sexta-feira, 22 de março de 2013

ARTIGO TÉCNICO - AT 12 ESTUDO DA CONSISTÊNCIA EM ARGAMASSAS

Trazemos aqui uma versão resumida do trabalho desenvolvido pelo prof. José Getulio Gomes de Sousa (UNIVASF) focado na avaliação da consistência das argamassas. É interessante mencionar que para quaisquer que sejam as ferramentas de estudo (ensaios clássicos, ensaios reológicos, caracterizações, etc.) o fundamental é a análise e o entendimento dos comportamentos, o que permite a aplicação tecnológica de engenharia. 
Boa leitura. 



ESTUDO DA CONSISTÊNCIA DAS ARGAMASSAS NO ESTADO FRESCO


José Getulio Gomes de Sousa (1); Elton Bauer (2)

(1) Professor Doutor, Colegiado de Engenharia Civil da Universidade Federal do Vale do São Francisco Campus Tecnológico de Juazeiro, Rodovia Juazeiro-Sobradinho, s/n, Bairro: Malhada da Areia, CEP: 48900-000, Juazeiro (BA), Brasil, 
(2) Professor Doutor, Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Universidade de Brasília 


e-mail: jose.getulio@univasf.edu.br, elbauerlem@gmail.com.br. 

1        Introdução


O estudo das propriedades no estado fresco de concretos e argamassas tem sido objeto de inúmeras pesquisas nos últimos anos. Novos parâmetros e conceitos descritos no estudo do comportamento reológico dos materiais são cada vez mais usados, além de equipamentos especiais, denominados de viscosímetros e reômetros, o que demonstra certos avanços na área. Entretanto, outros aspectos precisão ainda ser melhor explorados como, por exemplo, grande parte desses equipamentos é de custo relativamente alto e com limitações de uso dependendo das características dos materiais ensaiados (faixa de consistência, dimensões das partículas, condições de ensaio, dentre outros). Este panorama é suficiente para motivar o estudo e o desenvolvimento de métodos mais simples que permitam uma avaliação indireta das propriedades no estado fresco de argamassas e concretos.  
Especificamente no caso do concreto, a consistência, avaliada por meio do ensaio de abatimento (NBR NM 67, 1998), possibilita uma avaliação indireta da trabalhabilidade para a maioria dos concretos convencionais. Esta situação apenas é dificultada quando certos concretos especiais são aplicados, onde se verifica que apenas o conhecimento do abatimento não é suficiente para caracterizar o concreto no estado fresco.
No caso das argamassas, a situação é mais complexa. Mesmo para as argamassas convencionais, o método tradicional de avaliação da consistência, o método da mesa de consistência (NBR 13276, 1995), não favorece uma avaliação precisa de tal propriedade. É possível encontrar argamassas com iguais valores de espalhamento, entretanto, com condições de aplicação visivelmente diferenciadas. 
Pesquisas com objetivo de encontrar métodos que permitam uma avaliação mais precisa da consistência das argamassas, que possam implicar na diferenciação de certas condições de trabalhabilidade, são cada vez mais presentes, fato que tem colaborado fortemente para um melhor entendimento sobre o assunto. Como exemplos têm-se os métodos de penetração de cone (ASTM C 780, 1996) e vane test (BAUER, et al. 2007), que estão sendo recentemente usadas para medir a consistência das argamassas.  
ANGELIM (2000) utilizou o método de penetração de cone na avaliação da consistência de argamassas mistas, a partir de um estudo da adição de vários tipos de finos na composição das argamassas. Nessa pesquisa, as argamassas denominadas de plásticas apresentaram valores de consistência entre 45 e 56 mm. BAUER et al. (2007), apresenta uma estudo inicial de aplicação desse método na comparação com os métodos da mesa de consistência e vane test. O estudo foi desenvolvido em argamassas industrializadas (argamassas com aditivo incorporador de ar), onde se encontrou certa correlação entre os valores de penetração de cone e de tensão de escoamento obtidos pelo método vane test. 
No caso do vane test, é possível encontrar trabalhos que utilizaram o método para caracterizar concretos (como o trabalho de AUSTIN et al. (1999)) e argamassas (como os trabalhos de ALVES et al. (2002), SANTOS (2003), PAES (2004)). Na pesquisa de ALVES (2002), foi possível definir os valores de tensão entre 0,71 - 0,81 kPa como a faixa de tensão de escoamento, que caracterizava a consistência ideal de determinadas argamassas com aditivos incorporadores de ar (considerando um processo de aplicação manual em blocos de concreto sem chapisco). O mesmo equipamento foi utilizado por SANTOS (2003), onde se encontrou um valor mínimo 0,42 kPa de tensão de escoamento para uma condição limite de bombeabilidade de argamassas para projeção. Na pesquisa de PAES (2004), no estudo de argamassas mistas de cimento e cal, encontraram-se valores de tensão de escoamento pelo método vane test variando entre 1,19 e 1,70 kPa.
Com o objetivo de contribuir com a discussão, este artigo apresenta um estudo experimental de avaliação da consistência de argamassas de revestimento, utilizando os métodos: Mesa de Consistência (NBR 13276, 1995), Penetração de Cone (ASTM C 780, 1996) e Vane Test. 



