segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

14 IC - NOCMAT 2013


INTERNATIONAL CONFERENCE ON NON CONVENTIONAL CONSTRUCTION MATERIALS AND TECHNOLOGIES

Conferência internacional em materiais e tecnologias de construção está programada para 24 a 27 de março de 2013 em João Pessoa - PB.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

SBTA - PRAZO FINAL



SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE ARGAMASSAS - SBTA 2013

Lembramos a todos que o prazo de envio dos artigos do SBTA 2013 é foi prorrogado para 31/12/2012 ..
BOM TRABALHO!!
www.sbta2913.ufc.br

DIVULGAÇÃO TÉCNICA - AT 05


ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DAS
FACHADAS EM EDIFÍCIOS JOVENS - QUANTIFICAÇÃO
Elton Bauer, Maria de Nazaré B. Silva e Eliane Kraus
Universidade de Brasília; Departamento de Engenharia Civil e Ambiental; Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Campus Universitário Darcy Ribeiro – 70910-900 Brasília-DF - Brasil
e-mail: elbauerlem@gmail.com
Resumo.
A partir de levantamentos de incidência de patologias nos edifícios de Brasília, têm-se observado grande percentual de patologias nas fachadas, tanto em edificios muito jovens (menores de 10 anos) como também nas fachadas com idade intermediária (30 a 50 anos). Tendo por referência uma vida útil de 25 anos para os revestimentos de fachada, as altas incidências de ocorrência de danos e patologías,de forma muito precoce, ensejam questionamentos importantes, não só na questão técnica, mas também nos aspectos de custo. Para fornecer respostas a esse tema, se faz necessário não só identificar as incidências e causas dessas manifestações, mas também poder estimar qual a vida útil residual para as fachadas dos edificios inspecionados.
O presente estudo busca definir e aplicar índices de deterioração de modo a quantificar os danos observados em quatro edificios com diferentes idades variando entre 10 e 40 anos. Propõe-se uma metodologia sistêmica, adaptada de outros estudos, de modo a melhor quantificar o grau de deterioração em função de diversas variáveis, dentre elas: o tempo (idade), as condições de exposição da fachada aos elementos climáticos (principalmente a radiação solar), e os detalhes e disposições construtivas dos edificios. Busca-se correlacionar o grau de incidência da radiação solar com os índices quantitativos de danos observados. Os resultados confirmaram o efeito deletério da orientação noroeste e oeste sobre as fachadas estudadas, bem como mostraram ser o descolamento de cerâmica o mecanismo de manifestação patológica mais representativo para a degradação das fachadas em edifícios jovens de Brasília, utilizadas neste estudo.

