ESTUDO DA
DEGRADAÇÃO DAS
FACHADAS EM EDIFÍCIOS JOVENS - QUANTIFICAÇÃO
Elton
Bauer, Maria de Nazaré B. Silva e Eliane Kraus
Universidade de Brasília; Departamento de Engenharia
Civil e Ambiental; Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Campus Universitário Darcy
Ribeiro – 70910-900 Brasília-DF - Brasil
Resumo.
A partir de levantamentos de incidência de patologias nos
edifícios de Brasília, têm-se observado grande percentual de
patologias nas fachadas, tanto em edificios muito jovens (menores de 10 anos)
como também nas fachadas com idade intermediária (30 a 50 anos). Tendo
por referência uma vida útil de 25 anos para os revestimentos de fachada, as
altas incidências de ocorrência de danos e patologías,de forma muito precoce, ensejam
questionamentos importantes, não só na questão técnica, mas também nos aspectos
de custo. Para fornecer respostas a esse tema, se faz necessário não só
identificar as incidências e causas dessas manifestações, mas também poder
estimar qual a vida útil residual para as fachadas dos edificios inspecionados.
O presente estudo
busca definir e aplicar índices de deterioração de modo a quantificar os danos
observados em quatro edificios com diferentes idades variando entre 10 e 40
anos. Propõe-se uma metodologia sistêmica, adaptada de outros estudos, de modo
a melhor quantificar o grau de deterioração em função de diversas variáveis,
dentre elas: o tempo (idade), as condições de exposição da fachada aos
elementos climáticos (principalmente a radiação solar), e os detalhes e
disposições construtivas dos edificios. Busca-se correlacionar o grau de incidência
da radiação solar com os índices quantitativos de danos observados. Os
resultados confirmaram o efeito deletério da orientação noroeste e oeste sobre
as fachadas estudadas, bem como mostraram ser o descolamento de cerâmica o
mecanismo de manifestação patológica mais representativo para a degradação das
fachadas em edifícios jovens de Brasília, utilizadas neste estudo.
Palavras-chave: fachadas, vida
útil, deterioração, danos
1. INTRODUÇÃO
Brasília, capital do Brasil, é o
primeiro núcleo urbano construído no século XX considerado Patrimônio Histórico
da Humanidade pela UNESCO. Ao atingir 50 anos, observam-se vários casos de
patologías nos sistemas de revestimento nas fachadas, sendo que muitos dos
casos tem ocorrido em edifícios jovens (menos de 10 anos). A tipología básica
das fachadas de edificios emprega revestimentos em argamassa e revestimentos em
placas cerâmicas, havendo muitos casos do uso misto dos dois sistemas.
As fachadas das edificações
são elementos construtivos que constituem a primeira barreira contra os agentes
atmosféricos. Devido à esse nível de exposição, as fachadas
apresentam um processo de envelhecimento e perda de desempenho mais detectável
do que em outros sistemas ou componentes da edificação [1]. Diversas incidências de manifestações
patológicas tem sido observadas nas fachadas dos edifícios de Brasília em idades
precoces em relação à vida útil esperada, sendo causa de recentes reparos nas
fachadas, causando todo tipo de desconforto, desde físico, visual e estético
aos usuários, além dos custos envolvidos.
A degradação da fachada pode ser atribuída aos efeitos combinados de
diferentes mecanismos de degradação, tendo um forte impacto sobre a qualidade das
edificações. Geralmente, implica em: altos custos de manutenção, evolução da
degradação visual para problemas físicos reais da fachada e perda de
durabilidade [2]. A degradação das fachadas ocorrem principalmente devido
à influência combinada de chuva, vento, insolação, agentes biológicos e
poluentes atmosféricos [3][4][5].
A deterioração das fachadas é identificada tanto pelo grau de incidência,
como também pela gravidade dos defeitos, dentre os quais destacam-se:
descolamento e desplacamento cerâmico, fissuras, falhas em juntas,
manchamentos, desagregação e deterioração das placas cerâmicas [6][7][8].