2        Programa experimental


2.1     Variáveis do estudo

A pesquisa foi planejada tendo em vista avaliar argamassas com diferentes comportamentos no estado fresco, caracterizando faixas de argamassas trabalháveis e não trabalháveis. 
Os estudos foram desenvolvidos em argamassas de cal e areia, por entender que, para o objetivo inicial do estudo, as variações nas proporções entre esses dois materiais são suficientes para atender as faixas de trabalhabilidade desejadas.       
Como variáveis do estudo tem-se:

Variáveis Independentes
três valores de consistência especificados em função da penetração de cone em mm (PC1 = 45 mm, PC2 = 50 mm e PC3 = 55 mm);
três relações Aglomerante/Agregado em volume (TC1 = 5,5%, TC2 = 16,5% e TC3 = 27,5; 
três composições granulométricas (definidas como AG1, AG2 e AG3, conforme Tabela  4).

Variável dependente
o espalhamento, obtido pelo método da mesa de consistência expresso em mm;
a tensão de escoamento, obtido pelo método vane test expresso em kPa.

As variações na consistência foram efetuadas em função da relação Água/Agregado necessária para fornecer os valores de penetração de cone desejados, no caso 45, 50 e 55 mm. Esses valores foram escolhidos com base em estudos preliminares, onde se observou que a faixa considerada permitia uma avaliação da consistência pelos demais métodos utilizados na pesquisa, além do que, essa corresponde a uma faixa de valores encontrados em algumas pesquisas que utilizaram o método de penetração de cone para caracterizar a consistência de argamassas (ANGELIM, 2000; CASCUDO et al., 2005). 
As relações aglomerante/agregado consideradas correspondem a teores predefinidos para caracterizar faixas de argamassas trabalháveis e não trabalháveis, objetivando provocar alterações nos parâmetros determinados por cada método de ensaio usado. Esses teores também estão variando próximos dos valores comummente utilizados na produção das argamassas para revestimento. 
A Tabela 1 apresenta um resumo com as composições das argamassas utilizadas no estudo, em destaque, encontram-se os valores de penetração de cone (consistência considerada), a relação água/matérias secos utilizada, o teor de aglomerante e os traços em massa e volume das argamassas.  

Tabela 1 - Proporções entre os materiais constituintes das argamassas estudadas em cada série


As variações nas composições dos agregados foi um dos principais artifícios utilizados durante o desenvolvimento da pesquisa para provocar, intencionalmente, variações específicas nas propriedades das argamassas no estado fresco, considerando uma mesma condição de trabalhabilidade como, por exemplo: 

maior aspereza provocada por teores consideráveis de partículas de dimensões maiores;

maior plasticidade provocada pela presença de um maior teor de finos na composição granulométrica; e
exigências de demandas particulares de teores de água e cal. 

