A pergunta nos tem sido feita com
frequência em solicitações demandadas ao Laboratório de Ensaio de Materiais da
UnB. Além disso, aprofunda-se o questionamento colocando: “É usual a queda de
placas cerâmicas em fachadas”? “É um comportamento esperado ter de revitalizar
a fachada com obras intensas e custosas de reconstituição a cada 5 anos”? “Tenho
de conviver com as infiltrações pela fachada, isso não tem solução”?.
A resposta veemente é um sonoro
NÃO. A boa técnica da construção trabalha com uma vida útil bem maior que os 10
anos mencionados. Flores Colen (1989), discorrendo sobre vida útil de fachadas
rebocadas aponta estudo da ASTM que prescreve vida útil mínima de
aproximadamente 30 anos. No Brasil, a norma de desempenho NBR 15575-1 traz em
seu anexo C a proposta de vida útil de projeto mínima (VUP) de 40 anos. Se isso
é assim, porque as pastilhas cerâmicas caem tão rapidamente, porque a água
infiltra na fachada?
Cabe aqui primeiramente uma
definição bem simples. A vida útil ou vida em serviço de um material ou
componente de uma edificação é o período de tempo, depois da instalação em que
todas as propriedades são superiores a um valor mínimo aceitável, quando
rotineiramente mantidos (ASTM). Cabe então colocar a questão importante da
manutenção. Manutenção é o conjunto de atividades desenvolvidas com o objetivo
de manter a edificação com suas características de segurança, funcionalidade
desempenho e estética previstas, dentro de custos pré-definidos.
Podemos nitidamente entender que
as quedas de pastilhas e placas cerâmicas com 5, 10 anos não são em geral
oriundas de falhas de manutenção. Pode ser que uma falha de rejunte ou uma
falha na junta de movimentação levem a infiltrações pontuais que ajudem no
descolamento pontual de placas cerâmicas. Agora, ter de refazer uma fachada
inteira a qual apresenta alto índice de descolamento com 10 anos de uso é uma
inconsistência.
Mas então, o que ocorre? São
várias coisas. Primeiramente tem-se a necessidade de uma correta elaboração das
especificações e projetos de fachada. As especificações devem levar em conta os
materiais, técnicas de execução e também o controle de qualidade. É
interessante observar, por exemplo, que a Norma Brasileira NBR 13281/2005
trouxe uma série de classificações, requisitos e metodologias de ensaios para
as argamassas. Esses são desprezados pela maioria dos projetistas de fachada. As
placas cerâmicas por sua vez, são compradas quase que somente por critérios
estéticos, esquecendo-se por exemplo da especificação de uma expansão por
umidade máxima (valores altos da expansão por umidade levam ao descolamento das
placas cerâmicas quando da exposição á chuva).
Se os materiais são fracamente
controlados, o que dizer das técnicas de execução e do revestimento executado.
É impressionante a ausência da aplicação de rotinas de controle de qualidade ou
controle de recebimento. Essas rotinas existem e estão disponíveis nos
principais laboratórios do país. O que se vê no cotidiano são situações em que
se usam (quando se usam) ensaios pouco adequados para comprovar o recebimento
de um revestimento, como é o caso do ensaio de aderência. Esse ensaio para as
argamassas, regulamentado pela NBR 13528, é tão polêmico, que própria norma não
especifica como chegar ao valor resultado do ensaio (média, mediana, etc..). E
cotidianamente vemos fachadas e fachadas sendo “aprovadas” com poucos pontos
ensaiados, num ensaio extremamente variável.
O somatório disso tudo é o que
temos: pastilhas caindo, reboco descolando, e aí vai.
Muito bem !! Vamos agora falar da
revitalização da fachada. Se vou recuperar a fachada, quero elevar o desempenho da mesma a um nível
adequado, e quero que o mesmo seja mantido ao longo da vida útil. Pois bem,
como vou conseguir isso se as técnicas e materiais usados na revitalização (e
as deficiências também) são os mesmos da época da construção ? E o controle de
qualidade aí qual é? Nós sabemos: provavelmente NENHUM.
Assim, somos fadados a
revitalizar a fachada a cada 5 anos, ou talvez 10. Não passa disso. Tecnicamente
e economicamente isso é uma vergonha.
Respondendo a questão do nobre
síndico a qual coloquei no início, respondo: “não é normal e essas anomalias
não podem ocorrer de forma generalizada como observamos em vários edifícios”.
Como argumento, olhem para os edifícios antigos em Brasília. Há fachadas com
mais de 50 anos sem descolamento algum de placas cerâmicas. Há também edifícios
novos com fachadas perfeitas onde a técnica e a preocupação foram adequados.
Leia mais:
FLORES COLLEN, I. Metodologia de
avaliação do desempenho em serviço de fachadas rebocadas na óptica da
manutenção predictiva. Lisboa, (doutorado) IST, 2009.
ANTUNES, G. Estudo de
manifestações patológicas em revestimento de fachada em Brasília –
sistematização da incidência de casos. Brasília, (mestrado) PECC-UnB, 2010.
BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ;
SILVA, M. N. B. . Patologia e deterioração das fachadas de edifícios em
Brasília - Estudo da quantificação de danos. In: 4o Congreso de Patologia Y
Rehabilitación de Edifícios - PATORREB 2012, 2012, Santiago de Compostela.
Actas del 4o Congreso de Patologia Y Rehabilitación de Edifícios - PATORREB
2012. Santiago de Compostela: Colexio Oficial de Arquitectis de Galicia, 2012.
BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ; LEAL,
F. E. ; ANTUNES, G.R. . Identification
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XII INTERNATIONAL CONFERENCE ON DURABILITY OF BUILDING MATERIALS AND
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OF BUILDING MATERIALS AND COMPONENTS. PORTO - PORTUGAL: FEUP EDIÇÕES,
2011. v. 3. p. 1089-1096.
BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ;
ANTUNES, G.R. . Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em
Brasília. In: 3o. CONGRESSO PORTUGUÊS DE ARGAMASSAS DE CONSTRUÇÃO, 2010,
LISBOA. ANAIS DO 3o CONGRESSO PORTUGUÊS DE ARGAMASSAS DE CONSTRUÇÃO. LISBOA:
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BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ;
ANTUNES, G.R. . ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO EM REVESTIMENTOS DE FACHADA DE EDIFÍCIOS
EM BRASÍLIA. In: XII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO,
2010, CANELA. XII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. PORTO
ALEGRE: ANTAC, 2010. v. XII.
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