sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ARTIGO TÉCNICO AT 29/2014 - PARÂMETROS NORMATIVOS DAS ARGAMASSAS - PARTE 1

Com a premência de evolução normativa das argamassas e sistemas de revestimento apresentamos um estudo desenvolvido pela equipe do Laboratório de Ensaio de Materiais da UnB e do PECC/UnB, revisando várias normas de origem americanas (sul, central e norte), bem como algumas normas européias. O presente estudo foi desenvolvido pelo Prof. Elier Pavón (Professor do Instituo Superior Politécnico José Antonio Echeverría - Cuba) o qual desenvolve seu doutorado no PECC-UnB. Elier é  membro da comissão do materials and materiais.
A idéia com esse trabalho é iniciar um levantamento, pelo que sempre espero a contribuição de todos os amigos.

Boa Leitura,
Prof. E. Bauer (materials and materiais)



PARÂMETROS NORMATIVOS DAS ARGAMASSAS - PARTE 1

Elier Pavon; Elton Bauer.
LEM/PECC-Universidade de Brasília


Adaptação: Prof. E. Bauer (mat and mat)

INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

Neste estudo buscou-se uma analise das normas internacionais em argamassa focando-se nos requisitos exigíveis conforme cada texto normativo.  Tem-se como principal objetivo mostrar os parâmetros estabelecidos nas normativas, relativos a dosagem das argamassas, os limites de aceitação das propriedades especificadas e as recomendações para o emprego das mesmas, em função da sua classificação. 

São mostradas as principais normas internacionais como é o caso da ASTM e da EN, além de algumas normativas da região (America do Sul e Central). Foi possível concluir que as principais diferenças encontram-se nos aspectos relativos ao tipo e quantidade de propriedades avaliadas nas normativas para definir as aplicações das mesmas.  

As normas que estão sendo estudadas, são as de requisitos de alvenaria, que geralmente cobrem as argamassas de assentamento e de revestimento. A maioria das normas refere-se só, as argamassas de alvenaria, separando-as das argamassas com função estrutural e das argamassas colantes. 
Na tabela 1 mostra-se as referencias normativas atuais e as normativas que foram analisadas em o estudo. Note-se que estão incluídas normas da Europa, America Latina e Estados Unidos.


Tabela 1. Normas de especificação de argamassas.



DESENVOLVIMENTO


Norma ASTM (Estados Unidos de America)

A norma de especificação de EU é a ASTM C270: 12a. Esta especificação cobre as argamassas para uso na construção de unidades estruturais de alvenaria, não- reforçadas e reforçadas. Quatro tipos de argamassa são cobertas em cada uma das duas alternativas: (1) as especificações de mistura e (2) as especificações de propriedades. É importante enfatizar que essa norma especifica tanto argamassas de assentamento de alvenaria, como também argamassas de revestimento.
Em relação às especificações da mistura, ela estabelece uma tabela com as proporções para três tipos de cimento, expressada como uma proporção em volume (Tabela 2). 

Tabela 2 - Dosagem especificada das argamassas (volume)

Observe-se que são propostas de dosagem para três tipos de cimento, onde limita-se a relação cal/cimento para esse tipo de argamassa (cement-lime) y relação agregado/cimento, só para o caso de  argamassa feitas com cimento para alvenarias.
Como tem especificado traços para argamassas, também especifica-se a distribuição granulometria dos agregados. A tabela 3 mostra os limites.

Tabela 3 - Especificação granulométrica das areias para argamassas

Além dos limites da distribuição granulométrica da tabela 3, o agregado não pode ter mais de 50% de material retido em duas peneiras consecutivas, nem mais de 25% retido nas peneiras No. 50 y No. 100. 

A porcentagem permitido de material pulverulento (passante na peneira 75 um na areia triturada deverá ser menor ou igual a 10%; ou menor que 15 % se estiver livre de argila.

Os requisitos estabelecidos em estado fresco são os que seguem:

Trabalhabilidade

Embora em grande parte determinada pela granulometria do agregado, pela dosagem, e pelo conteúdo do ar, o ajuste final da trabalhabilidade depende da quantidade de água. A capacidade de uma argamassa de alvenaria para apresentar trabalhabilidade satisfatória sob a influência da sucção de água do bloco de alvenaria, e pela evaporação de água depende da capacidade de retenção de água e características da argamassa nos momentos iniciais pós-aplicação. Adequada trabalhabilidade é essencial para a máxima aderência com as unidades de alvenaria.