2.2     Caracterização dos materiais utilizados
As composições das argamassas foram definidas com base nos materiais que são freqüentemente utilizados na produção das argamassas mistas, dando ênfase aos disponíveis comercialmente na região do Distrito Federal. 

2.2.1    Cal
A cal utilizada na composição das argamassas foi uma cal CH III fabricada pela ICAL-Indústria de Calcinação Ltda., localizada em São José da Lapa - MG. Esse material foi adquirido no comércio local de Brasília, em sacos de 20 kg, de um mesmo lote. A caracterização física e química da cal encontra-se nas Tabelas 2 e 3, respectivamente.


2.2.2    Agregados
Como agregado, utilizou-se na composição das argamassas uma areia lavada, proveniente do Rio Corumbá, em Goiás, sendo adquirida no comércio local de Brasília.  
Inicialmente, os agregados passaram por processo de secagem, peneiramento e seleção dos grãos, sendo separados em três faixas granulométricas de acordo com as dimensões das malhas das peneiras (peneiras especificadas na NBR 5734, 1988), a saber: 

Faixa 1 - entre as peneiras de malhas 1,2 e 0,6 mm; 
Faixa 2 - entre as peneiras de malhas 0,6 e 0,3 mm; e
Faixa 3 - menor que a peneira de malha 0,3 mm.


Após a seleção, as frações, individualmente, passaram por um processo de homogeneização sendo, em seguida, armazenadas em tambores apropriados, protegidos da umidade e de possíveis contaminações externas. A homogeneização individual de cada fração teve como objetivo reduzir as possíveis variações granulométricas originadas durante a etapa de peneiramento da areia. Cada fração foi utilizada na definição das diferentes curvas granulométricas dos agregados que formaram as argamassas. Ao todo, foram empregadas três composições granulométricas produzidas em laboratório. As composições utilizadas estão descritas na Tabela 4, em termos do percentual de cada fração considerada. 
Estas composições estão ainda caracterizadas na Tabela 5 e na Figura 1 a partir das características físicas e das curvas granulométricas dos agregados.



2.3     Procedimentos empregados
O procedimento utilizado durante o desenvolvimento do estudo pode ser enumerado nas seguintes etapas:
1. definição das composições de argamassa, especificando principalmente a relação aglomerante/agregado para cada série;
2. determinação dos teores de água necessários à obtenção das consistências requeridas (no caso, penetração de cone de 45, 50 e 55 mm (ASTM C 780, 1996)); 
3. produção e homogeneização dos materiais anidros, para todas as séries (produção das argamassas);
4. mistura em argamassadeira planetária com a quantidade de água especificada para a consistência desejada (definida na etapa 2);
5. avaliação das argamassas pelos métodos da mesa de consistência (NBR 13276, 1995) e vane test.
As particularidades operacionais consideradas durante a aplicação dos métodos de penetração de cone e vane test estão apresentadas nas Tabela 6 e 7. Para o método da mesa de consistência, o procedimento empregado foi o mesmo recomendado pela NBR 13276 (1995).