Palavras-chave: fachadas, vida útil, deterioração, danos

1.   INTRODUÇÃO
Brasília, capital do Brasil, é o primeiro núcleo urbano construído no século XX considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO. Ao atingir 50 anos, observam-se vários casos de patologías nos sistemas de revestimento nas fachadas, sendo que muitos dos casos tem ocorrido em edifícios jovens (menos de 10 anos). A tipología básica das fachadas de edificios emprega revestimentos em argamassa e revestimentos em placas cerâmicas, havendo muitos casos do uso misto dos dois sistemas.
As fachadas das edificações são elementos construtivos que constituem a primeira barreira contra os agentes atmosféricos. Devido à esse nível de exposição, as fachadas apresentam um processo de envelhecimento e perda de desempenho mais detectável do que em outros sistemas ou componentes da edificação [1]. Diversas incidências de manifestações patológicas tem sido observadas nas fachadas dos edifícios de Brasília em idades precoces em relação à vida útil esperada, sendo causa de recentes reparos nas fachadas, causando todo tipo de desconforto, desde físico, visual e estético aos usuários, além dos custos envolvidos.
A degradação da fachada pode ser atribuída aos efeitos combinados de diferentes mecanismos de degradação, tendo um forte impacto sobre a qualidade das edificações. Geralmente, implica em: altos custos de manutenção, evolução da degradação visual para problemas físicos reais da fachada e perda de durabilidade [2]. A degradação das fachadas ocorrem principalmente devido à influência combinada de chuva, vento, insolação, agentes biológicos e poluentes atmosféricos [3][4][5].
A deterioração das fachadas é identificada tanto pelo grau de incidência, como também pela gravidade dos defeitos, dentre os quais destacam-se: descolamento e desplacamento cerâmico, fissuras, falhas em juntas, manchamentos, desagregação e deterioração das placas cerâmicas [6][7][8].
Observa-se que não somente os edifícios mais antigos como também os novos podem apresentar algum tipo de patologia, sejam devido às falhas de projeto, execução, manutenção inadequadas ou ainda devido às condições de exposição aos agentes atmosféricos, dentre os quais destacam-se as variações térmicas, que são variáveis dependentes das condições de exposição.
Para determinar a degradação nas fachadas faz-se necessário conhecer com certo rigor os mecanismos de degradação, ou seja, a sequência de alterações a que o revestimento fica sujeito provocando alteração prejudicial nas suas características físicas, químicas ou mecânicas [7]. Esta sequência de alterações ocorre em virtude da exposição do elemento aos fatores de degradação.
As fachadas das edificações estão sujeitas a condições de exposição que variam de acordo com as características climatológicas da região onde estão localizadas [9].
Os fatores ambientais de degradações, dentre os quais destacam-se as variações térmicas, os efeitos dos ventos e das chuvas e as contaminações, atuam com diferentes intensidades em função do microclima do edifício, particularmente das orientações das fachadas, originando níveis de degradação variados para cada situação, o que justifica uma análise minuciosa desses efeitos para a obtenção de um adequado diagnóstico das degradações no edifício [10][11].
O clima de Brasília apresenta temperaturas médias anuais consideradas elevadas, fato este que exerce grande influência nos processos de degradação. As variações térmicas, provocam tensões que atuam diretamente sobre os acabamentos, provocando uma dilatação térmica diferenciada no sistema de revestimento e em cada uma de suas partes componentes (placas cerâmicas, rejunte, cimento-cola, emboço e substrato) [7][9].
Em estudo de caso das manifestações patológicas em fachadas com revestimentos cerâmicos de Brasília, observou-se que as fachadas com orientação solar com maior incidência (fachadas leste, oeste, nordeste e noroeste) foram as mais afetadas pelo descolamento de placas cerâmicas, comprovando que a incidência da radiação solar foi um dos fatores determinantes para o surgimento das manifestações patológicas [6][12].
Para relacionar a degradação das fachadas com os aspectos relativos ao clima, além de verificar sua influência sobre os processos de degradação, foram levantados os dados da radiação solar incidente nas fachadas de Brasília em função das orientações noroeste, nordeste, sudeste, sudoeste, norte, leste, sul e oeste (tabela 1). Para este levantamento foi considerado uma condição especial com céu aberto, sem nebulosidade, para chegar à uma possibilidade máxima (até mesmo improvável) de radiação média anual incidente sobre as fachadas.
A tabela 1 mostra a intensidade da agressividade da radiação solar anual acumulada em função da orientação das fachadas para os períodos: 21 de janeiro, 23 de fevereiro, 21 de março, 16 de abril, 21 de maio, 22 de junho, 24 de julho, 28 de agosto, 23 de setembro, 20 de outubro, 22 de novembro e 22 de dezembro. Esses períodos correspondem à projeção esferográfica dos percursos aparentes do sol representativos da carta solar de Brasília. As orientações com maior agressividade são, por orden de grandeza: leste, oeste, nordeste, noroeste e norte (Tabela 1).
Tabela 1. Incidência relativa da radiação solar sobre a orientação da fachada.