Observa-se que não
somente os edifícios mais antigos como também os novos podem apresentar algum
tipo de patologia, sejam devido às falhas de projeto, execução, manutenção inadequadas
ou ainda devido às condições de exposição aos agentes atmosféricos, dentre os
quais destacam-se as variações térmicas, que são variáveis dependentes das
condições de exposição.
Para determinar
a degradação nas fachadas faz-se necessário conhecer com certo rigor os
mecanismos de degradação, ou seja, a sequência de alterações a que o
revestimento fica sujeito provocando alteração prejudicial nas suas
características físicas, químicas ou mecânicas [7]. Esta sequência de alterações ocorre em
virtude da exposição do elemento aos fatores de degradação.
As fachadas das
edificações estão sujeitas a condições de exposição que variam de acordo com as
características climatológicas da região onde estão localizadas [9].
Os fatores ambientais de degradações, dentre os quais
destacam-se as variações térmicas, os efeitos dos ventos e das chuvas e as
contaminações, atuam com diferentes intensidades em função do microclima do
edifício, particularmente das orientações das fachadas, originando níveis de
degradação variados para cada situação, o que justifica uma análise minuciosa
desses efeitos para a obtenção de um adequado diagnóstico das degradações no edifício
[10][11].
O clima de Brasília
apresenta temperaturas médias anuais consideradas elevadas, fato este que
exerce grande influência nos processos de degradação. As variações térmicas, provocam tensões
que atuam diretamente sobre os acabamentos, provocando uma dilatação térmica diferenciada
no sistema de revestimento e em cada uma de suas partes componentes (placas
cerâmicas, rejunte, cimento-cola, emboço e substrato) [7][9].
Em estudo de caso das manifestações patológicas em fachadas
com revestimentos cerâmicos de Brasília, observou-se que as fachadas com
orientação solar com maior incidência (fachadas leste, oeste, nordeste e noroeste)
foram as mais afetadas pelo descolamento de placas cerâmicas, comprovando que a
incidência da radiação solar foi um dos fatores determinantes para o surgimento
das manifestações patológicas [6][12].
Para relacionar a degradação das fachadas com os aspectos relativos ao
clima, além de verificar sua influência sobre os processos de degradação, foram
levantados os dados da radiação solar incidente nas fachadas de Brasília em
função das orientações noroeste, nordeste, sudeste, sudoeste, norte, leste, sul
e oeste (tabela 1). Para este
levantamento foi considerado uma condição especial com céu aberto, sem
nebulosidade, para chegar à uma possibilidade máxima (até mesmo improvável) de
radiação média anual incidente sobre as fachadas.
A tabela 1 mostra a
intensidade da agressividade da radiação solar anual acumulada em função da
orientação das fachadas para os períodos: 21 de janeiro, 23 de fevereiro, 21 de
março, 16 de abril, 21 de maio, 22 de junho, 24 de julho, 28 de agosto, 23 de
setembro, 20 de outubro, 22 de novembro e 22 de dezembro. Esses períodos
correspondem à projeção esferográfica dos percursos aparentes do sol
representativos da carta solar de Brasília. As orientações com maior
agressividade são, por orden de grandeza: leste, oeste, nordeste, noroeste e
norte (Tabela 1).
Tabela
1. Incidência relativa da radiação solar sobre a
orientação da fachada.
Localizada na região
central do Brasil, Brasília é uma
cidade de clima tropical de altitude, caracterizado por um período seco, de maio a setembro, com céu claro e
um período parcialmente quente e úmido, de outubro a abril, com predominância
de céu parcialmente encoberto. Por sua localização na área central do
país e sua altitude, em média 1100 m, Brasília tem amplitudes diárias de
temperatura consideráveis, especialmente no período seco, cerca de 14ºC, e na
estação chuvosa de aproximadamente 10ºC. A temperatura
média anual é de cerca de 19,8°C, podendo chegar aos 30,0°C de média das
máximas em setembro, e aos 10,5°C de média das mínimas nas madrugadas de
inverno, em julho [13].
