Nesse sentido, colocamos 2 links importantes. Um deles é com a plataforma PATORREB onde podemos consultar fichas de catalogação de patologias. Outro é com o programa de pós-graduação da UnB (PECC), onde pode se efetuar o download  da dissertação da Enga. Giselle R. Antunes, da qual surgiu o artigo abaixo.
Aproveitamos para convidar os amigos a publicarem seus trabalhos aqui no MATERIALS AND MATERIAIS. O blog só funciona se todos colaborarem. Peço também que divulguem o blog entre seus colegas e amigos.
Boa leitura.
Prof. Elton Bauer
matandmat.blog@gmail.com

links:

Ocorrência de Manifestações Patológicas em Revestimentos
 de Fachada - Sistematização

Giselle Reis Antunes1,a e Elton Bauer2,b
1Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
2Professor Associado II, Deptº Engenharia Civil e Ambiental, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil-Universidade de Brasília (PECC-UnB), Brasil
aengcivil.giselle@gmail.com e belbauerlem@gmail.com

Palavras-chave: Manifestações patológicas, regiões de ocorrência, fachada.

A indústria da construção civil, nos cenários nacional e internacional, tem sido marcada pelo uso de novos materiais e desenvolvimento de tecnologias construtivas pouco abordadas cientificamente. No que se refere ao sistema de revestimento de fachada, apesar desta evolução tecnológica em curso, é crescente a incidência de manifestações patológicas com origens diversas.
Em Brasília, não é diferente, apesar do cuidado nas fases de projeto, especificação e execução de fachadas, muito se tem visto de falhas e danos inerentes à má qualidade destes processos.
Portanto, é de essencial importância o aprimoramento e criação de ferramentas sistemáticas e práticas de apuração de danos, que permitam a detecção das causas prováveis, e realização de diagnósticos mais rigorosos. No sentido de sistematizar a abordagem das manifestações patológicas incidentes sobre fachadas, este artigo apresenta estudos de seis edifícios situados na cidade de Brasília. 

Metodologia
A metodologia adotada expressa graficamente a incidência das manifestações patológicas considerando o posicionamento das mesmas, ao longo do pano de fachada e resulta do aprimoramento e adequações da Metodologia LEM-UnB [1] e da ferramenta proposta por Gaspar e Brito [2]. 
Procedeu-se o mapeamento dos dados de manifestações patológicas recolhidas em campo, adaptando-se a proposição de Gaspar e Brito [2], sendo que, diferentemente do primariamente sugerido pelos autores, que definiram apenas seis áreas de fachada, estabeleceram-se desta vez, oito diferentes regiões de análise tipo nas fachadas, conforme mostra a Fig. 1: (1) próximo ao nível do solo (caso haja contato com mesmo), (2) sobre paredes contínuas, (3) em torno das aberturas (janelas, portas, elementos vazados, etc.), (4) no topo (platibanda, abaixo de cornijas, rufos e beirais), (5) em sacadas ou varandas, (6) nos cantos e extremidades, (7) acerca das juntas, e em havendo ausência de juntas de movimentação horizontal a cada pé direito, (8) na transição entre pavimentos.


Figura 1: Representação esquemática das regiões de análise tipo numa fachada.

Em seguida, foram confeccionados gráficos de colunas [3] que expressam, em termos percentuais, a incidência de cada uma das manifestações patológicas registradas previamente durante a inspeção dos edifícios estudados, em cada região de análise tipificada de fachada, definidas a partir de uma representação esquemática padrão da mesma. 

Caracterização dos Edifícios Estudados
No estudo em questão optou-se por selecionar edifícios com sistema construtivo assemelhado, estrutura de concreto armado e fechamentos em alvenarias de vedação em blocos cerâmicos, erguidos sobre pilotis, com idades distintas, porém inferior a 40 (quarenta) anos, em cujas fachadas são utilizados revestimentos cerâmicos ou revestimentos em argamassa com acabamentos em pintura [3].

Tabela 1- Caracterização dos 6 (seis) edifícios estudados.



Edifício A
O edifício A [4], com 6 (seis) pavimentos, no geral é revestido em cerâmica bege, possui platibanda marcada pela cor marrom, e destaca-se pela grande quantidade de recortes na fachada, ou seja, presença de alto-relevos, reentrâncias e sacadas revestidas em cerâmica azul-escura (Fig. 2). Destaca-se neste edifício, a presença de juntas de movimentação a cada pé-direito.


Figura 2:  Fachadas representativas do edifício A.

Edifício B
O edifício B (Fig. 3) consiste num único bloco que integra um edifício residencial de seis pavimentos sobre pilotis composto, no todo, por três blocos separados por juntas estruturais. Não apresenta juntas de movimentação horizontal entre os pavimentos no sistema de revestimento cerâmico, visto que não era usual o emprego deste tipo de juntas na época de construção do edifício [5]. 


Figura 3: Fachadas representativas do edifício B.

A fachada de entrada do prédio se compõe basicamente por faixas de esquadrias metálicas alternadas por panos de vedação horizontal revestidos em cerâmica cinza-clara (2 x 2 cm). A fachada de serviço possui panos de elementos vazados, intercalados por caixas de elevadores contendo janelas de ventilação e iluminação acompanhando apenas os lances de escada, revestidas em toda a sua extensão por cerâmica na cor bege. A empena que é cega, ou seja, isenta de qualquer tipo de abertura, é revestida no todo em cerâmica cinza clara.

Edifício C
O edifício C [1] segue as mesmas características do edifício B, é erguido sobre pilotis, com duas juntas estruturais que separam três blocos, possui um total de 36 apartamentos distribuídos em 6 pavimentos tipo, e garagem. Mas diferentemente do edifício B, o edifício tratado neste item foi avaliado por inteiro.
A fachada de entrada do edifício é marcada pela presença de varandas e a de serviço, destaca-se por sua vez, pela presença de caixas de elevadores (Fig. 4). Em ambas as fachadas, a vedação é composta por faixas de esquadrias metálicas junto das quais se utilizou cerâmica marrom, alternadas por faixas verticais de alvenaria em alto relevo, revestidas em cerâmica cinza. As empenas são rigorosamente iguais, revestidas nas laterais por cerâmica cinza e na região central, onde estão dispostas esquadrias, por cerâmica marrom (2 x 2 cm).



