quinta-feira, 30 de maio de 2013

ARTIGO TÉCNICO AT 16 - Efeitos térmicos em barragens

Trazemos aqui a temática dos efeitos térmicos em barragens de concreto. Esse estudo foi desenvolvido no PECC - UnB e traz abordagens bastante interessantes.
Boa leitura,
Materials and Materiais (matandmat.blog@gmail.com)


Um estudo numérico de efeitos térmicos em barragens

Coelho, Nailde de Amorim (*); Pedroso, Lineu José (**); Rêgo, João Henrique da Silva (**); Nepomuceno, Antonio Alberto (**).

(*) Doutoranda em Estruturas e Construção Civil, - UnB; Professora,  IFSertao;

(**) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – UnB.

Revisão e adequação: pesquisador Elier Pavón de La Fé (materials and materiais)
Enviado por: João Henrique da Silva Rêgo


 INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS

No Brasil grandes projetos de barragens estão previstos e em curso, principalmente no norte do país, fato que torna os estudos dessas estruturas um aspecto importante e estratégico no desenvolvimento técnico nacional. As barragens são barreiras ou estruturas que cruzam córregos, rios ou canais para confinar e assim controlar o fluxo da água. Podem variar de pequenos maciços de terra a enormes estruturas de concreto, geralmente usadas para fornecimento de água, energia hidrelétrica e irrigação (CBDB, 2008). Pedroso (2002), também afirma que são uma das formas mais tradicionais de armazenar água é a construção de barreiras em rios que apresentem potencial hidráulico, ou seja, vazão adequada que permita a acumulação de água.

Dentre os tipos de barragens de interesse estão às barragens de concreto de gravidade, que são constituídas por grandes maciços de concreto (concreto massa).As barragens de gravidade são os tipos mais comuns e que requerem a menor manutenção, se adaptam em qualquer localidade, mas tem limitações de altura com relação á base e á fundação (Creager, 1964). A Eletrobrás (2000) diz que este tipo de barragem é capaz de resistir, com seu peso próprio, à pressão da água do reservatório e á supressão das águas que se infiltram pelas fundações.

Dentre muitos problemas existentes nesse tipo de barragem, temos os efeitos térmicos que levam as fissurações devido ao surgimento de tensões ocasionadas pelas variações de temperaturas internas e externas ao volume do concreto. Segundo Fairbairn et al. (2003) as grandes estruturas de concreto, tais como barragens, blocos de fundação e lajes de pontes, podem estar sujeitas a fissurações em idades precoces devido ás tensões térmicas e a indução da retração autógena. Neste aspecto, não só, são importantes as fissuras, desde o ponto de vista de durabilidade, os gradientes de temperatura geram também, deformações que não devem ser desprezadas numa análise estrutural (Kawamura, 2005).

A análise do gradiente térmico antes da construção dessas estruturas é primordial para que se possa efetuar uma prevenção das fissuras, utilizando-se métodos de redução da temperatura. Esse diagnóstico pode ser realizado por diversos procedimentos, em particular, com o auxilio de uma análise numérica baseada no Método dos Elementos Finitos (MEF), que permite uma avaliação da temperatura para diferentes propriedades, métodos construtivos, condições iniciais e de contorno no concreto. Neste trabalho, para um perfil típico de barragem brasileira, submetido às diversas condições de uso corrente na execução dessas obras, é feito uma análise térmica numérica pelo MEF com o uso do software ANSYS.
  
O estudo dos efeitos térmicos oriundos do calor produzido na massa de concreto é tratado dentro de uma ampla gama de fatores intervenientes, de forma a se evidenciar a importância e natureza dos parâmetros que influenciam no fenômeno analisado.

Com o uso dessa ferramenta computacional o mapeamento das temperaturas pode ser analisado, verificando-se os gradientes térmicos e, buscando-se formas de reduzir os efeitos da temperatura. Os resultados mostram que as variações de temperaturas na análise de uma barragem de gravidade construída em camadas, para intervalos de lançamento entre as camadas de dois dias. Dessa forma, observam-se diferentes temperaturas alcançadas, assim como se pode avaliar os pontos críticos de temperatura nocivos à estrutura.