3        Apresentação e discussão dos resultados


3.1     Avaliação do método vane test
Os resultados de tensão de escoamento obtidos pelo método vane test estão apresentados na Figura 2, em função dos valores da relação Aglomerante/Agregado, considerando cada valor de penetração de cone especificado (PC = 45, 50 e 55 mm). 
Nas Séries AG1 e AG2 (Figuras 2-a e b), observa-se que as composições com 5,5% de relação Aglomerante/Agregado apresentam um elevado valor de tensão de escoamento em relação aos demais. Com o aumento do teor de cal, para 16,5%, a tensão tende a diminuir, permanecendo praticamente constante.
Para a série AG3 (Figura 2-c), os comportamentos identificados são similares, apresentando, porém, certa distinção das tendências observadas nas demais séries (AG1 e AG2). Em resumo, tem-se uma leve queda da tensão de escoamento ao passar da relação Aglomerante/Agregado igual a 5,5% para 16,5%, seguido de aumento da tensão de escoamento quando a relação se aproxima de 27,5%. 
Os resultados demonstram que, apesar de serem fixados os valores de consistência pelo método de penetração de cone, os valores de tensão de escoamento ainda apresentam variações bem significativas, principalmente, quando a penetração de cone avaliada é em torno de 45 mm e a relação Aglomerante/Agregado é igual a 5,5% (condição de dificuldade de cisalhamento). No caso da tensão de escoamento, o aglomerante, juntamente com a água, está funcionando como lubrificante das partículas de agregado. Para uma relação Aglomerante/Agregado em torno de 5,5%, a interação entre as partículas de agregado é relativamente alta e favorece um contato mais íntimo, o que provoca aumentos na tensão máxima de cisalhamento. Essa interação é minimizada, em parte ao passar da consistência de 45 mm para 50 e 55 mm, respectivamente (como mostram as curvas das Séries AG1 e AG2 - Figuras 2-a e b). 


No caso da Série AG3, os valores menores de tensão de escoamento para a relação Aglomerante/Agregado igual a 5,5% podem ser justificados talvez devido a um menor grau de contato entre as partículas maiores do agregado, favorecido pela presença de uma considerável parcela de agregado menor que 0,3 mm. Nesse caso, as partículas podem estar atuando como lubrificantes, exercendo, em parte, a função das partículas da cal que estão sendo adicionadas. Aumentando-se a relação Aglomerante/Agregado para 16,5%, o teor de cal, juntamente com o teor de água, torna-se suficiente para provocar um afastamento entre as partículas, favorecendo o fluxo relativo entre as mesmas. Para valores de relação Aglomerante/Agregado maiores, em torno de 27,5%, o teor de aglomerante passa a atuar favorecendo uma maior interconexão entre as partículas de agregado, dificultado, assim, o fluxo relativo e aumentando os valores de tensão de escoamento. 


3.2     Avaliação do método da mesa de consistência
O ensaio da mesa de consistência se mostrou bem sensível às variações nos teores de aglomerantes presentes nas argamassas. Em alguns casos, a obtenção dos valores de espalhamento ficou comprometida, uma vez que a argamassa apresentava um excessivo grau de exsudação, o que favorecia a drenagem da água logo após a preparação da amostra e durante o ensaio, exibindo certa dificuldade de espalhamento com aplicação dos golpes. A condição relatada foi identificada, na maioria das argamassas, onde a relação Aglomerante/Agregado era em torno de 5,5%, sendo mais crítico nas argamassas com agregados AG1 e AG2. Para o agregado AG3, tal comportamento não esteve marcado como nos demais. 

Os resultados de espalhamento, obtidos pelo método da mesa de consistência, estão apresentados na Figura 3, em função dos valores da relação Aglomerante/Agregado, considerando cada valor de penetração de cone especificado no respectivo projeto experimental (PC = 45, 50 e 55 mm). 

No caso das Séries AG1 e AG2 (Figura 3-a e b), no trecho inicial em torno da relação Aglomerante/Agregado igual 5,5%, identifica-se certo grau de interferência no que concerne aos demais teores de aglomerante estudados (16,5% e 27,5%). Os valores de espalhamento obtidos apontam para uma argamassa que apresenta dificuldades de espalhamento logo após a aplicação dos golpes na mesa de consistência. Quando a relação Aglomerante/Agregado é em torno de 16,5%, essas séries apresentam um ponto de máximo espalhamento. Com o aumento do teor de aglomerante para 27,5%, os valores de espalhamento exibem uma tendência de diminuição. 