Figura 4: Fachadas representativas do edifício C.

Edifício D
O edifício D (Fig. 5) possui planta em forma de “H”, 12 pavimentos tipo, mezanino, pilotis e subsolo (garagem), apresenta junta de movimentação horizontal a cada pavimento (aproximadamente 2,80 m). As fachadas são revestidas com quatro tipos de cerâmica (nas dimensões 10 x 10 cm), cinza-clara, cinza-escura compondo os principais panos e branca e vermelha compondo detalhes estéticos. Três das fachadas contém panos de pele de vidro sendo duas delas as fachadas principais (6).  




Figura 5: Fachadas representativas do edifício D.
Edifício E
O edifício E (Fig. 6) possui dois blocos separados por uma junta estrutural, sendo o primeiro, denominado lâmina, com 19 andares e o segundo, denominado de embasamento, com 02 andares. As fachadas principais possuem em suas composições cerâmicas (10 x 10 cm) nas cores cinza-clara e azul-escura, sendo que em suas partes centrais apresentam um vasto pano de esquadrias em alumínio na cor preta com vidros espelhados, denominada pele de vidro [7]. As fachadas laterais possuem três tipos de cerâmica: cinza-clara, azul-escura e rosa-clara, sendo que as regiões em cerâmica rosa-clara destacam-se da fachada e nelas se encontram venezianas de ventilação. Na região das fachadas revestidas em cerâmica existem juntas de movimentação horizontal, a cada pavimento (aproximadamente 2,80 m). 


Figura 6: Fachadas representativas do edifício E.


Edifício F
O edifício F consta de três blocos com três pavimentos tipo duplex sobre pilotis separados por juntas estruturais, não possui junta de movimentação horizontal entre os pavimentos e apresenta duas caixas de elevadores e escada, uma localizada no eixo central, e outra na extremidade da fachada sul (Fig. 7).    



Figura 7: Fachadas representativas do edifício F.

A fachada de entrada e a dos fundos são marcadas pela presença de varandas revestidas em cerâmica azul-escura; por panos de vedação contendo as esquadrias, com acabamento em pintura na cor bege; e pela platibanda e base revestidas com cerâmica vermelha. A empena norte tem revestimento à base de argamassa com pintura na cor bege e a empena sul é caracterizada pelo revestimento de quase sua totalidade em cerâmica azul-escura, com exceção da região central, que contém esquadrias metálicas intercaladas por faixas horizontais de cerâmica vermelha.

Resultados e Discussões
Como foi dito na metodologia, as manifestações patológicas neste trabalho foram associadas a cada região tipificada da fachada. Apresentam-se a seguir os gráficos considerando as regiões pré-definidas de fachada em ordem de ocorrência de manifestações patológicas, mostrando a incidência de danos em cada uma [2].
Analisando-se  a região em torno de aberturas (Fig. 8) acometida por 1405 manifestações patológicas, é possível perceber o descolamento de cerâmica (41%), falhas de rejunte (20%), fissuração (19%) e falhas de vedação (16%) como os danos mais correntes. As fissuras, quase que constantes nesta região, podem indicar que as estruturas estão deformando mais que o esperado, e a maneira como foram executadas a maioria delas, sem elementos de distribuição de tensões, como vergas e contravergas ou utilização inadequada destes elementos, tem acentuado o problema. 
Ressalta-se que danos como o descolamento de cerâmica podem surgir como efeito colateral da existência de fissuração. A deterioração do material existente na interface esquadria/alvenaria permite a infiltração de água com mais facilidade, acarretando em danos maiores na região.



Figura 8: Incidência geral de danos em torno de aberturas nos edifícios.

Examinando-se a região de paredes contínuas (Fig. 9) atingida por 1024 manifestações patológicas, é possível perceber o descolamento de cerâmica (61%), falhas de rejunte (21%) e fissuração (14%) como os danos mais correntes, vinculados muito provavelmente, às variações higrotérmicas mais intensas nesta região; fissuração da alvenaria por deformação lenta da estrutura e, principalmente, a falhas de execução. 
As paredes contínuas são as regiões com elevada quantidade de danos quantificados, isso destaca a necessidade de evitá-las sempre que possível, panos de fachada extensos, exigem elementos que aliviem ou melhor distribuam tensões ou mesmo a existência de argamassas mais deformáveis.

Figura 9: Incidência geral de danos em paredes contínuas nos edifícios.

Através da Fig. 10 se observa que a região em torno das juntas, com 534 manifestações patológicas, é atingida mais intensamente pelo descolamento de cerâmica (69%) e pela deterioração do selante das juntas de movimentação (21%), atribuída possivelmente, à falta de manutenção, erros de geometria, além de falhas durante a execução das mesmas.
As fissuras, também presentes em outras regiões, como pode ser visto, são danos preocupantes, visto que se constituem em possíveis caminhos propícios para a penetração de agentes agressivos externos, tornam a edificação mais vulnerável especialmente a água, fato que pode induzir ao surgimento de novas manifestações patológicas, como eflorescências, manchas de umidade, bolor ou mofo, corrosão de armaduras e descolamento de placas do revestimento.
Figura 10: Incidência geral de danos em torno das juntas nos edifícios.

Observando-se a região de cantos e extremidades (Fig. 11), acometida por 349 manifestações patológicas, nota-se o descolamento de cerâmica (67%), falha de rejunte (18%) e fissuração (8%) como danos mais correntes, atribuídos ao impacto, falhas de projeto e a problemas de execução. A execução dos cantos apresenta dificuldades intrínsecas, pois exige requadramento do emboço nas duas faces do mesmo. Usualmente, utilizam-se argamassas mais fluidas, estas depois de endurecidas, tornam-se camadas porosas e menos resistentes, favorecendo o surgimento de danos.

Figura 11: Incidência geral de danos em cantos e extremidades nos edifícios.

Ao observar-se a Fig. 12, nota-se que os danos de maior incidência na região de transição entre pavimentos, com 314 manifestações patológicas, são o descolamento de cerâmica (65%), falhas de rejunte (21%) e fissuração (11%), associados principalmente a existência de movimentações diferenciais na interface estrutura (vigas e lajes) e nas alvenarias de vedação, por razões estruturais ou térmicas. 