Este
estudo consiste na análise das degradações em fachadas provocadas por
descolamentos, falhas de rejunte e fissuras em quatro edifícios de Brasília. Os
edifícios selecionados possuem idades que variam em 10 e 40 anos, com área
média das fachadas em torno de 3510 m² e área total de 14040 m². O levantamento dos danos sobre as fachadas são efetuados
conforme metodología de inspeção desenvolvida no Laboratório de Ensaio de
Materiais da Universidade de Brasília (LEM-UnB). A análise das degradações é efetuada por intermédio de uma abordagem comparativa de duas rotinas [14][15]. A
primeira rotina visa avaliar e quantificar detalhadamente os danos nas fachadas
através de sua extensão e nível geral de degradação (NGD) A segunda rotina consiste
em estabelecer parâmetros para estimar e classificar percentualmente o nível de
dano através do índice de performance (IP).
2. METODOLOGIA DO ESTUDO DAS DEGRADAÇÕES EM FACHADAS
2.1. Levantamento e classificação da incidência das degradações
em fachadas
A Figura
1 ilustra os edifícios analisados e classificados em: A e B (10 anos) e C e D (50
anos). Os danos visíveis (descolamentos, falhas de rejunte e fissuração) foram
mapeados a partir de inspeções realizadas durante
as vistorias in loco pela equipe do
Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM) da Universidade de Brasília.
Figura 1. Fachada dos edifícios com 10 anos (A e B) e 50 anos (C
e D)
O LEM-UnB possui uma equipe de especialistas em
estudos das manifestações patológicas em edifícios, os quais desenvolveram uma
metodologia que vem sendo aplicada há vários anos e consiste em diagnosticar as
principais patologias das fachadas dos edifícios em Brasília [7]. A metodologia LEM-UnB integra as seguintes etapas [6][8]:
-
Obtenção de informações preliminares: com identificação histórica de intervenções, da disposição
arquitetônica do edifício, da exposição a intempéries, da documentação das
principais regiões deterioradas e registro fotográfico amplo de todas as
fachadas do edifício.
-
Inspeção: etapa em que
compreende uma avaliação detalhada das regiões críticas ou de todas as
fachadas. Busca-se tanto documentar a composição e detalhes construtivos
(espessura) dos materiais de revestimento (argamassas, cerâmicas, alvenaria),
como também identificar as patologias e sua extensão de ocorrência. Para a
execução da inspeção é necessário o emprego de rapel, ou acesso por guindastes.
O resultado final é um mapeamento de patologias nas diferentes fachadas do
edifício.
-
Ensaios: A execução de
ensaios in loco, como o de aderência
à tração (pull-out) é um dos
elementos necessários na identificação da estabilidade mecânica da fachada. Ensaios
de características dos materiais, como a absorção e gretamento das peças
cerâmicas auxilia no entendimento do mecanismo de ocorrência de patologias.
Muitas vezes são desenvolvidos experimentos específicos para investigar
determinado mecanismo de ocorrência.
-
Diagnóstico: A etapa de
diagnóstico emprega todas as informações obtidas nas etapas anteriores na
formulação dos mecanismos específicos do desenvolvimento das patologias.
Identificam-se as causas, a intensidade dos fenômenos de deterioração, bem como
define-se a estabilidade mecânica e segurança das fachadas.
Cabe ressaltar que o mapeamento dos dados de manifestações patológicas
recolhidas das vistorias teve, como base, a proposta de mapeamento por
intermédio de sistematização gráfica com detalhamento de todas as ocorrências de
manifestações patológicas [7][16].
Os principais tipos de
manifestações patológicas que tem sido observados durante os levantamentos são
identificados como [6][8]:
-
Descolamento de cerâmica: a peça cerâmica
perdeu a continuidade com a argamassa mas não se desprendeu do revestimento.
-
Desplacamento de cerâmica: a peça cerâmica se
desprendeu da fachada.
-
Falha de rejunte: o rejuntamento entre as peças
cerâmicas fissurou e/ou se desprendeu; permitindo o acesso de água da chuva
internamente.
-
Fissuração: observou-se fissura no revestimento.
-
Eflorescência: manchas brancas formadas pela deposição de sais
oriundos da alvenaria ou do próprio revestimento.
-
Falha de vedação: danificação de juntas
principalmente na circunvizinhança de janelas e aberturas, por onde ocorre
penetração de água de chuva.