Localizada na região central do Brasil, Brasília é uma cidade de clima tropical de altitude, caracterizado por um período seco, de maio a setembro, com céu claro e um período parcialmente quente e úmido, de outubro a abril, com predominância de céu parcialmente encoberto. Por sua localização na área central do país e sua altitude, em média 1100 m, Brasília tem amplitudes diárias de temperatura consideráveis, especialmente no período seco, cerca de 14ºC, e na estação chuvosa de aproximadamente 10ºC. A temperatura média anual é de cerca de 19,8°C, podendo chegar aos 30,0°C de média das máximas em setembro, e aos 10,5°C de média das mínimas nas madrugadas de inverno, em julho [13].
Este estudo consiste na análise das degradações em fachadas provocadas por descolamentos, falhas de rejunte e fissuras em quatro edifícios de Brasília. Os edifícios selecionados possuem idades que variam em 10 e 40 anos, com área média das fachadas em torno de 3510 m² e área total de 14040 m². O levantamento dos danos sobre as fachadas são efetuados conforme metodología de inspeção desenvolvida no Laboratório de Ensaio de Materiais da Universidade de Brasília (LEM-UnB). A análise das degradações é efetuada por intermédio de uma abordagem comparativa de duas rotinas [14][15]. A primeira rotina visa avaliar e quantificar detalhadamente os danos nas fachadas através de sua extensão e nível geral de degradação (NGD) A segunda rotina consiste em estabelecer parâmetros para estimar e classificar percentualmente o nível de dano através do índice de performance (IP).

2.   METODOLOGIA DO ESTUDO DAS DEGRADAÇÕES EM FACHADAS

2.1.  Levantamento e classificação da incidência das degradações em fachadas
A Figura 1 ilustra os edifícios analisados e classificados em: A e B (10 anos) e C e D (50 anos). Os danos visíveis (descolamentos, falhas de rejunte e fissuração) foram mapeados a partir de inspeções realizadas durante as vistorias in loco pela equipe do Laboratório de Ensaios de Materiais (LEM) da Universidade de Brasília.
Figura 1. Fachada dos edifícios com 10 anos (A e B) e 50 anos (C e D)
O LEM-UnB possui uma equipe de especialistas em estudos das manifestações patológicas em edifícios, os quais desenvolveram uma metodologia que vem sendo aplicada há vários anos e consiste em diagnosticar as principais patologias das fachadas dos edifícios em Brasília [7]. A metodologia LEM-UnB integra as seguintes etapas [6][8]:
-                Obtenção de informações preliminares: com identificação histórica de intervenções, da disposição arquitetônica do edifício, da exposição a intempéries, da documentação das principais regiões deterioradas e registro fotográfico amplo de todas as fachadas do edifício.
-                Inspeção: etapa em que compreende uma avaliação detalhada das regiões críticas ou de todas as fachadas. Busca-se tanto documentar a composição e detalhes construtivos (espessura) dos materiais de revestimento (argamassas, cerâmicas, alvenaria), como também identificar as patologias e sua extensão de ocorrência. Para a execução da inspeção é necessário o emprego de rapel, ou acesso por guindastes. O resultado final é um mapeamento de patologias nas diferentes fachadas do edifício.
-                Ensaios: A execução de ensaios in loco, como o de aderência à tração (pull-out) é um dos elementos necessários na identificação da estabilidade mecânica da fachada. Ensaios de características dos materiais, como a absorção e gretamento das peças cerâmicas auxilia no entendimento do mecanismo de ocorrência de patologias. Muitas vezes são desenvolvidos experimentos específicos para investigar determinado mecanismo de ocorrência.
-                Diagnóstico: A etapa de diagnóstico emprega todas as informações obtidas nas etapas anteriores na formulação dos mecanismos específicos do desenvolvimento das patologias. Identificam-se as causas, a intensidade dos fenômenos de deterioração, bem como define-se a estabilidade mecânica e segurança das fachadas.

Cabe ressaltar que o mapeamento dos dados de manifestações patológicas recolhidas das vistorias teve, como base, a proposta de mapeamento por intermédio de sistematização gráfica com detalhamento de todas as ocorrências de manifestações patológicas [7][16].
Os principais tipos de manifestações patológicas que tem sido observados durante os levantamentos são identificados como [6][8]:
-                Descolamento de cerâmica: a peça cerâmica perdeu a continuidade com a argamassa mas não se desprendeu do revestimento.
-                Desplacamento de cerâmica: a peça cerâmica se desprendeu da fachada.
-                Falha de rejunte: o rejuntamento entre as peças cerâmicas fissurou e/ou se desprendeu; permitindo o acesso de água da chuva internamente.
-                Fissuração: observou-se fissura no revestimento.
-                Eflorescência: manchas brancas formadas pela deposição de sais oriundos da alvenaria ou do próprio revestimento.
-                Falha de vedação: danificação de juntas principalmente na circunvizinhança de janelas e aberturas, por onde ocorre penetração de água de chuva.
Após o levantamento e mapeamento das ocorrências das manifestações patológicas (Figura 2) [17], as fachadas dos edifícios foram divididas para proceder à contagem dos danos, por região de análise e por andar, para determinar o número de ocorrências por metro quadrado.
Figura 2. Modelo de mapeamento de danos das fachadas dos edifícios [17].
2.2.  Aplicação das rotinas de cálculo da degradação das fachadas