Figura 12: Incidência geral de danos na transição entre pavimentos nos edifícios.

Analisando-se a Fig. 13, verifica-se que a região do topo é atingida por quase todos os tipos de manifestações patológicas totalizando 195, onde se destacam o descolamento de cerâmica (38%), falhas de rejunte (28%) e fissuração (16%). A ocorrência destes danos se deve, especialmente, ao comportamento das platibandas e coberturas por efeito da temperatura. Estes elementos sofrem grandes variações dimensionais sob elevadas solicitações higrotérmicas, acarretando em movimentações diferenciais entre os componentes que os constituem, e podem implicar em danos ao revestimento
Figura 13: Incidência geral de danos no topo nos edifícios.

A região das sacadas (Fig. 14), com 95 manifestações patológicas, destaca-se pela maior incidência de eflorescência (62%) e falhas de rejunte (27%). As sacadas são plataformas que ressaltam do alinhamento da parede dos edifícios e, por este motivo, estão mais expostas à ação da chuva. A presença de umidade somada a existência de sais livres nas argamassas de assentamento e às condições de pressão de cristalização destes, favorecem o aparecimento de manchas de eflorescências na superfície das sacadas. 
A presença de falhas no rejunte também atuam como um acelerador de degradação, já que facilitam a penetração da água para as demais camadas do revestimento.
Figura 14: Incidência geral de danos em sacadas nos edifícios.

Por último, tem-se a região ao nível do solo (Fig. 15) acometida por 15 manifestações patológicas, que foi marcada pela incidência mais corrente de danos como o descolamento de cerâmica (40%) e manchas de eflorescência (40%), atribuídos à presença de umidade ascensional. Verificaram-se danos nesta região, apenas no edifício E. 
Figura 15: Incidência geral de danos ao nível do solo nos edifícios.

Considerações Finais
- O tipo de investigação adotado neste estudo é de essencial importância a fim de garantir a qualidade e o desempenho do edifício exigido pelo usuário, bem como no sentido de colaborar para a prevenção de danos potenciais, a partir da elaboração de projetos, visto que funciona como ferramenta de retroalimentação;
- As regiões tipificadas da fachada em ordem se incidência de danos foram: 1º em torno das aberturas, 2º sobre paredes contínuas, 3º acerca das juntas, 4º nos cantos e extremidades, 5º na transição entre os pavimentos, 6º no topo, 7º em sacadas e 8º próximo ao nível do solo.
- O mapeamento dos danos e sua incidência permitiram identificar as regiões tipificadas da fachada mais críticas no que se refere à incidência de manifestações patológicas, fato importante na constatação do mecanismo de deterioração e para confecção do diagnóstico. O descolamento de placas cerâmicas foi o dano mais corrente identificado, sendo este mais intenso sobre paredes contínuas. 

Referências
[1] BAUER, E; BEZERRA, N. M.; CASTRO, E. K. de. Relatório técnico: n.º 06050020-a. Laboratório de Ensaios de Materiais, UnB, Brasília, 2006a.
[2] GASPAR, P.; BRITO, J. de. Mapping Defect Sensitivity in External Mortar Renders, in: Journal of construction and building materials, Vol. 19(8), (2005), p. 571-578. Disponível em: linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S09 50061805000322 acesso em: 31 de julho 2008.
[3] ANTUNES, G. R. Estudo de manifestações patológicas em revestimentos de fachada em Brasília – Sistematização da incidência de casos Dissertação (Mestrado em Estruturas e Construção Civil) – Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, UnB, Brasília, (2010), 166p.
[4] BAUER, E.; CASTRO, E. K. de; LEAL, F. E.; JOFFILY, I. Relatório técnico: n.º 09070253-b. Laboratório de Ensaio de Materiais, UnB, Brasília, (2009).
[5] BAUER, E; BEZERRA, N. M.; CASTRO, E. K. de. Relatório técnico: n.º 06090072-c. Laboratório de Ensaios de Materiais, UnB, Brasília, (2006)b.
[6] BAUER, E; BEZERRA, N. M.; CASTRO, E. K. de. Relatório técnico: n.º 07050058-b. Laboratório de Ensaio de Materiais, UnB, Brasília, (2007).
[7] BAUER, E; BEZERRA, N. M.; CASTRO, E. K. de. Relatório técnico: n.º 06110140-b. Laboratório de Ensaios de Materiais, UnB, Brasília, (2006)c.













sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Brincando com a Termografia de Infra-vermelho

Prezados, bom dia !!

Já fazem alguns meses que estamos do Laboratório de Ensaio de Materiais (UnB) trabalhando com a técnica de Termografia de Infra-Vermelho  na avaliação de edifícios. Nossa linha de investigação inicial é a busca de ferramentas e técnicas específicas para o diagnóstico de patologias na envoltória do edifício.
Alguns grupos de pesquisa no país já tem trabalhado com a técnica. Cito aqui os trabalhos coordenados pelo prof. Ivo Padaratz na UFSC, da profa. Angela Masuero na UFRGS, e da Profa Helena Carasek na UFG. Peço desculpas se esqueci alguém, ou se não conheço outros trabalhos no Brasil.
Recentemente conheci os trabalhos dos professores Ines simões e Nuno Simões no ITeCons em Coimbra. Também mencionamos os trabalhos do prof Vasco Peixoto e da profa Eva Barreira na Universidade do Porto (FEUP)  
Busco criar uma discussão saudável no tema, pelo que peço aos colegas sua contribuição aqui no blog.
Abaixo, mostro um conjunto de 4 imagens. As primeiras 2 referem-se a uma fachada umedecida logo após uma pancada de chuva. As fotos 3 e 4 Mostram um detalhe de uma caixa de escadas do edifício. Observem a riqueza de informações que podemos obter com os mais diferentes interesses (identificação dos elementos estruturais, identificação de fissuras, gradientes térmicos, etc.)
Obviamente isso são potencialidades e as metodologias específicas estão sendo estudadas pelos diferentes grupos de pesquisa. Vamos divulgar o que temos encontrado?
Atenciosamente,
prof. Elton Bauer
matandmat.blog@gmail.com

Figura 1 - Imagem térmica logo após incidência de chuva

Figura 2 - Fotografia digital obtida no mesmo momento da Figura 1

Figura 3 - Imagem térmica identificando os elementos estruturais (caixa de escada)
Figura 4 - Fotografia digital obtida no mesmo momento da Figura 3 