Após o levantamento e mapeamento das ocorrências das manifestações
patológicas (Figura 2) [17], as fachadas dos edifícios foram divididas para
proceder à contagem dos danos, por região de análise e por andar, para
determinar o número de ocorrências por metro quadrado.
Figura 2. Modelo de mapeamento de
danos das fachadas dos edifícios [17].
2.2. Aplicação
das rotinas de cálculo da degradação das fachadas
São empregadas duas rotinas para a análise da
degradação nas fachadas. A primeira rotina (M1) consiste no modelo para
avaliação do nível geral de degradação (NGD) baseado em fachadas rebocas e
revestidas com placas cerâmicas [5][14][18]. A segunda rotina (M2) consiste na avaliação do
índice de performance (IP) das fachadas dos edificios [15]. As rotinas M1 e M2 foram analisadas em função
da idade do edifício e da influência da incidência solar nas fachadas. Ressalta-se que as rotinas M1 e M2 foram adaptadas para estudos de
fachadas revestidas em placas cerâmicas, dando continuidade aos estudos
desenvolvidos para a quantificação da degradação em fachadas de edifícios
residenciais de Brasília [12].
Busca-se
determinar se as rotinas têm sensibilidade para identificar os diferentes
níveis de degradação em função da idade dos edificios e da ação climática sobre
os mesmos (incidência da radiação solar).
2.2.1. Rotina
M1
A rotina M1 consiste em um modelo de nível geral de degradação (NGD) das
fachadas rebocadas e revestidas em placas cerâmicas [5][14][18]. Este modelo consiste em um avanço no método
fatorial [2].
A
manutenção e idade são considerados critérios indispensáveis para determinar o
padrão de variação do NGD (1) em função do tempo. Os defeitos são ponderados
pelo fator ka,n em função do nível de risco e custo da reparação dos
defeitos.
Onde:
NGD - nível geral de degradação (%);
An
- área de uma fachada afetada por n defeitos (m²);
kn
- nível de n defeitos contidos nos intervalos (0,0; 1,0; 2,0; 3,0; 4,0);
k -
constante, equivalente ao nível da pior condição (k = 4,0);
ka,n
- importância relativa dos defeitos detectados;
Ar
- superfície da fachada exposta (m²).
O
NGD é um parâmetro que mede de maneira simples o nível de danos em relação a um
referencial máximo de dano expresso pelo termo (Ar . k). Esse parâmetro e
suas variáveis são adaptados, neste estudo, para serem utilizados nas fachadas
com revestimento em placas cerâmicas. Para tanto, as variáveis An, kn,
k, ka,n e Ar são adaptadas para reproduzir os danos
(descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) em fachadas com
revestimentos em placas cerâmicas. An corresponde à área afetada
pelos danos (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) e
identificada no mapeamento. A variável Kn representa o nível de dano,
variando de 0,0 (sem danos) à 4,0 (estado grave de degradação). A tabela 2
mostra a relação dos coeficientes utilizados neste estudo e adaptados para
fachadas em revestimentos cerâmicos.
Tabela 2. Grau de defeitos (kn) [2].
Nível de
defeito (kn)
|
Condição
|
0,0
|
Melhor condição
|
1,0
|
Boa condição
|
2,0
|
Degradação suave
|
3,0
|
Degradação extensa
|
4,0
|
Pior degradação
|
A
constante k varia também de 0,0 a 4,0 e corresponde ao nível mais acentuado de
degradação observada. A variável ka,n varia de 0,1 a 1,5 e
representa a ponderação da importância relativa atribuída à cada dano i (onde i1
= descolamento de cerâmica, i2 = falha de rejunte e i3 = fissuras).
2.2.2. Rotina
M2
A rotina M2 baseia-se no princípio de avaliação de desempenho das
vedações verticais em alvenaria de blocos ou tijolos cerâmicos baseada em
inspeções visuais [15], qualificando
e classificando as patologias através de uma adaptação do método de
identificação de deterioração, originalmente proposto pelo FIB [19] para estruturas de concreto. A rotina permite identificar as
maiores incidências de degradações através do índice de performance do elemento
(IP) para cada tipo de dano i no elemento
inspecionado (2).