As condições relatadas, em parte, se aproximam dos comportamentos identificados no estudo do método vane test. No caso dos valores de espalhamento, o aglomerante, juntamente com a água, também pode estar funcionando como lubrificante das partículas de agregado. Para uma relação Aglomerante/Agregado em torno de 5,5%, a interação entre as partículas de agregado, ainda, é relativamente alta, provocando diminuição nos valores de espalhamento. Essa interação é minimizada quando a relação Aglomerante/Agregado passa para os teores de 16,5% e 27,5%. Em valores de relação Aglomerante/Agregado maiores (próximo de 27,5), o teor de aglomerante passa a atuar favorecendo uma maior interconexão entre as partículas de agregado, absorvendo parte da energia dos golpes, dificultando o fluxo relativo entre as partículas de agregado, implicando na redução do espalhamento. 

Na Série AG3 (Figura 3-c), as curvas são praticamente paralelas ao eixo das abscissas, apresentando ainda variações em torno da mesma amplitude de valores de espalhamento (250 e 280 mm de espalhamento). Nesses casos, não se observam maiores alterações com as mudanças nos teores de aglomerante. Esse fato leva a apontar que as medidas de penetração de cone e espalhamento, pela mesa de consistência, estão sendo influenciadas por um mesmo parâmetro, apresentando forte correlação.  

3.3     Tensão de escoamento em função dos valores de penetração de cone
A comparação dos resultados, obtidos a partir do ensaio de penetração de cone e vane test, está apresentada na Figura 4. As curvas são representadas em termos da tensão de escoamento em função do valor de penetração de cone, considerando as relações Aglomerante/Agregado utilizadas no estudo, no caso 5,5%, 16,5% e 27,5

Em geral, percebe-se que a relação entre os valores de penetração de cone e tensão de escoamento não são fortemente pronunciadas em todas as relações Aglomerante/Agregado. Quando a relação Aglomerante/Agregado é de 5,5%, para uma penetração de cone de 45 mm, encontram-se valores de tensão de escoamento entre 1,40 e 3,18 kPa (diferença de 1,78 kPa). Esse intervalo é diminuído quando a penetração aumenta para 55 mm, passando para um intervalo entre 0,68 e 1,83 kPa (diferença de 1,15 kPa). Quando a relação Aglomerante/Agregado aumenta para 16,5% e 27,5%, a faixa de variação dos valores diminui consideravelmente e os dois métodos passam a ter um grau de correlação aparentemente maior. No caso da relação Aglomerante/Agregado igual a 27,5%, a faixa de variação é entre 1,41 e 1,87 kPa para 45 mm de penetração de cone (diferença de 0,46 kPa) e entre 0,85 e 1,33 kPa para 55 mm de penetração de cone (diferença de 0,48 kPa). 

Percebe-se que apesar da consistência ser fixada nos valores de penetração de cone de 45, 50 e 55 mm, o método vane test ainda está identificando variações significativas nos valores de tensão de escoamento (indicando uma maior sensibilidade), diferenças essas, que são atenuadas aumentando o teor de aglomerante na composição das argamassas. 

As diferenças podem ser justificadas devido às configurações dos dispositivos e dos procedimentos de ensaio empregados, que podem estar provocando alterações na sensibilidade dos métodos, destacando-se: a geometria dos dispositivos, utilizados na análise, que provocam distribuições de tensões bem específicas (método de penetração de cone => dispositivo em forma de cone; método vane test => palheta em cruz); a região avaliada por cada método (método de penetração de cone => região superior da amostra; método vane test => área distribuída na parte central da amostra);  a velocidade de realização do ensaio (método de penetração de cone => quase imediatamente após a liberação do cone em queda livre, a uma taxa de cisalhamento variada;  método vane test => acréscimo de tensão lentamente em uma taxa de cisalhamento constante, podendo o ensaio durar entre 30 e 60 s). 

A identificação de argamassas, com certa carência de pasta na composição, que é denunciada por um aumento nos valores de tensão de escoamento, favorece a utilização do método vane test no estudo da consistência e na definição de relações Aglomerante/Agregado adequadas. 
Quanto ao método de penetração de cone, devido a sua simplicidade, pode ser utilizado como ferramenta de controle da consistência das argamassas, uma vez já definida tal propriedade em estudos preliminares de laboratório.  