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ARTIGO TÉCNICO - AT 08: RETRAÇÃO DO CONCRETO


O tema aqui apresentado é RETRAÇÃO POR SECAGEM. Esse estudo fez parte da pesquisa de doutoramento da Profa. Giana Sena Rodrigues, e trás uma contribuição muito relevante na avaliação experimental da retração.
Boa leitura a todos
Prof. E. Bauer

leia mais:
Giana Sousa Sena Rodrigues. Contribuição ao estudo da retração e da fluência e seus mecanismos de atuação a baixas idades em concretos estruturais. 2010. Tese (Estruturas e Construção Civil) - Universidade de Brasília
Disponível em:






Retração por Secagem a Baixas Idades em Concretos Estruturais 

Giana Sousa Sena Rodrigues (1); Elton Bauer (2)

(1)   Professora Dra., Departamento de Engenharia Civil – PUC-GOIÁS gianasena@uol.com.br
(2)   Professor Dr, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil - UnB elbauerlem@gmail.com

1 Introdução 


Após as etapas de mistura e lançamento, o concreto encontra-se submetido a intensas alterações internas devido a gradientes de origens térmicas e higro-térmicas. Ao mesmo tempo, encontra-se afetado por condições externas que dependem, principalmente, dos efeitos do meio ambiente no qual as estruturas encontram-se inseridas. A junção dos efeitos ocasionados pelas ações internas e externas sobre o concreto pode levar a deformações autógenas e térmicas, além de retração por secagem e fluência. Quando as deformações apresentadas pelo elemento estrutural de concreto excedem sua capacidade de deformação por tração, ocorre a formação de fissuras. A abertura, número e quantidade dessas fissuras podem limitar a capacidade de serviço da estrutura de concreto e exercer um efeito crucial sobre sua durabilidade frente à ação de agentes deletérios. 
A fissuração do concreto a baixas idades, seja pelo desenvolvimento excessivo de deformações por fluência ou pelo fenômeno da retração, pode não influenciar a segurança estrutural imediatamente, mas afeta a durabilidade a longo-prazo da estrutura por facilitar o ingresso de agentes deletérios para a parte interna do concreto. Cabe salientar que a durabilidade das estruturas de concreto e materiais cimentícios é altamente influenciada pelos estágios iniciais de hidratação. Assim, o melhor conhecimento acerca das propriedades micro-mecânicas durante o processo de hidratação do cimento e a baixas idades do concreto proverá informações sobre as alterações volumétricas incidentes, em especial no que diz respeito ao desenvolvimento da retração e fluência. 

1.1 Retração por Secagem

O efeito físico da retração está sempre associado a uma contração volumétrica na estrutura da pasta de cimento, decorrente de fenômenos de diferentes naturezas (autógena, química, térmica, por carbonatação), mas principalmente pela perda de água por evaporação. Além disso, a retração pode ocorrer em diferentes fases do endurecimento do compósito e ser impedida de ocorrer livremente, conforme a restrição imposta pela construção ao elemento de concreto. Em suma, a retração total do concreto é resultado de vários tipos de retração que podem ocorrer simultaneamente, durante a vida útil da estrutura, conforme ilustrado no esquema da Figura 1 (BASTOS & CINCOTTO, 2000).
Segundo Bisschop (2003), a retração por secagem pode ser definida como uma deformação dependente do tempo devida à perda de água em condições de temperatura e umidade relativa constantes. Embora a retração por secagem tenha sido extensivamente investigada em pastas e concretos convencionais de cimento Portland, a exemplo da retração autógena, seus mecanismos básicos de desenvolvimento ainda não foram precisamente estabelecidos. De acordo com o autor, para traços convencionais, os principais mecanismos de retração propostos seriam: (i) energia de superfície livre; (ii) teoria da pressão capilar; (iii) movimento da água interlamelar e (iv) teoria da variação da pressão de disjunção. De forma geral, o consenso é de que mais do que um destes mecanismos pode estar envolvido no desenvolvimento da retração por secagem, dependendo basicamente dos valores de umidade relativa no ambiente onde o elemento (pasta de cimento ou concreto) esteja inserido. 

No que diz respeito ao comportamento dos concretos convencionais, Jensen (1995) afirma que normalmente a umidade relativa em sistemas cimentícios não atinge valores inferiores a 75%, de forma que os mecanismos da variação da energia de superfície e da pressão de disjunção não afetariam o comportamento de grande parte dos concretos convencionais frente ao desenvolvimento da retração por secagem. Assim, estima-se que a variação da pressão capilar seja o mecanismo mais adequado para a explicação do fenômeno. 
Segundo este mecanismo, a capilaridade gera interfaces curvas entre o fluido (água) e o ar contido no interior dos poros. Na interface líquido-gás desenvolve-se um gradiente de pressão designado por pressão ou depressão capilar, que é função da tensão superficial líquido-gás, do raio de curvatura e do ângulo de molhamento (SANTOS et al., 2007). Pode-se definir a pressão capilar como a diferença entre a pressão atmosférica que atua acima do menisco formado entre as paredes num poro capilar, devido à tensão superficial entre o líquido e a parede sólida, e a pressão abaixo do menisco do mesmo poro capilar. Assim, quanto mais estreitos forem os poros em processo de esvaziamento, maior a intensidade da pressão capilar. Com a redução da umidade relativa e conseqüente secagem do material, ocorre primeiramente a criação de meniscos dentro dos capilares, seguida da diminuição progressiva do raio de curvatura desses meniscos, como forma de manter o equilíbrio entre o líquido e a fase gasosa. Desenvolve-se então uma diferença de pressão entre a fase líquida e a fase gasosa que se acentua à medida que a secagem se intensifica. Conseqüentemente, a depressão do líquido deve ser globalmente equilibrada por uma retração do sólido. Em outras palavras, o mecanismo de variação da pressão capilar ocorre pelo fato de que, em uma rede capilar não saturada, a fase líquida é tracionada devido à criação de um menisco na interface líquido-gás, que induz a pressão negativa sobre as paredes dos capilares, tendendo a aproximá-las. A retração macroscópica observável é proveniente da compressão à qual o sólido é submetido (SILVA, 2007). No concreto, a água dos meniscos apresenta uma curvatura entre as partículas mais próximas da superfície ou do ponto onde a pressão do ar alcança internamente a mistura, conforme mostrado no esquema da Figura 2.