Onde:
IP - índice de performance do elemento;
D - índice dos danos;
Bi - valor básico associado ao tipo de dano i;
K1i - importância do elemento de vedação (K1i
= 1,0);
K2i – grau ou intensidade do dano i;
K3i - extensão do dano i, varia em quatro
escalas de valores (0,5; 1,0; 1,5; 2,0);
K4i - urgência de intervenção para o dano i (1,0
a 5,0).
O parâmetro Bi representa o valor da importância relativa de cada
tipo de dano com relação à segurança e/ou durabilidade do elemento
inspecionado. Bi varia
entre 1,0 (manchas, falha de rejunte) e 2,0 (descolamento, destacamento e
fissuras). O parâmetro K1i
expressa a importância do elemento dentro do contexto da edificação ou uma de
suas partes (K1i = 1,0
para alvenarias do tipo convencionais). O parâmetro K2i é obtido através de critério de avaliação visual
qualitativa, variando em quatro escalas de valores (Tabela 3).
Tabela 3. Grau de danos (K2i) [15].
Classe de
severidade
|
Grau de
dano
|
K2i
|
0
|
Não detectado
|
0,0
|
1
|
Baixo (inicial)
|
0,5
|
2
|
Médio (< 25%)
|
1,0
|
3
|
Alto (25% a 75%)
|
1,5
|
4
|
Muito alto (> 75%)
|
2,0
|
O fator K3i
é um indicativo da extensão dos danos, varia também em quatro escalas de valores
(0,5-1,0-1,5-2,0). O fator K4i
varia em função da urgência da intervenção em intervalos de 1,0 a 5,0.
A Tabela 4 apresenta os intervalos de
classificação do Índice de Performance (IP) de acordo com a classe e o grau de
degradação.
Tabela 4. Classe e grau de degradação em função do Índice de Performance (IP) [15].
Classe
|
Grau da degradação
|
IP
|
I
|
Sem danos
|
0,0 - 5,0
|
II
|
Baixo grau de deterioração
|
3,0 - 10,0
|
III
|
Médio grau de deterioração
|
7,0 - 15,0
|
IV
|
Alto grau de deterioração
|
15,0 - 25,0
|
V
|
Grave grau de deterioração
|
25,0 - 35,0
|
VI
|
Crítico grau de deterioração
|
≥ 30,0
|
O Índice de Performance (IP) é também uma importante
ferramenta para a padronização na avaliação de patologias das edificações,
possibilitando estabelecer uma classificação dos elementos ou mesmo das
edificações quanto à severidade dos danos [15].
3. LEVANTAMENTOS
E RESULTADOS
A partir
do levantamento das degradações dos edifícios, obteve-se, preliminarmente, um
nível de degradação e um nível de performance para cada caso particular de dano
estudado (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuração) em função das
orientações solares (noroeste-NO, sudeste-SE, nordeste-NE, sudoeste-SO,
oeste-O, leste-L, norte-N e sul-S).
As fachadas utilizadas
neste estudo de caso (figura 1) possuem as seguintes características:
-
Edifícios residenciais de 6 andares.
-
Área total das quatro fachadas de 14040
m².
-
Estrutura em concreto armado.
-
Vedação em bloco cerâmico.
-
Revestimentos em placas cerâmicas.
A Figura
3 mostra um gráfico com as incidências (em porcentagem) de todas as falhas
(descolamento de cerâmica, falha de rejunte, fissuras, eflorescências, falhas
de vedação e outros) observadas nas fachadas dos edifícios. Observa-se que o percentual de falhas de descolamento de cerâmica está compatível
com estudos anteriores realizados em fachadas de Brasília [6][7][8].
Figura 3. Ocorrência de manifestações patológicas gerais nas fachadas dos edifícios.
Os
resultados do nível de degradação (NGD) e índice de performance (IP) demonstram
o comportamento das fachadas tanto em relação às duas rotinas analisadas (M1 e
M2), como também em relação às direções de exposição (figuras 4 e 5).