São empregadas duas rotinas para a análise da degradação nas fachadas. A primeira rotina (M1) consiste no modelo para avaliação do nível geral de degradação (NGD) baseado em fachadas rebocas e revestidas com placas cerâmicas [5][14][18]. A segunda rotina (M2) consiste na avaliação do índice de performance (IP) das fachadas dos edificios [15]. As rotinas M1 e M2 foram analisadas em função da idade do edifício e da influência da incidência solar nas fachadas. Ressalta-se que as rotinas M1 e M2 foram adaptadas para estudos de fachadas revestidas em placas cerâmicas, dando continuidade aos estudos desenvolvidos para a quantificação da degradação em fachadas de edifícios residenciais de Brasília [12].
Busca-se determinar se as rotinas têm sensibilidade para identificar os diferentes níveis de degradação em função da idade dos edificios e da ação climática sobre os mesmos (incidência da radiação solar).

2.2.1.    Rotina M1
A rotina M1 consiste em um modelo de nível geral de degradação (NGD) das fachadas rebocadas e revestidas em placas cerâmicas [5][14][18]. Este modelo consiste em um avanço no método fatorial [2].
A manutenção e idade são considerados critérios indispensáveis para determinar o padrão de variação do NGD (1) em função do tempo. Os defeitos são ponderados pelo fator ka,n em função do nível de risco e custo da reparação dos defeitos.
            
Onde:
NGD - nível geral de degradação (%);
An - área de uma fachada afetada por n defeitos (m²);
kn - nível de n defeitos contidos nos intervalos (0,0; 1,0; 2,0; 3,0; 4,0);
k - constante, equivalente ao nível da pior condição (k = 4,0);
ka,n - importância relativa dos defeitos detectados;
Ar - superfície da fachada exposta (m²).
O NGD é um parâmetro que mede de maneira simples o nível de danos em relação a um referencial máximo de dano expresso pelo termo (Ar . k). Esse parâmetro e suas variáveis são adaptados, neste estudo, para serem utilizados nas fachadas com revestimento em placas cerâmicas. Para tanto, as variáveis An, kn, k, ka,n e Ar são adaptadas para reproduzir os danos (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) em fachadas com revestimentos em placas cerâmicas. An corresponde à área afetada pelos danos (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) e identificada no mapeamento. A variável Kn representa o nível de dano, variando de 0,0 (sem danos) à 4,0 (estado grave de degradação). A tabela 2 mostra a relação dos coeficientes utilizados neste estudo e adaptados para fachadas em revestimentos cerâmicos. 
 Tabela 2. Grau de defeitos (kn) [2].
Nível de defeito (kn)
Condição
0,0
Melhor condição
1,0
Boa condição
2,0
Degradação suave
3,0
Degradação extensa
4,0
Pior degradação

A constante k varia também de 0,0 a 4,0 e corresponde ao nível mais acentuado de degradação observada. A variável ka,n varia de 0,1 a 1,5 e representa a ponderação da importância relativa atribuída à cada dano i (onde i1 = descolamento de cerâmica, i2 = falha de rejunte e i3 = fissuras).

2.2.2.    Rotina M2
A rotina M2 baseia-se no princípio de avaliação de desempenho das vedações verticais em alvenaria de blocos ou tijolos cerâmicos baseada em inspeções visuais [15], qualificando e classificando as patologias através de uma adaptação do método de identificação de deterioração, originalmente proposto pelo FIB [19] para estruturas de concreto. A rotina permite identificar as maiores incidências de degradações através do índice de performance do elemento (IP) para cada tipo de dano i no elemento inspecionado (2).