Assim, quando ocorre perda de água na pasta de cimento, ocorre movimentação capilar da água nos poros capilares. Como conseqüência, há o desenvolvimento de tensões hidrostáticas que induzem tensões de compressão no interior da estrutura sólida. As tensões hidrostáticas são desenvolvidas quando um menisco é formado no capilar. Quanto menor o raio do menisco, maior é a pressão capilar. A umidade relativa também determina o valor do raio do menisco; com umidade relativa abaixo de 40 a 45 % não existem tensões capilares, pois nesta situação os meniscos não são estáveis (MINDESS e YOUNG, 1981). Ishai (1968) apud Kovler & Zhutovsky (2006) afirmou que o mecanismo da pressão capilar ocorre para valores de umidade relativa superiores a 40%, devido à continuidade da água capilar, que favorece o desenvolvimento de maiores tensões internas na rede capilar. Baroghel-Bouny (1994) concorda que o mecanismo da pressão capilar é válido pelo menos em fortes umidades relativas, ou seja, quando os poros capilares estão cheios de líquido. 


2 Metodologia


2.1 Variáveis Aplicadas

Visando analisar a retração por secagem medida através do ensaio prescrito pela ASTM C 157/2004 (para corpos-de-prova imersos em água durante 28 dias) foram escolhidos concretos com resistência à compressão estimada aos 28 dias de 20, 35 e 50 MPa, denominados, respectivamente, C1, C2 e C3. Nesta pesquisa, foram escolhidos patamares de resistência mais utilizados nas obras de pequeno, médio e grande porte da região da Grande Goiânia, através de consulta a empresas especializadas na produção de concreto.

2.2 Materiais Utilizados e Concretos Produzidos

O aglomerante hidráulico empregado foi um cimento Portland CP V, produzido e fornecido diretamente para indústrias de produção de concreto, cuja caracterização encontra-se na Tabela 1. Os agregados miúdos utilizados foram do tipo areia natural de leito de rio e areia artificial (proveniente de rocha britada). Utilizou-se ainda agregado graúdo com dimensão máxima característica referente a britas 0 e 1. As características físicas dos agregados graúdo e miúdo estão relacionadas na Tabela 2. 


Tabela 1 – Caracterização física, química e mecânica do cimento Portland CP V utilizado na pesquisa (Laboratório de Ensaios da Cimento Tocantins S/A).



Tabela 2 – Características Físicas dos Agregados Utilizados na Pesquisa.

Para obtenção dos corpos-de-prova utilizados na pesquisa, foram utilizados traços fornecidos por indústria especializada na produção de concreto para a região da Grande Goiânia, possibilitando, desta forma, avaliar o desenvolvimento da retração por secagem em concretos aplicados nas obras de médio e grande vulto na região. Além dos materiais listados e caracterizados anteriormente, foram utilizados aditivo plastificante polifuncional retardador de pega, com características conforme listado na Tabela 3 e micro-sílica, com caracterização conforme listado na Tabela 4. Os traços utilizados e parâmetros de mistura dos concretos estudados encontram-se listados na Tabela 5. 

Pela análise da Tabela 5 verifica-se que os parâmetros de dosagem escolhidos pela concreteira se baseiam no aumento da quantidade de cimento das misturas e no incremento do uso do aditivo polifuncional, de forma a reduzir o consumo de água e a relação água/cimento. Além disso, especificamente para o traço de resistência estimada igual a 50 MPa (C3), foi inserido o uso da sílica ativa, a fim de proporcionar o aumento da resistência pela reação pozolânica.
Para cada um dos três traços de concreto selecionados, foram moldados três corpos-de-prova prismáticos, com dimensões de 75mm x 75mm x 285mm. Os concretos foram produzidos numa sala com temperaturas registradas no intervalo de 21 ± 2 ºC, com constituintes também nessa temperatura. 





2.3 Ensaio Realizado

Conforme mencionado no item anterior, a produção dos concretos foi realizada numa sala com temperatura registrada, seguindo-se a moldagem de três corpos-de-prova prismáticos, adensados em duas camadas, provenientes de uma mesma amassada. Os prismas para este ensaio tinham as dimensões de 75mm x 75mm x 285mm. Imediatamente após a moldagem, os corpos-de-prova de concreto permaneceram em ambiente úmido até a idade 24 h, quando foram desformados e imediatamente imersos em água saturada com cal. Depois de 30 minutos, os corpos-de-prova foram retirados, um de cada vez, enxutos com pano úmido, procedendo-se à leitura de referência no relógio comparador, conforme mostrado na Figura 3, correspondendo à deformação zero, dentro de uma sala com registros de temperatura situados no intervalo 21 ±2 ºC. Em seguida, retornaram para o recipiente com água saturada de cal e permaneceram submersos por 28 dias. Decorrido esse período, procedeu-se à leitura final de cura no relógio comparador, na sala climatizada. Após a leitura de 28 dias de cura, os corpos-de-prova foram armazenados ao ar, numa sala com registros de umidade relativa no intervalo de 50% ± 2% e temperaturas de 21 ± 2 ºC, com secagem nas 6 faces dos prismas. Para cada corpo-de-prova foram realizadas leituras no relógio comparador até idades próximas aos 50 dias. O cálculo da retração foi realizado de acordo com a Equação 1.


                                           
Onde:
εsec = deformação unidirecional, após a desforma com corpo-de-prova não selado, para determinação da retração por secagem após 28 dias de imersão em água com cal;
L0c = leitura inicial no extensômetro acoplado à base de medida, após a desforma;
Lic = leituras no extensômetro do aparelho comparador, no tempo i;
G = comprimento de referência para cálculo da deformação por secagem.




Figura 3 – Esquema da determinação da variação relativa de comprimento após os 28 dias de cura submersa (adaptado de SILVA, 2007).