Os
resultados são apresentados em gráficos de colunas que representam o NGD
(figura 4) e IP (figura 5) tanto para dois edifícios com fachadas consideradas jovens
(10 anos), quanto para dois edifícios com fachadas em idades superiores (40
anos). Cada edifício é avaliado em todas as quatro diferentes orientações das
fachadas (norte, sul, leste, oeste ou nordeste, sudeste, sudoeste, noroeste). Cabe
ressaltar que as fachadas com orientações a leste, oeste, nordeste e noroeste
de Brasília sofrem as maiores incidências solares (Tabela 1).
Figura 4. Resultados da
degradação geral para edifícios com 10 anos (A e B) e 40 anos (C e D) em função
da orientação solar utilizando o NGD para M1.
A rotina
M1 permitiu distinguir nitidamente a degradação em função da idade (figura 4).
O NGD médio de 10 anos foi de 29% e o de 40 anos foi de 127%. Os resultados
obtidos para o edifício C (40 anos) mostraram nitidamente que a fachada
noroeste apresentou maior valor no nível geral de degradação (NGD), caracterizando
a influência da incidência solar sobre essa fachada. Esse resultado é
comprovado com os valores da tabela 1, que mostra, nesta direção (noroeste) a
terceira maior incidência da radiação solar. Para o edifício A (10 anos), a
fachada exposta para a direção nordeste foi a que apresentou condição de
degradação mais crítica. Esse resultado também apresenta coerência com a
incidência da radiação solar incidente sobre as fachadas, conforme mostra a tabela
1, que apresentou para a direção nordeste o segundo maior valor da radiação solar.
Nos
edificios B (10 anos) e D (40 anos) observa-se um comportamento diferenciado
para o NGD em relação à orientação solar, tendo em vista que, para o edificio
B, a direção norte apresentou maior valor do NGD e para o edificio D, a direção
oeste apresentou o maior valor. Entretanto, essas direções não apresentaram
valores excessivos de radiação solar quando comparadas com as direções leste ou
nordeste.
A
figura 5 apresenta os resultados observados a partir da aplicação da rotina M2.
O IP médio das fachadas de 10 anos foi de 7,0 e das fachadas de 40 anos foi de
39,0, caracterizando nítidamente um acréscimo dos danos nas fachadas mais
antigas. Conforme observado para a rotina M1, o edifício C (40 anos), para a
rotina M2, também apresentou o maior valor do índice de performance na fachada
noroeste, além do maior índice de degradação. Os edifícios A e B (10 anos)
apresentaram degradação de grandezas aproximadas. O índice de performance (IP)
foi sensível à idade e degradação dos 4 edifícios em estudo. Os resultados para
os edifícios com 10 anos e 40 anos apresentaram coerência quando comparados com
os valores das incidências das radiações solares apresentados na tabela 1.
Figura 5. Resultados dos
índices de performance para edifícios com 10 anos (A e B) e 40 anos (C e D) em
função da orientação solar utilizando o IP para M2.
As rotinas
M1 e M2 identificaram com precisão os diferentes níveis de degradação em
relação à idade. Para os edifícios com 10 anos, ambas as rotinas apresentaram
resultados similares para as diferentes orientações solares, bem como para o
valor médio. Para os edifícios com 40 anos (C e D), as rotinas convergiram em
relação à orientação solar, sendo mais evidente na orientação mais crítica
(noroeste). Ambas as rotinas mediram satisfatoriamente, tanto os efeitos da
idade, como também da incidência solar. Enfatiza-se, entretanto, algumas
diferenças metodológicas básicas entre as mesmas:
-
A
rotina M1 apresenta proposta de formulação, cujas variáveis possuem níveis
maiores de detalhamento e precisão para quantificar e ponderar a gravidade das
fachadas. Essa complexidade se reflete tanto na interpretação do nível de
intensidade do dano (kn), como também na ponderação da variável ka,n.
-
A
rotina M1 considera a influência da porcentagem de cada dano sobre a fachada
como fator decisivo para a escolha dos valores das variáveis do NGD, bem como
considera ainda a influência da área da fachada afetada pelos danos
(descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) em função da área total
de cada fachada na determinação do NGD.
