terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vamos perguntar novamente ???



É usual e adequado o desempenho encontrado nas fachadas ? Os elementos que a compõe são descartáveis?

A pergunta nos tem sido feita com frequência em solicitações demandadas ao Laboratório de Ensaio de Materiais da UnB. Além disso, aprofunda-se o questionamento colocando: “É usual a queda de placas cerâmicas em fachadas”? “É um comportamento esperado ter de revitalizar a fachada com obras intensas e custosas de reconstituição a cada 5 anos”? “Tenho de conviver com as infiltrações pela fachada, isso não tem solução”?.
A resposta veemente é um sonoro NÃO. A boa técnica da construção trabalha com uma vida útil bem maior que os 10 anos mencionados. Flores Colen (1989), discorrendo sobre vida útil de fachadas rebocadas aponta estudo da ASTM que prescreve vida útil mínima de aproximadamente 30 anos. No Brasil, a norma de desempenho NBR 15575-1 traz em seu anexo C a proposta de vida útil de projeto mínima (VUP) de 40 anos. Se isso é assim, porque as pastilhas cerâmicas caem tão rapidamente, porque a água infiltra na fachada?

Cabe aqui primeiramente uma definição bem simples. A vida útil ou vida em serviço de um material ou componente de uma edificação é o período de tempo, depois da instalação em que todas as propriedades são superiores a um valor mínimo aceitável, quando rotineiramente mantidos (ASTM). Cabe então colocar a questão importante da manutenção. Manutenção é o conjunto de atividades desenvolvidas com o objetivo de manter a edificação com suas características de segurança, funcionalidade desempenho e estética previstas, dentro de custos pré-definidos.

Podemos nitidamente entender que as quedas de pastilhas e placas cerâmicas com 5, 10 anos não são em geral oriundas de falhas de manutenção. Pode ser que uma falha de rejunte ou uma falha na junta de movimentação levem a infiltrações pontuais que ajudem no descolamento pontual de placas cerâmicas. Agora, ter de refazer uma fachada inteira a qual apresenta alto índice de descolamento com 10 anos de uso é uma inconsistência.

Mas então, o que ocorre? São várias coisas. Primeiramente tem-se a necessidade de uma correta elaboração das especificações e projetos de fachada. As especificações devem levar em conta os materiais, técnicas de execução e também o controle de qualidade. É interessante observar, por exemplo, que a Norma Brasileira NBR 13281/2005 trouxe uma série de classificações, requisitos e metodologias de ensaios para as argamassas. Esses são desprezados pela maioria dos projetistas de fachada. As placas cerâmicas por sua vez, são compradas quase que somente por critérios estéticos, esquecendo-se por exemplo da especificação de uma expansão por umidade máxima (valores altos da expansão por umidade levam ao descolamento das placas cerâmicas quando da exposição á chuva).


Se os materiais são fracamente controlados, o que dizer das técnicas de execução e do revestimento executado. É impressionante a ausência da aplicação de rotinas de controle de qualidade ou controle de recebimento. Essas rotinas existem e estão disponíveis nos principais laboratórios do país. O que se vê no cotidiano são situações em que se usam (quando se usam) ensaios pouco adequados para comprovar o recebimento de um revestimento, como é o caso do ensaio de aderência. Esse ensaio para as argamassas, regulamentado pela NBR 13528, é tão polêmico, que própria norma não especifica como chegar ao valor resultado do ensaio (média, mediana, etc..). E cotidianamente vemos fachadas e fachadas sendo “aprovadas” com poucos pontos ensaiados, num ensaio extremamente variável.
O somatório disso tudo é o que temos: pastilhas caindo, reboco descolando, e aí vai.

Muito bem !! Vamos agora falar da revitalização da fachada. Se vou recuperar a fachada,  quero elevar o desempenho da mesma a um nível adequado, e quero que o mesmo seja mantido ao longo da vida útil. Pois bem, como vou conseguir isso se as técnicas e materiais usados na revitalização (e as deficiências também) são os mesmos da época da construção ? E o controle de qualidade aí qual é? Nós sabemos: provavelmente NENHUM.
Assim, somos fadados a revitalizar a fachada a cada 5 anos, ou talvez 10. Não passa disso. Tecnicamente e economicamente isso é uma vergonha.

Respondendo a questão do nobre síndico a qual coloquei no início, respondo: “não é normal e essas anomalias não podem ocorrer de forma generalizada como observamos em vários edifícios”. Como argumento, olhem para os edifícios antigos em Brasília. Há fachadas com mais de 50 anos sem descolamento algum de placas cerâmicas. Há também edifícios novos com fachadas perfeitas onde a técnica e a preocupação foram adequados.

Leia mais:



FLORES COLLEN, I. Metodologia de avaliação do desempenho em serviço de fachadas rebocadas na óptica da manutenção predictiva. Lisboa, (doutorado) IST, 2009.

ANTUNES, G. Estudo de manifestações patológicas em revestimento de fachada em Brasília – sistematização da incidência de casos. Brasília, (mestrado) PECC-UnB, 2010.

BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ; SILVA, M. N. B. . Patologia e deterioração das fachadas de edifícios em Brasília - Estudo da quantificação de danos. In: 4o Congreso de Patologia Y Rehabilitación de Edifícios - PATORREB 2012, 2012, Santiago de Compostela. Actas del 4o Congreso de Patologia Y Rehabilitación de Edifícios - PATORREB 2012. Santiago de Compostela: Colexio Oficial de Arquitectis de Galicia, 2012.

BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ; LEAL, F. E. ; ANTUNES, G.R. . Identification and quantification of failure modes of new buildings façades in Brasília. In: XII INTERNATIONAL CONFERENCE ON DURABILITY OF BUILDING MATERIALS AND COMPONENTS, 2011, PORTO - PORTUGAL. XII INTERNATIONAL CONFERENCE ON DURABILITY OF BUILDING MATERIALS AND COMPONENTS. PORTO - PORTUGAL: FEUP EDIÇÕES, 2011. v. 3. p. 1089-1096.

BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ; ANTUNES, G.R. . Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em Brasília. In: 3o. CONGRESSO PORTUGUÊS DE ARGAMASSAS DE CONSTRUÇÃO, 2010, LISBOA. ANAIS DO 3o CONGRESSO PORTUGUÊS DE ARGAMASSAS DE CONSTRUÇÃO. LISBOA: APFAC, 2010.

BAUER, E. ; CASTRO, E. K. ; ANTUNES, G.R. . ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO EM REVESTIMENTOS DE FACHADA DE EDIFÍCIOS EM BRASÍLIA. In: XII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 2010, CANELA. XII ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO. PORTO ALEGRE: ANTAC, 2010. v. XII.

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