Pelo ensaio da ASTM C 157 (2004), com o início da secagem aos 28 dias, o incremento de deformação é a soma da retração autógena e de secagem, onde a contribuição da primeira é esperado que seja desprezível. Essa hipótese simplificadora é fundamentada no fato da retração autógena apresentar maior intensidade nas primeiras idades, diminuindo sua magnitude com o tempo. Muitas vezes se encontram na literatura técnica os resultados provenientes desse método de ensaio com a terminologia de retração por secagem, feito para fins de simplificação, embora seja sabido que há uma parcela de retração autógena embutida no resultado. Assim, nesta pesquisa é usada a nomenclatura retração por secagem, embora seja conhecido que há uma parcela embutida de retração autógena. É importante mencionar, também, que esse ensaio não considera a deformação autógena + térmica ocorrida nas primeiras 24 horas, já que a determinação se inicia após essa idade. Se a deformação térmica pode ser desprezível em função dos motivos mencionados, a retração autógena nesse período é de magnitude expressiva (Aïtcin, 1998). 


3       Apresentação e Discussão dos Resultados



3.1 Resistência à Compressão

A resistência à compressão dos concretos C1, C2 e C3 foi determinada em corpos-de-prova cilíndricos, com dimensões 100mm x 200mm, nas idades de 3, 7 e 28 dias, conforme prescrições da NBR 5739 (1994). Para determinação da resistência à compressão de cada um dos traços em estudo, foi realizado o cálculo da média entre os resultados dos dois corpos-de-prova ensaiados. Conforme citado anteriormente, os traços em estudo foram escolhidos a fim de obter os valores de resistência característica mais utilizados em obras convencionais, após pesquisa entre empresas especializadas na mistura e fornecimento de concreto. Assim, os traços escolhidos abrangiam valores de resistência característica de 20 MPa (C1), 35 MPa (C2) e 50 MPa (C3). Os resultados demonstram que as resistências apuradas para a idade de 28 dias atingiram os valores de 23,78 MPa para C1, 44,27 MPa para C2 e 58,65 MPa para C3. Especificamente em relação ao concreto C2, salienta-se que, já aos 7 dias de idade o concreto já havia atingido resistência característica de dosagem estipulada para os 28 dias. Como os concretos avaliados foram obtidos com o uso de traços fornecidos por indústria especializada na produção de concreto para a região da Grande Goiânia, vislumbra-se o fato de que, devido tanto às características de dosagem como ao tipo de cimento utilizado, foram produzidos concretos com resistências superiores aos patamares almejados. As resistências apuradas foram aproximadamente 18,9%, 26,5% e 17,3% que os valores de resistência característica (fck) de dosagem. Na Figura 4 ilustra-se o desenvolvimento de resistência à compressão das misturas em estudo, para 3, 7 e 28 dias.




3.2 Retração por secagem

3.2.1 Variação Relativa de Massa de Água

Nos concretos C1, C2 e C3, após 28 dias de cura submersa, os corpos-de-prova apresentaram um aumento expressivo de massa, igual à 13,4%, 12,1% e 11,4%, respectivamente. A partir da leitura de ganho de massa (imediatamente após a retirada dos corpos-de-prova da cura submersa) e até o final das leituras efetivadas, a variação de massa de água, em relação à massa total, atingiu os valores mínimos de -9,77%, para o concreto C1, de -3,3%, para o concreto C2 e de -2,06%, após aproximadamente 50 dias de secagem. O gráfico da Figura 5 ilustra o comportamento da saída de água para o ambiente de laboratório. Cada resultado médio da variação de massa de água correspondeu à média aritmética de três resultados individuais.




A análise dos valores de variação relativa de massa de água permite identificar a tendência linear para a saída de água dos corpos-de-prova, independentemente do tipo de concreto analisado. No entanto, a adequação desta linha de tendência foi prejudicada pela saída mais acentuada de água durante os primeiros dias de secagem. Como os corpos-de-prova permaneceram em cura submersa durante 28 dias, o estabelecimento inicial do equilíbrio da umidade interna dos corpos-de-prova com o ambiente de laboratório ocasionou este comportamento. Nota-se, pelo aspecto do gráfico, que esta tendência se suaviza até os 12 dias de secagem e que, a partir deste ponto, existe outro comportamento de secagem, menos acentuado, até o final das medidas registradas. 

3.2 Valores Médios

A retração média dos corpos-de-prova, determinada imediatamente após os 28 dias de cura submersa, foi de -9,6 x 10-6, para o concreto C1, de -18,03 x 10-6, para o concreto C2 e de -21,33 x 10-6, para o concreto C3. Essa retração é a soma das parcelas autógena e térmica, em relação à leitura inicial, realizada com 24 horas após a moldagem. Desta forma, os valores de retração por secagem analisados neste item não incluem os valores de retração devidos às deformações autógena e térmica, que foram descontadas, conforme prescrições da ASTM C 157 (2004). Na Figura 6 ilustram-se os resultados médios de retração por secagem dos prismas, em função do tempo de secagem, para os concretos C1, C2 e C3. Os resultados apresentados correspondem à média aritmética dos resultados individuais. 


A adequação de curvas de tendência logarítmica aos valores apurados de retração por secagem após cura submersa resultou em coeficientes de determinação significativos, da ordem de 0,94, 0,95 e 0,93, para os concretos C1, C2 e C3, respectivamente. A partir dos dados obtidos e das curvas logarítmicas aplicadas estatisticamente, pode-se visualizar que o comportamento comumente visualizado para o desenvolvimento da retração (função logarítmica da idade) se verifica satisfatoriamente.  Na Tabela 6 encontram-se detalhados os valores médios de retração por secagem (descontados os valores de retração autógena + térmica dos dias de cura submersa) para os concretos em estudo. 