-
A
rotina M2 apresenta, em termos de implementação, uma proposta mais discreta. As
variáveis são tabeladas e sua utilização é mais direta, sem fatores de ajustes
para a determinação do IP, quando comparada com a rotina M1 para a determinação
do NGD.
-
A
rotina M2 não considera a influência da área da fachada na formulação. A área
da fachada é considerada apenas para a determinação da porcentagem dos danos a
serem considerados no início da escolha dos intervalos das variáveis.
Ambas as rotinas
apresentaram comportamentos similares da degradação nas fachadas. Neste
sentido, há que se estabelecer uma amostragem maior que possa evidenciar ou
influenciar na escolha da rotina M1 ou M2 na avaliação da degradação nas
fachadas. É notório que as rotinas convergem
para a mesma avaliação dos índices de degradação. Deve-se observar que os princípios
de cada rotina são muito diferentes e ambas foram muito sensíveis à idade dos
edifícios e à diferença de degradação nas diferentes orientações.
A forte
relação entre os índices de degradação e a incidência da radiação solar pode
ser explicada por alguns aspectos a saber:
-
A
patologia de maior incidência é o descolamento de cerâmica. Esse descolamento
nitidamente é influenciado pelos gradientes de temperatura à qual a fachada
fica exposta [6][20]. As falhas de execução em que ocorrem erros no
esmagamento da argamassa de cimento-cola também associam grande incidência ao
fenômeno por efeito térmico.
-
Quanto
à fissuração e às falhas de rejunte, as mesmas também são associadas quanto à
sua intensidade aos efeitos da temperatura.
Se as patologias observadas fossem outras, talvez essa relação com a
incidência solar não fosse tão incisiva.
4. CONCLUSÕES
Deve-se ressaltar a
particularidade do sistema construtivo residencial de Brasília, com fachadas
contínuas em torno de 3510 m² e seis andares. A partir do levantamento dos três
tipos de degradações nas fachadas (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e
fissuras) em função da orientação solar, pode-se concluir que:
-
As
rotinas M1 e M2, analisadas, representaram de forma eficiente e mostraram um
avanço na avaliação da degradação em função da idade e orientação solar.
-
As
manifestações patológicas com maior índice de ocorrência nas fachadas foram o descolamento
de cerâmica, falha de rejunte e fissuração.
-
As
manifestações patológicas investigadas apresentaram forte relação com a
incidência solar.
-
As
rotinas M1 e M2 caracterizaram uma degradação evolutiva dos edifícios B (40
anos) em relação os edifícios A (10 anos), ou seja, apresentam coerência na
modelação da degradação e vida útil.
-
As duas metodologias
identificaram a mesma fachada crítica (edifício C), comprovando a eficiência de
sua aplicabilidade e precisão de análise da ponderação e cálculo dos principais
fatores e agentes de deterioração.
AGRADESCIMENTOS
-
LABORATÓRIO
DE ENSAIO DE MATERIAIS - LEM/CDT/UnB – pela disponibilização do acervo técnico
e pelo apoio às atividades de pesquisa desenvolvidas
-
CNPq
– pelo apoio na forma de auxílio à pesquisa e bolsas de pesquisa.
-
CAPES
– pelo apoio na forma de concessão de bolsas de pesquisa.
REFERÊNCIAS
[3] p. l. Gaspar, I. Flores-Colen e J. Brito, Técnicas de diagnóstico e
classificação de fissuração em fachadas rebocadas, PATORREB, 2º Encontro sobre
Patologia e Reabilitação de Edifícios, FEUP, UPC, Porto, Portugal,( 2006).
[9] C. M. Melo Júnior
e H. Carasek, Comportamento
diferenciado na deterioração de revestimentos de argamass: influência da chuva
dirigida, IX Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, Belo Horizonte,
Minas Gerais, Brasil, (2011).
[10] R. Rivero,
Arquitetura e clima: Acondicionamento
térmico natural, D. C. Luzzatto Editores, Ed. da Universidade, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, (1985), 240p, 1ª edição.
[18]
P. L. Gaspar e J. Brito, Limit states and service life
of cement renders on facades, Journal of Materials in Civil
Engineering, (2011), Vol. 23(10), pp. 1396-1404.