MATERIAIS/MÉTODOS/DESENVOLVIMENTO

Dentre os problemas existentes nesse tipo de barragem, uma das grandes preocupações das empresas construtoras é com o efeito térmico que levam às fissurações. As tensões de origem térmica podem ser devidas a variações de temperaturas atmosféricas ou temperaturas internas (Coelho, 2012).

Em uma barragem de concreto o efeito da hidratação do cimento produz uma reação exotérmica com uma elevação significativa da temperatura desse material. Além do calor de hidratação existem outros fenômenos térmicos que atuam diretamente em uma barragem: a radiação solar, a condução e a convecção. A Figura 1 representa o fluxo de calor que ocorre em uma barragem. Nas barragens de concreto, é reconhecida a importância da elevação da temperatura do concreto devido ao calor de hidratação e à subsequente retração e fissuração que ocorre no resfriamento.
Figura 1 - Fluxo de calor em barragem.

Este trabalho mostra a análise de um perfil de barragem, o qual é baseado em uma seção típica de barragem real. No entanto, utilizou-se altura da barragem de 10 m e as demais medidas proporcionais a essa altura, uma vez que a simulação pode ser reproduzida para qualquer dimensão. Para esse estudo, admitiu-se a estrutura maciça e a construção em camadas de 1 m, como mostra a Figura 2. 


Figura 2 - Subdivisão ds estrutura em área e malhas de elementos finitos

Para a análise, admitiu-se também um intervalo de concretagem das camadas de dois dias. Dessa forma, quando a terceira camada é lançada, a segunda camada está com dois dias e a primeira com quatro dias de concretagem. Foram empregadas para as propriedades de condutividade térmica do concreto de 2,27 W/m°C, calor específico de 1063 J/g°C e massa específica de 2295 kg/m3. Esses valores são baseados em valores experimentais, de acordo com Andrade (1997).

Para análise do fenômeno da transferência e geração de calor no concreto, foi utilizado o programa ANSYS, que faz uso do método dos elementos finitos na resolução dos problemas, por meio do elemento PLANE55 que tem capacidade de condução térmica em duas dimensões, 2D. O comando Birth and Death no ANSYS foi empregada para a análise em camadas. Sua função é de ativar e desativar os elementos conforme vai prosseguindo a análise.

A simulação bidimensional instável das várias etapas da sequencia de construção pode ser realizada com o Birth and Death do software, que é usado para ativar e desativar elementos. Desta forma, a análise pode ser feita com uma única malha computacional em vez de várias, uma para cada fase de construção (Krüger et al, 2003). Marques Filho (2005) afirma que em barragens utilizando o concreto em massa convencional a espessura da camada varia, em geral, entre 2,0 m e 2,5 m, enquanto utilizando o método construtivo de Concreto Compactado com Rolo (CCR) esses valores estão entre 0,25 m e 0,50 m. No entanto, Bastos (2011), afirma que para concretos não refrigerados as camadas possuem no máximo 1 m de espessura.

É importante lembrar que Krüger (2003) fez um estudo semelhante, analisando a barragem de Salto Caxias. No entanto, foram verificadas no programa ANSYS, pela autora citada, apenas um determinado trecho da barragem e não toda a sua extensão transversal, como simulado neste trabalho.


RESULTADOS/DISCUSSÃO

As Figuras 3a e 3b mostra a evolução das isotermas de temperatura para a concretagem da primeira e segunda camada da barragem. Ressalta-se que as demais camadas estão desativadas, portanto, os resultados dessas camadas não são de interesse no momento.
Figura 3 - Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 1a, 2a, 3a, e 4a camada

As Figuras 3c e 3d apresenta também, a evolução térmica quando se concreta a terceira e quarta camada. Nota-se na terceira camada que a temperatura máxima encontra-se no centro das camadas já concretadas e na lateral tem-se uma temperatura em torno de 40°C. Na quarta camada, embora a temperatura máxima permaneça no centro, nas laterais têm-se menores temperaturas, o que aumenta o gradiente térmico.

Nas Figuras 4a e 4b, têm-se os resultados para a concretagem da quinta e sexta camada. A máxima temperatura atingida permanece no núcleo da estrutura e as camadas concretadas inicialmente começam a reduzir a temperatura, ou seja, comega a haver um resfriamento dessas camadas.

