terça-feira, 18 de junho de 2013

ARTIGO TÉCNICO - AT 19 CLASSIFICAÇÃO DE DANOS EM CONCRETO


Agradeçemos a contribuição da Profa. Eliane Kraus na discussão desse importante tema. As dissertações ligada a temática podem ser obtidas em:
www.estruturas.unb.br
Boa leitura,
Prof. E. Bauer (mat and mat)


CLASSIFICAÇÃO DE DANOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO
Eliane Kraus de Castro (*), João Carlos Teatini de S. Clímaco (**)

(*)  Professora do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental - Universidade de Brasília – Laboratório de Ensaio de Materiais.


(**) Professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental  e do Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade de Brasília.


Revisão e adequação: pesquisador Manuel Alejandro Rojas Manzano (mat and mat)
Enviado por: Eliane Kraus de Castro

INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS

A vida útil de uma estrutura de concreto depende de níveis adequados de manutenção, principalmente porque os eventuais problemas estruturais, sendo descobertos em seu início, têm seus efeitos minorados, reduzindo os custos de reparo. Entretanto, embora crescente o reconhecimento da importância da manutenção estrutural, são ainda insuficientes, mesmo em países desenvolvidos, as disposições normativas específicas para manutenção de estruturas. Em geral, as normas recentes dedicam atenção às disposições de projeto e execução tendo a durabilidade como requisito sem, no entanto, estabelecer critérios objetivos de manutenção [1], [3].

A partir desse fato, foi desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Estruturas e Construção Civil do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB) uma metodologia para avaliação de estruturas de concreto armado de edificações usuais, que estabelece critérios para a classificação de danos que permitem calcular o grau de deterioração dos elementos estruturais isolados e da estrutura como um todo, indicando as ações necessárias ao desenvolvimento da vida útil prevista [2].

Um dos testes iniciais de validação da metodologia foi sua aplicação a uma edificação residencial de propriedade da UnB, avaliada por Kraus [3], em 1994, e apresentado no presente trabalho. Os resultados obtidos indicaram a necessidade de intervenção em curto prazo, em alguns pilares e vigas da estrutura com grau de deterioração crítico. Os resultados constataram a contribuição da metodologia para o estabelecimento de uma estratégia de manutenção preventiva.

MATERIAIS/MÉTODOS/DESENVOLVIMENTO

Em 1987, a RILEM instituiu o Technical Committee 104 - Damage Classification of Concrete Structures, com a finalidade de unificar na Comunidade Européia dos métodos de teste e diagnóstico de estruturas de concreto, visando tornar mais efetivas as inspeções "in situ" e mais econômicos os eventuais reparos. O 104 - DCC enfatiza a necessidade de estabelecer sistemas de classificação e avaliação quantitativa dos danos, com "o objetivo primordial de minimizar a natureza subjetiva dos dados obtidos" [4].

Segundo a metodologia proposta nesta pesquisa, as estruturas de concreto de edificações usuais podem, em geral, ser divididas em famílias de elementos típicos: pilares, vigas, lajes, cortinas, escadas e rampas, reservatório superior e inferior, blocos de fundação, juntas de dilatação e elementos de composição arquitetônica. A partir de vistorias realizadas por profissional habilitado e orientadas por um Caderno de Inspeção associado à metodologia, seguindo o fluxograma da Figura 1, a metodologia permite quantificar o grau de cada dano nos elementos de uma família, os graus de deterioração dos elementos estruturais, das diversas famílias e da estrutura como um todo [3].



Figura 1 - Fluxograma para avaliação quantitativa da estrutura [3]

O fator de ponderação (Fp) quantifica o “prejuízo” relativo gerado por um determinado dano às condições gerais de estética, funcionalidade e segurança de um elemento estrutural. Para cada família de elementos, o Caderno de Inspeção apresenta planilhas com as manifestações possíveis de dano e os respectivos valores de Fp, numa escala de 0 a 10. Os valores do fator de ponderação foram estipulados a partir de extensa observação de estruturas danificadas e de aferições sucessivas da formulação.

O fator de intensidade do dano (Fi) é atribuído pelo profissional responsável pela vistoria, estimando a gravidade das manifestações, segundo a escala: sem lesões (Fi = 0), lesões leves (Fi = 1), lesões toleráveis (Fi = 2), lesões graves (Fi = 3) e estado crítico (Fi = 4). Entretanto, uma pontuação desse tipo pode resultar muito subjetiva, se não for acompanhada de uma classificação precisa da gravidade das lesões e sua evolução, que é fornecida no Caderno de Inspeção e serve de subsídio ao profissional em suas inspeções [3].