Onde:
IP - índice de performance do elemento;
D - índice dos danos;
Bi - valor básico associado ao tipo de dano i;
K1i - importância do elemento de vedação (K1i = 1,0);
K2i – grau ou intensidade do dano i;
K3i - extensão do dano i, varia em quatro escalas de valores (0,5; 1,0; 1,5; 2,0);
K4i - urgência de intervenção para o dano i (1,0 a 5,0).
O parâmetro Bi representa o valor da importância relativa de cada tipo de dano com relação à segurança e/ou durabilidade do elemento inspecionado. Bi varia entre 1,0 (manchas, falha de rejunte) e 2,0 (descolamento, destacamento e fissuras). O parâmetro K1i expressa a importância do elemento dentro do contexto da edificação ou uma de suas partes (K1i = 1,0 para alvenarias do tipo convencionais). O parâmetro K2i é obtido através de critério de avaliação visual qualitativa, variando em quatro escalas de valores (Tabela 3).
                                                            Tabela 3. Grau de danos (K2i) [15].
Classe de severidade
Grau de dano
K2i
0
Não detectado
0,0
1
Baixo (inicial)
0,5
2
Médio (< 25%)
1,0
3
Alto (25% a 75%)
1,5
4
Muito alto (> 75%)
2,0

O fator K3i é um indicativo da extensão dos danos, varia também em quatro escalas de valores (0,5-1,0-1,5-2,0). O fator K4i varia em função da urgência da intervenção em intervalos de 1,0 a 5,0.
A Tabela 4 apresenta os intervalos de classificação do Índice de Performance (IP) de acordo com a classe e o grau de degradação.
Tabela 4. Classe e grau de degradação em função do Índice de Performance (IP) [15].
Classe
Grau da degradação
IP
I
Sem danos
0,0 - 5,0
II
Baixo grau de deterioração
3,0 - 10,0
III
Médio grau de deterioração
7,0 - 15,0
IV
Alto grau de deterioração
15,0 - 25,0
V
Grave grau de deterioração
25,0 - 35,0
VI
Crítico grau de deterioração
≥ 30,0

O Índice de Performance (IP) é também uma importante ferramenta para a padronização na avaliação de patologias das edificações, possibilitando estabelecer uma classificação dos elementos ou mesmo das edificações quanto à severidade dos danos [15].

3.   LEVANTAMENTOS E RESULTADOS

A partir do levantamento das degradações dos edifícios, obteve-se, preliminarmente, um nível de degradação e um nível de performance para cada caso particular de dano estudado (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuração) em função das orientações solares (noroeste-NO, sudeste-SE, nordeste-NE, sudoeste-SO, oeste-O, leste-L, norte-N e sul-S).
As fachadas utilizadas neste estudo de caso (figura 1) possuem as seguintes características:
-                Edifícios residenciais de 6 andares.
-                Área total das quatro fachadas de 14040 m².
-                Estrutura em concreto armado.
-                Vedação em bloco cerâmico.
-                Revestimentos em placas cerâmicas.
A Figura 3 mostra um gráfico com as incidências (em porcentagem) de todas as falhas (descolamento de cerâmica, falha de rejunte, fissuras, eflorescências, falhas de vedação e outros) observadas nas fachadas dos edifícios. Observa-se que o percentual de falhas de descolamento de cerâmica está compatível com estudos anteriores realizados em fachadas de Brasília [6][7][8].