A análise dos resultados de retração por secagem expostos na Tabela 6 indica que o concreto C2 apresentou maiores valores de retração após 29 dias de secagem. Embora a diferença entre os valores apurados para retração após 53 dias de secagem tenham sido bastante próximos para os três concretos (diferença máxima de 12,8%), o comportamento foi contrário a alguns dados coletados na literatura pertinente. Segundo vários autores (Melo Neto, 2002; Pietra et al., 2003, Kalintzis & Kuperman, 2005; Esping, 2007), com o aumento da relação água/cimento, aumenta tanto o número de poros como a quantidade de água que se movimenta na rede de capilares, contribuindo para o aumento das pressões hidrostáticas capilares.  Tomando como mecanismo básico da retração por secagem em umidades relativas acima de 50%, a aproximação das camadas de C-S-H através de forças hidrostáticas, uma pasta com maior relação água/cimento apresenta maior espaço médio entre os compostos hidratados. Assim, durante o desenvolvimento da retração, maior distância será percorrida pelas partículas durante sua aproximação e, portanto, maior será a contração volumétrica. No entanto, pelos resultados apurados, infere-se que a influência da grande disponibilidade de água livre nos microporos do material (após 28 dias de imersão em água) pode ter se sobreposto ao efeito da relação água/cimento, ocasionando o comportamento. Além disso, pode-se contabilizar que existe, mesmo após os 28 dias, uma parcela de retração, contabilizada como secagem, mas que se deve à auto-dessecação do concreto, principalmente nos traços de baixa relação água/cimento (C2 e C3). Portanto, o fenômeno contabilizado no ensaio como retração por secagem pode ser entendido como retração total, devido à soma das parcelas autógena e por secagem. Pelos resultados plotados no gráfico, verifica-se que, até aproximadamente 20 dias de secagem, a retração por secagem desenvolve-se segundo um regime de velocidade mais acentuada. A partir deste ponto e até o final das leituras, os valores registrados indicaram outro regime de desenvolvimento.  

4 Considerações Finais


A retração por secagem da mistura C3 (relação água/aglomerante igual a 0,47) foi aproximadamente 11% menor que para a mistura C1 (relação água/cimento igual a 0,70), aos 53 dias. Esta mistura também demonstrou menores leituras de retração por secagem inicial (24 horas) e intermediárias. Este comportamento foi semelhante aos resultados apurados por vários pesquisadores (Weiss, 1999; Esping, 2007, Silva, 2007). Somente por estes resultados, pode-se inferir que a redução na relação água/cimento corresponde a uma redução na retração por secagem, embora essa redução não influencie a magnitude da retração total (devido ao incremento da retração autógena nas misturas de menor relação água/cimento). No entanto, para o concreto C2, a análise dos resultados de retração por secagem expostos indicaram maiores valores de retração após 29 dias de secagem, comparativamente ao concreto C1. Deste resultado isolado, infere-se que a influência da grande disponibilidade de água livre preenchendo os poros do material (após 28 dias de imersão em água) se sobrepôs ao efeito da relação água/cimento, ocasionando o comportamento.
Pelo ensaio prescrito pela ASTM C 157 (2008), com o início da secagem aos 28 dias, o incremento de deformação é a soma da retração autógena e de secagem, onde a contribuição da primeira é esperada que seja desprezível. Essa hipótese simplificadora é fundamentada no fato da retração autógena apresentar maior intensidade nas primeiras idades, diminuindo sua magnitude com o tempo. Além disso, este ensaio não considera a deformação autógena + térmica ocorrida nas primeiras 24 horas, já que a determinação se inicia após essa idade. Cabe salientar que, se a deformação térmica pode ser desprezível em função dos motivos mencionados anteriormente, a retração autógena nesse período ainda se apresenta com magnitude expressiva, podendo ocasionar a variação dos resultados retromencionados.

5 Referências Bibliográficas


AÏTCIN, P. C. Autogenous shrinkage measurement. In: E. Tazawa (ed), Autoshrink’ 98, Proceedings of the International Workshop on Autogenous Shrinkage of Concrete, Hiroshima, June, pp. 245-256, 1998.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM C157: Standard Test Method for Length Change of Hardened Hydraulic-Cement Mortar and Concrete. Philadelphia, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro: 1994.

BAROGHEL-BOUNY, V. Caracterization des pâtes de ciment et des bétons: methodes, analyse, interpretations. Thése de doctorat de L.C.P.C., Paris, 1994.
BASTOS, P. K. X.; CINCOTTO, M. A. Retração de compósitos à base de cimento. 2000. Disponível em: http://www.ibracon.org.br/arquivos/rev25a.pdf. Acesso em 09 mai. 2002.

BISSCHOP, J., Drying shrinkage cracking at early ages. In: A. Bentur (ed), Proceedings of the early age cracking in cementitious systems, RILEM, France, pp. 27-33, 2002.

ESPING, O. Early age properties of self-compacting concrete: effects of fine aggregate and limestone filler. Doctoral Thesis, Sweden, 2007.

JENSEN, O. M. Thermodynamic limitation of self-desiccation. Cement and Concrete Research, v. 25, n. 1, pp. 157-164, 1995.

KALINTZIS, C.A.; KUPERMAN, S.C. Fluência e retração por secagem de concreto de elevada resistência. Revista Concreto, São Paulo, Ano XXXIII, p.58-63, mar., abr., mai, 2005.

KOVLER, K.; ZHUTOVSKY, S. Overview and future trends of shrinkage research. Materials and Structures, v. 39, pp. 827-847, 2006.

SANTOS, F. I. G.; ROCHA, J. C.; CHERIAF, M. Influência da cinza pesada empregada em substituição ao agregado natural nos mecanismos de transferência de umidade em argamassas. Revista Matéria, v. 12, n. 2, 2007.

SILVA, E. F. Variações dimensionais em concretos de alto desempenho contendo aditivo redutor de retração. 2007. 332 p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – COPPE, Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

MELO NETO, A. A. Influência de aditivos redutores e compensadores de retração em argamassas e pastas com cimento de escória ativada. 2008. 307 p. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

MINDESS, S.; YOUNG, J. F. Concrete. Ed. Prentice-Hall. 1 ed., New Jersey, 1981.

PIETRA, I.F.D.; HELENE, P.R.L.; FIGUEIREDO, A.D. Influência da dosagem na retração por secagem em concretos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 45., Vitória, 2003. Anais. São Paulo: IBRACON, 2003.

WEISS, J. Prediction of early-age shrinkage cracking in concrete. Doctoral Thesis, Evanston, 1999.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fatores de Degradação - Estudo da Vida Útil



VIDA ÚTIL DOS EDIFÍCIOS E DAS CONSTRUÇÕES - FATORES DE
 DEGRADAÇÃO (PARTE 2)


Fator de degradação é  qualquer   fator ou agente   que afete de maneira desfavorável o desempenho  de  um edifício ou de suas partes, incluindo aí as intempéries, agentes biológicos, esforços,    incompatibilidade e fatores de uso.  Ao se observar a curva de degradação dos materiais ou elementos do edifício, evidencia-se que o desempenho cai ao longo do tempo. Por que ele cai? Cai devido a ação continuada ao longo do tempo dos fatores de degradação.