3.4     Espalhamento em função dos valores de penetração de cone 
A comparação dos resultados, obtidos a partir do ensaio de penetração de cone e mesa de consistência, está apresentada na Figura 5. As curvas são representadas em termos do espalhamento em função do valor de penetração de cone, considerando as relações Aglomerante/Agregado utilizadas no estudo, no caso 5,5%, 16,5% e 27,5%.
  
Observa-se que a relação entre os valores de penetração de cone e espalhamento também não são fortemente pronunciadas em todas as relações Aglomerante/Agregado. Quando a relação Aglomerante/Agregado é de 5,5%, para uma penetração de cone de 45 mm, encontram-se valores de espalhamento entre 169 e 247 mm (diferença de 78 mm), diferença que é diminuída quando a penetração aumenta para 55 mm, passando para um intervalo entre 230 e 275 mm (diferença de 45). Quando a relação Aglomerante/Agregado aumenta para 16,5% e 27,5%, a faixa de variação dos valores diminui consideravelmente e os dois métodos passam a ter um grau de correlação aparentemente maior. Na relação Aglomerante/Agregado igual a 27,5% a faixa de variação é entre 231 e 243 mm para 45 mm de penetração de cone (diferença de 12 mm) e 250 e 270 mm para 55 mm de penetração de cone (diferença de 20 mm).
Nos casos analisados, o método da mesa de consistência, também, está sendo sensível a algum parâmetro, que está provocando alterações nos valores de espalhamento, mesmo considerando valores de consistência predefinidos. Em uma faixa de penetração de cone, relativamente estreita (no caso, entre 45 e 55 mm), os valores de espalhamento podem ser consideráveis, dependendo da argamassa avaliada.

Nesse caso, as diferenças podem ser pronunciadas, também, devido às características inerentes à configuração dos dispositivos e aos procedimentos de ensaios utilizados na avaliação das argamassas. Para o ensaio de penetração de cone, os fatores são os mesmos apontados no item anterior, sendo, no caso do ensaio da mesa de consistência, necessário considerar a metodologia de ensaio (medida de espalhamento horizontal logo após a aplicação de determinado número de golpes), a massa de material analisado, que pode variar de amostra para amostra e durante o ensaio.    
Todos os fatores que, de certa forma, dificultam ou favorecem o cisalhamento relativo entre as camadas internas da argamassa, absorvendo ou transmitindo parte da energia gerada durante a aplicação dos golpes na mesa, influenciam o valor de espalhamento durante o ensaio de consistência. Talvez, esses sejam os principais motivos que apontam para a dificuldade de espalhamento em argamassa com deficiência de pasta entre as partículas de agregados ou com excesso de ar incorporado na composição das argamassas. 

Os fatores, que apontam para as dificuldades de correlacionar os valores de espalhamento com a consistência das argamassas, são vários, conforme já foi discutido. Entretanto, o método torna-se interessante durante uma avaliação qualitativa da estabilidade das argamassas, no decorrer do ensaio (aplicação dos golpes na mesa). É possível observar, por exemplo, se a argamassa tem determinada tendência à segregação, exsudação e até uma deficiência de pasta. O método, ainda, pode ser utilizado como ferramenta de controle da consistência, em argamassas previamente dosadas, porém, nessa condição, o método de penetração de cone oferece maiores vantagens devido à simplicidade de operação, permitindo inclusive avaliações em obra. 
      
3.5     Tensão de escoamento em função dos valores de espalhamento 
Na Figura 6, uma análise direta da correlação, entre os resultados de tensão de escoamento e espalhamento, é favorecida. Nessa, observa-se que os valores obtidos no estudo caracterizam uma tendência de comportamento que aponta para um elevado grau de correlação entre os resultados. Esse fato indica que os valores fornecidos pelos dois métodos de ensaio, no caso das argamassas avaliadas, aparentemente, estão sendo influenciados pelos mesmos parâmetros, que caracterizam as argamassas. Entretanto, entre os valores de espalhamento de 200 mm e 300 mm, existe uma concentração de pontos em uma faixa com amplitude entre 0,65 e 0,74 kPa (região delimitada pelas linhas tracejadas paralelas a curva de tendência), valor que aponta para algumas diferenças entre os valores fornecidos pelos dois medos de ensaio, dependendo da argamassa avaliada. 