O grau de dano (D) em um elemento é calculado para cada dano, a partir dos valores correspondentes do fator de ponderação (0 ≤ Fp ≤ 10), e do fator de intensidade (0 ≤ Fi ≤ 4), usando uma analogia com o modelo de Tuutti [5], segundo o qual a deterioração se desenvolve em duas etapas distintas, iniciação e propagação dos danos. Propõe-se para o cálculo do grau de dano as expressões a seguir:


O grau de deterioração de um elemento ( Gde ) é determinado em função dos valores do grau de dano " Di " das "m" manifestações detectadas no elemento, a partir de uma das expressões seguintes:


Da Expressão (4), para elementos com mais de dois danos, o grau de deterioração do elemento, Gde, é a soma do grau máximo detectado com a média aritmética dos graus dos demais (m-1) danos. Ou seja, o dano maior seria "agravado" pela presença dos demais danos. A Tabela 1, elaborada a partir de ajustes da metodologia a situações reais, apresenta as ações a serem adotadas em elementos isolados em função do grau de deterioração, Gde:

 Tabela 1 -  Classificação dos níveis de deterioração do elemento


O grau de deterioração de uma família, Gdf, é definido como a média aritmética dos graus de deterioração dos ‘n’ elementos com danos expressivos, de forma a evidenciar os elementos em pior situação. Para "danos expressivos" estabeleceu-se o limite Gde ≥ 15, obtendo-se:


Finalmente, o grau de deterioração da estrutura (Gd) é calculado pela média ponderada dos graus de deterioração das diversas famílias de elementos, tendo como peso o fator de relevância estrutural, Fr , com a seguinte escala para as diversas famílias:

- Elementos de composição arquitetônica:                                                  Fr = 1,0
- Reservatório superior:                                                                                   Fr = 2,0
- Escadas/rampas, reservatório inferior, cortinas, lajes secundárias:     Fr = 3,0
- Lajes, fundações, vigas secundárias, pilares secundários:                   Fr = 4,0
- Vigas e pilares principais:                                                                            Fr = 5,0

Dessa forma, considerando as ‘k’ famílias de elementos que compõem a estrutura, tem-se:

Calculado o valor de Gd, da Expressão (6), classifica-se a estrutura em um dos quatro níveis de deterioração da Tabela 2, que indica as ações a ser tomadas. Cabe frisar a importância da análise individual dos elementos, pois pode ser recomendada a intervenção imediata ou em curto prazo apenas em elementos isolados da estrutura, dependendo do fator de intensidade de um dano ou do grau de deterioração do elemento. Ou seja, o nível de deterioração de uma estrutura pode ser aceitável do ponto de vista global, mas haver necessidade de intervenção em elementos isolados.

Tabela 2 - Classificação dos níveis de deterioração da estrutura



APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

Aplicação em edificação residencial (1994)

A edificação avaliada, de propriedade da UnB, é constituída de seis pavimentos-tipo, térreo e subsolo, com aproximadamente 14.000 m2 de área construída, com estrutura em concreto aparente, dividida em três blocos por juntas. Foi inspecionado apenas o bloco central, com 4.670 m2. Após a análise dos projetos de arquitetura e estrutura, efetuou-se a inspeção, obtendo-se os resultados da Tabela 3, para alguns elementos selecionados segundo sua importância no grau de deterioração da estrutura, elementos estes reparados em intervenção realizada em 1998.

Na inspeção, destacaram-se os problemas seguintes:

a) Três pares de vigas do teto do subsolo: paralelas e adjacentes a uma junta de dilatação, cada par é apoiado na extremidade em um mesmo pilar da cortina. A contínua infiltração de água na junta entre as vigas, devido à lavagem de piso e água de chuva, criou um ambiente úmido constante, agravado pela impermeabilização deficiente, o que causou sérios problemas de corrosão nas armaduras dessas vigas, chegando a provocar esfoliação (desplacamento) do concreto. Da tabela 3 a metodologia calcula para essas vigas um grau de deterioração Gde = 116, índice crítico segundo a Tabela 1, que recomenda intervenção imediata para recuperar as condições de integridade da peça.