Os critérios definidos na norma são:

  • Consistência (Espalhamento na mesa): Incremento entre 105 y 115%, inicial entre 130 y 150%. A mesa de queda é levantada e cai duma altura pré-determinada (12,7 mm), 25 vezes em 15 s, girando o punho com uma velocidade uniforme. Deve se lembrar que a mesa de espalhamento é diferente da mesa especificada pelas Normas Brasileiras.
  • Penetração de cone inicial entre 50 y 60 mm. A própria ASTM C270 especifica esse ensaio. O mesmo tem sido largamente usado como parâmetro de consistência nas pesquisas do LEM/UnB.

Retenção de água, teor de ar e resistência à compressão

Capacidade de retenção de água é aumentada através do aumento da cal (o finos) ou o conteúdo do ar, além de a granulometria da areia dentro dos limites permissíveis de distribuição, ou o uso de materiais de retenção de água. Limite 75%, conforme  tabela 4. É importante mencionar que a ASTM C270 não especifica limites ou valores para aderência, diferentemente do que o faz a Norma Brasileira. 

Tabela 4 - Especificação de propriedades das argamassas




Emprego

De forma geral a recomendação da argamassa que deve ser empregada depende fundamentalmente do tipo de alvenaria, se é ou não, alvenaria portante. São especificadas para a parede portante as argamassas de maior resistência e menor teor de ar. As argamassas de acabamento (revestimento) e reparação tem recomendações para o seu emprego diferentes.

A tabela 5 apresenta as especificações para argamassas de assentamento das alvenarias.

Tabela 5 - Guia para seleção das argamassas de assentamento

Para as argamassas de revestimento as recomendações prendem-se as argamassas N e O, com opção também para a argamassa K.  A Tabela 6 traz as recomendações quanto a especificação.

Tabela 6 - Guia para seleção de argamassas de revestimento

Neste último caso a definição do emprego realiza-se dependendo da localização, se é interior ou exterior e além disso, é proposta uma alternativa para o emprego de argamassas com maiores quantidades de cal em interiores.


É possível concluir que esta normativa tem algumas especificações importantes (principalmente em relação aos materiais e em relação a trabalhabilidade), mas não trata em detalhe as propriedades. 

As recomendações de emprego  são muito gerais, com pouca especificação e detalhamento. 


Norma EN (Europa) 

As normativas de especificação da Europa são a EN 998-1: 2010 para argamassa de revestimento e a EN 998-2:2010 para argamassas de assentamento. A EN 998-1 aplica-se a argamassa de revestimento feitas em fábrica (argamassas industriais), com base aglomerantes inorgânicos usado em paredes, tetos e pilares. Esta norma contém as definições e requisitos de desempenho final.

Esta norma não abrange as argamassas em que o sulfato de cálcio (gesso) é o principal aglutinante ativo. O aglutinante de sulfato de cálcio pode ser utilizado como um aglomerante adicional para a cal hidratada. 


A presente norma (EN 998-1) aplica-se a argamassa de revestimento, com exceção das argamassas de revestimentos feitas "in situ". No entanto, a totalidade ou parte desta Norma Europeia pode ser usada em associação com os códigos aplicáveis e especificações nacionais para argamassas feitas "in situ". A mesma não tem recomendações relativas a dosagem dos materiais.

A normativa refere-se aos procedimentos que devem ser empregados na mensuração das propriedades em estado fresco das argamassas. As propriedades que devem ser controladas são a consistência, teor de ar e de cloreto, mas não são estabelecidos limites para a classificação da argamassa baseadas nessas propriedades.  


Esta normativa primeiramente apresenta uma classificação inicial para todas as argamassas empregadas como revestimento. São avaliadas três propriedades que mostra-se na seguinte tabela. As três propriedades são determinadas em estado endurecido. 

Tabela 7 - Propriedades Classificatórias das Argamassas (EN 998-1)


Além desta primeira classificação, estabelece-se as propriedades relevantes e os valores por tipo de argamassa, os quais são usados para definir a conformidade da argamassa de acordo com o seu tipo. Estes são os requisitos exigidos para cada tipo de argamassa de revestimento.