4        Conclusões


Assumindo-se que a consistência é uma medida indireta da resistência ao cisalhamento entre camadas adjacentes da argamassa, em uma dada taxa de cisalhamento, tem-se que os ensaios de penetração de cone, mesa de consistência e vane test podem ser classificados como ensaios para avaliar a consistência das argamassas. 

O método de penetração de cone ofereceu certa sensibilidade às variações na composição das argamassas, podendo ser utilizado como ferramenta de controle da consistência. Essa sensibilidade é expressa em termos da facilidade ou dificuldade de penetração do dispositivo, provocando deformação e cisalhamento na amostra ensaiada.

O método da mesa de consistência, apesar das críticas, mostrou-se com certa sensibilidade na avaliação da consistência das argamassas. Essa sensibilidade foi traduzida em termos de uma maior ou menor dificuldade de espalhamento provocada pelas alterações impostas na composição das argamassas. Durante o estudo, o método permitiu, também, uma avaliação qualitativa das argamassas, possibilitando identificar misturas com deficiência de pasta, com forte tendência à segregação e exsudação. 

O método vane test, em relação aos demais ensaios, ofereceu uma maior sensibilidade na determinação da resistência de cisalhamento das argamassas, permitindo uma análise mais precisa da consistência em função das variações nos teores de materiais. Tal sensibilidade foi traduzida em termos de uma dificuldade ou facilidade de cisalhamento entre as camadas, provocada pelas alterações nos teores de aglomerante e água na composição das argamassas. Outro ponto favorável ao método vane test foi a possibilidade de avaliação de uma grandeza física fundamental para o estudo da reologia dos materiais, no caso a tensão de escoamento. 

Os métodos apontados para avaliar a consistência (mesa de consistência, vane test e penetração de cone), apresentaram certo grau de correlação, principalmente, quando se está avaliando um mesmo grupo de argamassa de revestimento. As variações encontradas nos resultados podem ser atribuídas, sobretudo, às diferenças nas metodologias de ensaio (inerentes a cada método), que sofrem influência diferenciada de determinados parâmetros (parâmetros internos que governam o processo de cisalhamento como atrito interno, coesão, água livre, teor de pasta, concentração de partículas, viscosidade, dentre outros). 

5        Referências


ALVES, N. J. D. Avaliação dos aditivos incorporadores de ar nas argamassas de revestimento. 2002. 174p. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Brasília, Brasília, 2002. 

ANGELIM, R. R. Influência da adição de finos calcários, silicosos e argilosos no comportamento das argamassas de revestimento. 2000. 146p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2000.

BAUER, E.; SOUSA, J. G. G.; GUIMARÃES, E. A.; SILVA F. G. Study of the laboratory Vane test on mortars. Building and Environment, v. 42, p. 86-92, 2007.

CASCUDO, O.; CARASEK, H.; CARVALHO, A. Controle de argamassas industrializadas em obras por meio do método de penetração do cone. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas, 6., 2005. Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC/ANTAC, 2005. p. 83-94.

PAES, I. N. L. Avaliação do transporte de água em revestimentos de argamassa nos momentos iniciais pós-aplicação. 2004. 237p. Tese (Doutorado) - Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

SANTOS, C. C. N. Critérios de projetabilidade para as argamassas industrializadas de revestimento utilizando bomba de argamassa com eixo helicoidal. 2003. 130p. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Brasília, Brasília, 2003.

SOUSA, J. G. G. Contribuição ao estudo das propriedades das argamassas de revestimento no estado fresco. 2005. 233p. Tese (Doutorado) - Universidade de Brasília, Brasília, 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito bem vindo ! Assim que possível discutiremos seu comentário.