Figura 4 Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 5a, 6a, 7a e 8a camada


Na sétima e oitava camada, Figuras 4c e 4d, o fenômeno descrito anteriormente se repete, no entanto a temperatura máxima atingida comega a diminuir, isso devido ao tempo de concretagem. Neste caso, 14 e 16 dias do inicio da construção.
As camadas nove e dez, as últimas dessa construção são mostradas nas Figuras 5a e 5b. Observa-se que há uma redução da temperatura máxima atingida e também da temperatura no contorno. O valor de temperatura máxima permanece no centro da estrutura, mas há um valor alto do gradiente térmico, diferença entre a temperatura máxima e mínima, que pode provocar a fissuração da estrutura.


Figura 5 Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 9a e 10a camada


CONCLUSÕES/AGRADECIMENTOS

O concreto massa devido a sua características de grande volume e grandes dimensôes apresenta comportamento diferenciado do concreto convencional. Há uma maior preocupação com as possíveis fissuras que venham a surgir nessas estruturas, pois geralmente este material é utilizado em obras de grande porte. Os casos mais comuns de utilização são em obras de barragens, pontes e fundações. Qualquer dano que venha a ocorrer nessas estruturas pode ocasionar grandes acidentes colocando em risco muitas vidas humanas afetando também a economia local.

O estudo do concreto massa ou qualquer outra estrutura antes da execução é fundamental na prevenção dos riscos. O conhecimento detalhado da obra que se deseja construir é essencial para que futuros problemas possam ser evitados. A temperatura no interior do concreto é um exemplo disso, pois quando apresenta valores acima do desejável, provoca tensões no concreto podendo levá-lo ao rompimento. No estudo de caso pode-se verificar que o software ANSYS é um meio rápido e pratico de se obter as isotermas de temperatura para uma estrutura. Isso implica que as estruturas podem ser analisadas antes mesmo da construção, viabilizando assim estratégias de redução de tensões devido aos efeitos térmicos.

De forma geral, pode-se concluir que o ANSYS responde bem aos problemas térmicos, fornecendo respostas mais rápidas que análises de campo ou experimentais, podendo ser utilizado como meio de prevenção de riscos.


REFERÊNCIAS

ANDRADE, W. P. (Ed.); Concretos: Massa, estrutural, projetado e compactado com rolo. Sao Paulo: Pini, 1997. 1 v.

BASTOS, P. S. S.; Concretos especiais. Notas de aula. Universidade Estadual Paulista - UNESP, Bauru, 2011.

COELHO, N. A.; Um estudo numérico do efeito térmico em concreto massa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade de Brasilia - UnB. Brasilia: 2012.

COMITÉ INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS. Barragens e a Água no Mundo. Paraná: Texto Faz Comunicagáo S/S Ltda, 2008. Título original: Dams & The World's Water.

CREAGER, William Pitcher; HINDS, Julian; JUSTIN, Joel de Witt. Engineering for Dams. New York: J Wiley 1964. 3 v.

ELETROBRÀS, Centrais Elétricas Brasileiras S.A.; Diretrizes para estudos e projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Ministério de Minas e Energia; Brasilia: 2000.

FAIRBAIRN, E. M. R.; SILVOSO, M. M.; FILHO, R. D. T.; ALVES, J. L. D.; EBECKEN, N. F. F.; Optimization of mass concrete construction using genetic algorithms. Rio de Janeiro. Elsevier: 2003.

KAVAMURA, E. E.; Estudo do comportamento termo-estrutural bidimensional de barragens de concreto utilizando o Método dos Elementos Finitos. Dissertagáo de Mestrado. Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba: 2005.

KRÜGER, D. A. V.; KAVAMURA, E. E.; CARVALHO, N. F.; HECKE, M. B.; MACHADO, R. D.; LACERDA, L. A.. Thermo-mechanical analysis of Roller Compacted Concrete Dams. Roller Compacted Concrete Dams. Holanda, p. 625-632. 2003.

PEDROSO, J. L. Barragens de Concreto: Aspectos Gerais e Fundamentos do Cálculo de Tensöes e da Estabilidade Baseado no Método de Gravidade. Apostila do Curso de Barragens de Concreto. Universidade de Brasilia - UnB, Brasilia, 2002.


LEIA MAIS:
COELHO, N. A.; Um estudo numérico do efeito térmico em concreto massa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade de Brasilia UnB. Brasilia: 2012. 
Disponível em: www.estruturas.unb.br



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