Figura 3. Ocorrência de manifestações patológicas gerais nas fachadas dos edifícios.
Os resultados do nível de degradação (NGD) e índice de performance (IP) demonstram o comportamento das fachadas tanto em relação às duas rotinas analisadas (M1 e M2), como também em relação às direções de exposição (figuras 4 e 5).
Os resultados são apresentados em gráficos de colunas que representam o NGD (figura 4) e IP (figura 5) tanto para dois edifícios com fachadas consideradas jovens (10 anos), quanto para dois edifícios com fachadas em idades superiores (40 anos). Cada edifício é avaliado em todas as quatro diferentes orientações das fachadas (norte, sul, leste, oeste ou nordeste, sudeste, sudoeste, noroeste). Cabe ressaltar que as fachadas com orientações a leste, oeste, nordeste e noroeste de Brasília sofrem as maiores incidências solares (Tabela 1).
Figura 4. Resultados da degradação geral para edifícios com 10 anos (A e B) e 40 anos (C e D) em função da orientação solar utilizando o NGD para M1.
A rotina M1 permitiu distinguir nitidamente a degradação em função da idade (figura 4). O NGD médio de 10 anos foi de 29% e o de 40 anos foi de 127%. Os resultados obtidos para o edifício C (40 anos) mostraram nitidamente que a fachada noroeste apresentou maior valor no nível geral de degradação (NGD), caracterizando a influência da incidência solar sobre essa fachada. Esse resultado é comprovado com os valores da tabela 1, que mostra, nesta direção (noroeste) a terceira maior incidência da radiação solar. Para o edifício A (10 anos), a fachada exposta para a direção nordeste foi a que apresentou condição de degradação mais crítica. Esse resultado também apresenta coerência com a incidência da radiação solar incidente sobre as fachadas, conforme mostra a tabela 1, que apresentou para a direção nordeste o segundo maior valor da radiação solar.
Nos edificios B (10 anos) e D (40 anos) observa-se um comportamento diferenciado para o NGD em relação à orientação solar, tendo em vista que, para o edificio B, a direção norte apresentou maior valor do NGD e para o edificio D, a direção oeste apresentou o maior valor. Entretanto, essas direções não apresentaram valores excessivos de radiação solar quando comparadas com as direções leste ou nordeste.
A figura 5 apresenta os resultados observados a partir da aplicação da rotina M2. O IP médio das fachadas de 10 anos foi de 7,0 e das fachadas de 40 anos foi de 39,0, caracterizando nítidamente um acréscimo dos danos nas fachadas mais antigas. Conforme observado para a rotina M1, o edifício C (40 anos), para a rotina M2, também apresentou o maior valor do índice de performance na fachada noroeste, além do maior índice de degradação. Os edifícios A e B (10 anos) apresentaram degradação de grandezas aproximadas. O índice de performance (IP) foi sensível à idade e degradação dos 4 edifícios em estudo. Os resultados para os edifícios com 10 anos e 40 anos apresentaram coerência quando comparados com os valores das incidências das radiações solares apresentados na tabela 1.
Figura 5. Resultados dos índices de performance para edifícios com 10 anos (A e B) e 40 anos (C e D) em função da orientação solar utilizando o IP para M2.
As rotinas M1 e M2 identificaram com precisão os diferentes níveis de degradação em relação à idade. Para os edifícios com 10 anos, ambas as rotinas apresentaram resultados similares para as diferentes orientações solares, bem como para o valor médio. Para os edifícios com 40 anos (C e D), as rotinas convergiram em relação à orientação solar, sendo mais evidente na orientação mais crítica (noroeste). Ambas as rotinas mediram satisfatoriamente, tanto os efeitos da idade, como também da incidência solar. Enfatiza-se, entretanto, algumas diferenças metodológicas básicas entre as mesmas:
-                A rotina M1 apresenta proposta de formulação, cujas variáveis possuem níveis maiores de detalhamento e precisão para quantificar e ponderar a gravidade das fachadas. Essa complexidade se reflete tanto na interpretação do nível de intensidade do dano (kn), como também na ponderação da variável ka,n.
-                A rotina M1 considera a influência da porcentagem de cada dano sobre a fachada como fator decisivo para a escolha dos valores das variáveis do NGD, bem como considera ainda a influência da área da fachada afetada pelos danos (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) em função da área total de cada fachada na determinação do NGD.
-                A rotina M2 apresenta, em termos de implementação, uma proposta mais discreta. As variáveis são tabeladas e sua utilização é mais direta, sem fatores de ajustes para a determinação do IP, quando comparada com a rotina M1 para a determinação do NGD.
-                A rotina M2 não considera a influência da área da fachada na formulação. A área da fachada é considerada apenas para a determinação da porcentagem dos danos a serem considerados no início da escolha dos intervalos das variáveis.
Ambas as rotinas apresentaram comportamentos similares da degradação nas fachadas. Neste sentido, há que se estabelecer uma amostragem maior que possa evidenciar ou influenciar na escolha da rotina M1 ou M2 na avaliação da degradação nas fachadas. É notório que as rotinas convergem para a mesma avaliação dos índices de degradação. Deve-se observar que os princípios de cada rotina são muito diferentes e ambas foram muito sensíveis à idade dos edifícios e à diferença de degradação nas diferentes orientações.
A forte relação entre os índices de degradação e a incidência da radiação solar pode ser explicada por alguns aspectos a saber:
-                A patologia de maior incidência é o descolamento de cerâmica. Esse descolamento nitidamente é influenciado pelos gradientes de temperatura à qual a fachada fica exposta [6][20]. As falhas de execução em que ocorrem erros no esmagamento da argamassa de cimento-cola também associam grande incidência ao fenômeno por efeito térmico.
-                Quanto à fissuração e às falhas de rejunte, as mesmas também são associadas quanto à sua intensidade aos efeitos da temperatura.
Se as patologias observadas fossem outras, talvez essa relação com a incidência solar não fosse tão incisiva.
4.   CONCLUSÕES
Deve-se ressaltar a particularidade do sistema construtivo residencial de Brasília, com fachadas contínuas em torno de 3510 m² e seis andares. A partir do levantamento dos três tipos de degradações nas fachadas (descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuras) em função da orientação solar, pode-se concluir que:
-                As rotinas M1 e M2, analisadas, representaram de forma eficiente e mostraram um avanço na avaliação da degradação em função da idade e orientação solar.
-                As manifestações patológicas com maior índice de ocorrência nas fachadas foram o descolamento de cerâmica, falha de rejunte e fissuração.
-                As manifestações patológicas investigadas apresentaram forte relação com a incidência solar.
-                As rotinas M1 e M2 caracterizaram uma degradação evolutiva dos edifícios B (40 anos) em relação os edifícios A (10 anos), ou seja, apresentam coerência na modelação da degradação e vida útil.
-                As duas metodologias identificaram a mesma fachada crítica (edifício C), comprovando a eficiência de sua aplicabilidade e precisão de análise da ponderação e cálculo dos principais fatores e agentes de deterioração.