Tabela 3 - Viga


b) Pilares da cortina do subsolo: sustentam os pares de vigas do teto, analisadas no item a) acima. Destacou-se como problema mais grave, devido à concepção errônea do projeto estrutural não prevendo o movimento das vigas da superestrutura, por variações de temperatura, no topo dos pilares, ocorreu o esmagamento local do concreto nessas regiões, o que causou, ainda, exposição das armaduras e início de flambagem de barras da armadura principal na ligação viga-pilar. Das expressões (1) a (4), obtém-se para esses pilares o grau de deterioração Gde > 80, crítico pela Tabela 1, indicando intervenção imediata.

Tabela 4 – Pilar


Para os demais elementos, seguindo os mesmos procedimentos, obtém-se o grau de deterioração das famílias e da estrutura como um todo, mostrados na Tabela 5. O nível alto de deterioração 40 < Gd = 44,3 < 60, conforme a Tabela 2 indica, portanto, a necessidade de observação periódica e intervenção em curto prazo.

Tabela 5 - Grau de deterioração da estrutura


Aplicação da metodologia após os elementos recuperados (1998)

Passados 4 anos da primeira inspeção, a UnB colocou à venda as unidades residenciais do prédio em questão, tendo, somente então, decidido reparar os elementos estruturais com grau de deterioração crítico. Os serviços de reparo foram realizados por firma especializada nos elementos analisados no item anterior e nas juntas de dilatação. Nos pilares da cortina, com esmagamento no topo devido à falta de junta, foi feita, em suas extremidades, a solidarização de uma das vigas sobre o pilar, com a liberação da outra viga, que foi erguida mecanicamente para colocação de placa de neoprene fretado, minizando, assim, os movimentos da estrutura devido a variações de temperatura.

Para a recuperação das vigas danificadas por corrosão, foram utilizados os seguintes procedimentos: remoção do concreto desagregado e recomposição da seção utilizando argamassa à base de resina epóxi. As ferragens foram recompostas e limpas e aplicados inibidores de corrosão. Em alguns casos, houve necessidade de substituição de barras, tanto da armadura principal de flexão quanto da transversal, constituída por estribos. Complementando os serviços de recuperação, as juntas de dilatação foram recuperadas e impermeabilizadas, utilizando manta butílica e proteção mecânica.

Concluída a recuperação, foi aplicada novamente a metodologia, tendo em vista avaliar a relevância dos elementos recuperados, com os resultados na Tabela 6. Comparando as tabelas 5 e 6, pode-se constatar a queda acentuada no grau de deterioração das famílias de elementos “Viga principal” - de 46,6 para 12, “pilar” - de 70,6 para 8,6, e “Laje principal” - de 35,4 para 20,7.  O grau de deterioração global da estrutura caiu de 44,3 para 20,8. Todos os novos valores, conforme as tabelas 1 e 2, caracterizam, após o reparo, um “estado aceitável”, evidenciando o sucesso das intervenções e a contribuição da metodologia para a avaliação quantitativa da estrutura e de seus elementos.

Tabela 6 - Grau de deterioração da estrutura


CONCLUSÕES/AGRADECIMENTOS

Apesar de reconhecida a importância da manutenção, são ainda insatisfatórios nas normas correntes as disposições e critérios objetivos referentes a estruturas usuais de concreto. O trabalho apresenta uma metodologia que quantifica os danos em estruturas de concreto armado, e a sua aplicação em uma mesma edificação em duas situações: antes e após a realização de reparos em elementos da estrutura. Os resultados da aplicação foram satisfatórios, refletindo as diferentes situações físicas da estrutura e a adequação das intervenções recomendadas. Dessa forma, conclui-se que a metodologia proposta no trabalho pode ser relevante no estabelecimento de programas de manutenção de edificações com estrutura de concreto.


REFERÊNCIAS

[1]        Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000), "Projeto de revisão da norma NB-1: Projeto de estruturas de concreto", Novembro.

[2]        Boldo P. (2001). “Avaliação quantitativa dos danos em estruturas de concreto de próprios nacionais gerenciados pela Diretoria de Obras Militares do Exército Brasileiro”. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasil (em andamento).

[3]        Castro, E. K. (1994), "Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto armado", Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 185p, Dezembro.

[4]        RILEM (Reunião Internacional dos Laboratórios de Ensaios de Materiais de Construção) (1991), "Technical Committee - Damage Classification of Concrete Structures", Materias and Structures, Ed Champman & Hall, Vol. 24, nº 142, 320 p.

[5]        Tuutti, K. (1982), "Corrosion Steel in Concrete", Swedish Cement and Concrete Research Institute, Stockolm, 469p.

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