Tabela 8 - Requisitos e Especificação de Uso das Argamassas de Revestimento(EN 998-1)


Das normativas consultadas estas são as que mais propriedades estabelece para a avaliação das argamassas, no entanto, não define com clareza dentro de cada tipo de argamassa a sua aplicação em função das condições onde serão empregadas . A normatização dos métodos de ensaio para avaliação das propriedades/requisitos também é muito abundante e detalhada.

Ainda na Europa, a normatização Espanhola tras algumas peculiaridade interessantes.Em Espanha a Associação de Fabricantes de Argamassas (AFAM) define o possível emprego das argamassa de acordo com a sua classificação inicial:

Argamassas para revestimento interior a base de cimento sem requisitos permeáveis, com a absorção de água por capilaridade W0 e resistência que, depende das especificações são entre: CSII 1,5-5 N/mm2, CSIII 3,5-7,5 N / mm2, CSIV ≥ 6 N/mm2:
  • CSII-W0 
  • CSIII-W0 
  • CSIV-W0 


Argamassas para reboco externo com base de cimento sem requisitos permeáveis, para revestimentos pintados ou com outros revestimentos de proteção com resistência encontrada entre: CSIII 3,5-7,5 N/mm2 N/mm2 CSIV ≥ 6:
  • CSIV-W0 
  • CSIII-W0 


Argamassas para rebocos exteriores a base de cimento, para revestimentos pintados ou outros revestimentos de proteção com resistência encontrada entre: CSIII 3,5-7,5 N/mm2 N/mm2 CSIV ≥ 6 e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,4 kg/m2 • min0.5 W1 equivalente a:
  • CSIII-W1 
  • CSIV-W1 


Argamassas para rebocos exteriores a base de cimento, para revestimentos não pintados e exposição ao vento e água moderada, com resistência 3,5-7,5 N/mm2 CSIII e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,4 kg/m2 • min0.5 W1 equivalente a:
  • CSIII-W1 

Argamassas para rebocos exteriores a base de cimento, para revestimentos não pintados e exposição ao vento e água moderada, com resistência CSIV ≥6 N/mm2  e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,4 kg/m2 • min0.5 W1 equivalente a:
  • CSIV-W1 


Argamassas para rebocos exteriores a base de cimento, para revestimentos não pintados e exposição ao vento e água elevada, com resistência 3,5-7,5 N/mm2 CSIII, CSIV ≥6 N/mm2 e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,2 kg/m2 • min0.5 W2 equivalente a:
  • CSIII-W2 
  • CSIV-W2 
Argamassas monocamada para revestimentos não pintados ou exposição ao vento e água moderada, com resistência CSIV ≥6 N/mm2  e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,4 kg/m2 • min0.5 W1 equivalente a:
  • OC-CSIV-W1 

Argamassas monocamada para revestimentos não pintados ou exposição ao vento e água elevada, com resistência 3,5-7,5 N/mm2 CSIII, CSIV ≥6 N/mm2 e absorção por capilaridade (c), com valores ≤ 0,2 kg/m2 • min0.5 W2 equivalente a:
  • OC-CSIII-W2 
  • OC-CSIV-W2 
Nesse mesmo pais (Espanha) , o Código Técnico da Edificação, em seu Documento Básico HS-1, sobre fachadas, também define o emprego das argamassas de acordo com a sua classificação inicial, o que mostra-se na tabela a continuação. 

Tabela 9 - Especificação de Uso das Argamassas de Revestimento (Espanha)

Sem sombra de dúvida a normatização européia é uma das mais completas. Deve ser lembrado, todavia, o contexto de elevada industrialização dos processos construtivos e a diversidade de materiais componentes o que permite uma enormidade de argamassas diferentes para usos cada vez mais específicos. Essa situação não é a que temos no Brasil, onde argamassas diferenciadas, como por exemplo, com agregados leves, são de consumo ainda inexpressivo no país.

Nossa idéia nesse tema é chamar a atenção para o que já se faz em alguns pontos do globo, o que pode enormemente contribuir para estabelecermos nossos pontos de referência para as argamassas no Brasil.

No próximo artigo traremos, ainda falando de Europa, a classificação MERUC do CSTB (França), as Normas Brasileiras, e as normas Latino-Americanas.

Toda a discussão e contribuição é bem-vinda.
Até Breve.