A figura 1 ilustra a ação de alguns fatores sobre as alvenarias que compõem a fachada dos edifícios. Observa-se que alguns fatores agem de forma permanente (como por exemplo o carregamento estático), outros fatores tem variação cíclica (como por exemplo a variação da temperatura superficial por efeito da radiação solar), e outros tem ação aleatória (como por exemplo a chuva dirigida sobre as fachadas).


Figura 1 - Diversos fatores de degradação atuantes sobre alvenarias de fachada


Alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração na análise dos fatores de degradação:

Variam de acordo com sua localização geográfica no mundo, país, cidade, posição na edificação (condições climáticas, posição relativa, sócio-culturais). Em determinadas culturas certas deteriorações são consideradas normais, o que não é aceito em outras culturas (diferentes níveis de exigências)
A importância dos fatores varia  de   acordo  com  o material em análise e a função que  ele  desempenha. A ação de determinados fatores leva a falhas mais graves ou maior intensidade de degradação do que outros.
Efeito sinergético entre os diversos fatores. Sempre teremos a ação simultânea de vários fatores de degradação. A ação simultânea pode aumentar ou diminuir a intensidade de degradação. Exemplificando, a incidência solar sobre uma pintura de fachada causa a foto-decomposição pelo efeito da radiação UV. Essa reação química (como toda a reação química) aumenta em sua cinética (velocidade) pelo aumento da temperatura oriundo da incidência solar. Assim, nesse exemplo, o efeito sinérgico entre os fatores tem  como resultado uma intensidade de degradação maior.
Previsão da intensidade de cada fator em serviço. Esse é o maior desafio na análise da degradação.

Vários estudos buscam associar a degradação aos principais fatores. Sabidamente, quanto maior a intensidade de um fator crítico, mais intensa a deterioração e menor a vida útil.
A questão parece ser clara, ou seja, temos de identificar, classificar, medir, prever o efeito dos fatores de degradação sobre o edifício e suas partes. Isso é bem complexo, e pode ser exemplificado pela análise necessária a ser feita em um edifício. Colocando de forma muito simplificada,  temos de responder:

Qual o efeito do clima e macro-clima  em função das orientações das fachadas. 
Qual a direção principal na qual ocorre a maior incidência de chuva dirigida.
Em quais andares o efeito térmico é mais proeminente como agente de deterioração.
Qual a influência do uso e da manutenção dada pelo usuário.
Como associar a intensidade de deterioração e a incidência de ocorrência de falhas com a ação e   identificação dos fatores de degradação.
Qual a influência da tipologia e do processo construtivo na relação fatores-degradação. 

Exemplificando somente uma situação, a figura 2 mostra a imagem de termografia de infravermelho de uma fachada qualquer, mostrando as temperaturas observadas. A incidência solar nesse caso é a mesma, mas a resposta térmica em termos de temperatura superficial é muito diferenciada (superior a 10º C) para os materiais que compõem a fachada.



Figura 2 - Fotometria de infra-vermelho mostrando diferentes temperaturas de fachada sob incidência do sol

De forma muito simples, pode se fazer um check list  dos principais fatores de degradação dos edifícios, conforme listado a seguir:

1. Fatores atmosféricos
- Radiação (Solar, nuclear, térmica)
- Temperatura (elevação, depressão, ciclos)
2. Fatores biológicos
  - Microorganismos
     - Fungos
     - Bactérias
Figura 3 - Exemplo de ação de microorganismos sobre a fachada


3. Fatores de carga (stress)
    - Esforço de sustentação contínuo;
    - Esforço periódico;
    - Esforço randômico (fenômenos ou processos aleatórios);
    - Ação física da água como chuva, granizo e neve;
    - Ação física do vento;
    - Combinação da ação física do vento e da água;
    - Movimento de outros agentes, como veículos.
4. Fatores de incompatibilidade
    - Químicos;
     - Físicos.
5. Fatores de uso
    - Projeto do sistema;
    - Procedimentos de instalação e manutenção;
    - Desgaste  por uso normal;
    - Abuso no uso (inobservância da manutenção).


Outro aspecto importante e complicador da análise, diz respeito as diferentes respostas dos materiais e elementos componentes do edifício aos fatores de deterioração. Os materiais metálicos, particularmente os ferrosos embora tenham grandes respostas às solicitações mecânicas, apresentam grande suscetibilidade à corrosão eletroquímica e superficial. Assim, ao se empregar materiais ferrosos expostos á chuva, por exemplo, uma das principais preocupações é com a proteção contra a corrosão ( e esse é um dos principais mecanismos de deterioração desses metais).

Tem-se portanto, diferentes mecanismos de degradação em função do nível de exposição dos materiais e elementos aos fatores de degradação, e também em função das peculiaridades (físico, químicas) da degradação de cada material. Assim, quanto aos mecanismos de degradação pode-se colocar que:

O mecanismo se desenvolve pela ação dos fatores ou agentes de degradação associado a um material ou elemento do edifício;
É particular as condições de exposição (macro e micro) e ao nível de incidência dos fatores
É particular as características físico-químicas dos materiais e elementos
A queda de desempenho geralmente é identificada por indicadores físico-químicos (ruptura, descolamentos, umidades, etc...)

Pensando agora em vida útil, é óbvio que os fatores de degradação, quanto a sua: natureza, intensidade, forma de ação; influenciam na via útil por serem basicamente as “ações de degaste” que diminuem o desempenho ao longo do tempo. Temos de projetar os edifícios com o olho nesses fatores. Insere-se aqui a definição da vida útil de projeto, que será um dos nossos próximos temas de discussão.

Referências:
Usei aqui nossas referências de aulas (notas de aulas) que desenvolvemos ao longo dos anos nas disciplinas Patologia das Construções, Degradação de Edifícios, as quais foram todas concebidas e apriomoradas ao longo do tempo em parceria com o colega prof. Antonio Alberto Nepomuceno.


Continuaremos brevemente nosso bate papo, agora falando dos mecanismos de degradação (ou deterioração) do edifício.
Até breve,
Prof. Elton Bauer (matandmat.blog@gmail.com)