AGRADESCIMENTOS
-                LABORATÓRIO DE ENSAIO DE MATERIAIS - LEM/CDT/UnB – pela disponibilização do acervo técnico e pelo apoio às atividades de pesquisa desenvolvidas
-                CNPq – pelo apoio na forma de auxílio à pesquisa e bolsas de pesquisa.
-                CAPES – pelo apoio na forma de concessão de bolsas de pesquisa.

REFERÊNCIAS

[3]       p. l. Gaspar, I. Flores-Colen e J. Brito, Técnicas de diagnóstico e classificação de fissuração em fachadas rebocadas, PATORREB, 2º Encontro sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios, FEUP, UPC, Porto, Portugal,( 2006).
[9]       C. M. Melo Júnior e H. Carasek, Comportamento diferenciado na deterioração de revestimentos de argamass: influência da chuva dirigida, IX Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, (2011).
[10]    R. Rivero, Arquitetura e clima: Acondicionamento térmico natural, D. C. Luzzatto Editores, Ed. da Universidade, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil, (1985), 240p, 1ª edição.
[12]    E. Bauer, E. Kraus e M. N. B. Silva, Patologia e deterioração das fachadas de edifícios em brasília – estudo da quantificação de danos, PATORREB, 4º Congreso de patología y rehabilitación de edificios, Santiago de Compostela, Espanha, (2012).
[14]    P. L. Gaspar e J. Brito, The perception of damage on rendered façades, XII DBMC International Conference on Durability of Building Materials and Components, Porto, Portugal, (2011).
[18]    P. L. Gaspar e J. Brito, Limit states and service life of cement renders on facades, Journal of Materials in Civil Engineering, (2011), Vol. 23(10), pp. 1396-1404.