quinta-feira, 30 de maio de 2013

ARTIGO TÉCNICO AT 16 - Efeitos térmicos em barragens

Trazemos aqui a temática dos efeitos térmicos em barragens de concreto. Esse estudo foi desenvolvido no PECC - UnB e traz abordagens bastante interessantes.
Boa leitura,
Materials and Materiais (matandmat.blog@gmail.com)


Um estudo numérico de efeitos térmicos em barragens

Coelho, Nailde de Amorim (*); Pedroso, Lineu José (**); Rêgo, João Henrique da Silva (**); Nepomuceno, Antonio Alberto (**).

(*) Doutoranda em Estruturas e Construção Civil, - UnB; Professora,  IFSertao;

(**) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – UnB.

Revisão e adequação: pesquisador Elier Pavón de La Fé (materials and materiais)
Enviado por: João Henrique da Silva Rêgo


 INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS

No Brasil grandes projetos de barragens estão previstos e em curso, principalmente no norte do país, fato que torna os estudos dessas estruturas um aspecto importante e estratégico no desenvolvimento técnico nacional. As barragens são barreiras ou estruturas que cruzam córregos, rios ou canais para confinar e assim controlar o fluxo da água. Podem variar de pequenos maciços de terra a enormes estruturas de concreto, geralmente usadas para fornecimento de água, energia hidrelétrica e irrigação (CBDB, 2008). Pedroso (2002), também afirma que são uma das formas mais tradicionais de armazenar água é a construção de barreiras em rios que apresentem potencial hidráulico, ou seja, vazão adequada que permita a acumulação de água.

Dentre os tipos de barragens de interesse estão às barragens de concreto de gravidade, que são constituídas por grandes maciços de concreto (concreto massa).As barragens de gravidade são os tipos mais comuns e que requerem a menor manutenção, se adaptam em qualquer localidade, mas tem limitações de altura com relação á base e á fundação (Creager, 1964). A Eletrobrás (2000) diz que este tipo de barragem é capaz de resistir, com seu peso próprio, à pressão da água do reservatório e á supressão das águas que se infiltram pelas fundações.

Dentre muitos problemas existentes nesse tipo de barragem, temos os efeitos térmicos que levam as fissurações devido ao surgimento de tensões ocasionadas pelas variações de temperaturas internas e externas ao volume do concreto. Segundo Fairbairn et al. (2003) as grandes estruturas de concreto, tais como barragens, blocos de fundação e lajes de pontes, podem estar sujeitas a fissurações em idades precoces devido ás tensões térmicas e a indução da retração autógena. Neste aspecto, não só, são importantes as fissuras, desde o ponto de vista de durabilidade, os gradientes de temperatura geram também, deformações que não devem ser desprezadas numa análise estrutural (Kawamura, 2005).

A análise do gradiente térmico antes da construção dessas estruturas é primordial para que se possa efetuar uma prevenção das fissuras, utilizando-se métodos de redução da temperatura. Esse diagnóstico pode ser realizado por diversos procedimentos, em particular, com o auxilio de uma análise numérica baseada no Método dos Elementos Finitos (MEF), que permite uma avaliação da temperatura para diferentes propriedades, métodos construtivos, condições iniciais e de contorno no concreto. Neste trabalho, para um perfil típico de barragem brasileira, submetido às diversas condições de uso corrente na execução dessas obras, é feito uma análise térmica numérica pelo MEF com o uso do software ANSYS.
  
O estudo dos efeitos térmicos oriundos do calor produzido na massa de concreto é tratado dentro de uma ampla gama de fatores intervenientes, de forma a se evidenciar a importância e natureza dos parâmetros que influenciam no fenômeno analisado.

Com o uso dessa ferramenta computacional o mapeamento das temperaturas pode ser analisado, verificando-se os gradientes térmicos e, buscando-se formas de reduzir os efeitos da temperatura. Os resultados mostram que as variações de temperaturas na análise de uma barragem de gravidade construída em camadas, para intervalos de lançamento entre as camadas de dois dias. Dessa forma, observam-se diferentes temperaturas alcançadas, assim como se pode avaliar os pontos críticos de temperatura nocivos à estrutura.


MATERIAIS/MÉTODOS/DESENVOLVIMENTO

Dentre os problemas existentes nesse tipo de barragem, uma das grandes preocupações das empresas construtoras é com o efeito térmico que levam às fissurações. As tensões de origem térmica podem ser devidas a variações de temperaturas atmosféricas ou temperaturas internas (Coelho, 2012).

Em uma barragem de concreto o efeito da hidratação do cimento produz uma reação exotérmica com uma elevação significativa da temperatura desse material. Além do calor de hidratação existem outros fenômenos térmicos que atuam diretamente em uma barragem: a radiação solar, a condução e a convecção. A Figura 1 representa o fluxo de calor que ocorre em uma barragem. Nas barragens de concreto, é reconhecida a importância da elevação da temperatura do concreto devido ao calor de hidratação e à subsequente retração e fissuração que ocorre no resfriamento.
Figura 1 - Fluxo de calor em barragem.

Este trabalho mostra a análise de um perfil de barragem, o qual é baseado em uma seção típica de barragem real. No entanto, utilizou-se altura da barragem de 10 m e as demais medidas proporcionais a essa altura, uma vez que a simulação pode ser reproduzida para qualquer dimensão. Para esse estudo, admitiu-se a estrutura maciça e a construção em camadas de 1 m, como mostra a Figura 2. 


Figura 2 - Subdivisão ds estrutura em área e malhas de elementos finitos

Para a análise, admitiu-se também um intervalo de concretagem das camadas de dois dias. Dessa forma, quando a terceira camada é lançada, a segunda camada está com dois dias e a primeira com quatro dias de concretagem. Foram empregadas para as propriedades de condutividade térmica do concreto de 2,27 W/m°C, calor específico de 1063 J/g°C e massa específica de 2295 kg/m3. Esses valores são baseados em valores experimentais, de acordo com Andrade (1997).

Para análise do fenômeno da transferência e geração de calor no concreto, foi utilizado o programa ANSYS, que faz uso do método dos elementos finitos na resolução dos problemas, por meio do elemento PLANE55 que tem capacidade de condução térmica em duas dimensões, 2D. O comando Birth and Death no ANSYS foi empregada para a análise em camadas. Sua função é de ativar e desativar os elementos conforme vai prosseguindo a análise.

A simulação bidimensional instável das várias etapas da sequencia de construção pode ser realizada com o Birth and Death do software, que é usado para ativar e desativar elementos. Desta forma, a análise pode ser feita com uma única malha computacional em vez de várias, uma para cada fase de construção (Krüger et al, 2003). Marques Filho (2005) afirma que em barragens utilizando o concreto em massa convencional a espessura da camada varia, em geral, entre 2,0 m e 2,5 m, enquanto utilizando o método construtivo de Concreto Compactado com Rolo (CCR) esses valores estão entre 0,25 m e 0,50 m. No entanto, Bastos (2011), afirma que para concretos não refrigerados as camadas possuem no máximo 1 m de espessura.

É importante lembrar que Krüger (2003) fez um estudo semelhante, analisando a barragem de Salto Caxias. No entanto, foram verificadas no programa ANSYS, pela autora citada, apenas um determinado trecho da barragem e não toda a sua extensão transversal, como simulado neste trabalho.


RESULTADOS/DISCUSSÃO

As Figuras 3a e 3b mostra a evolução das isotermas de temperatura para a concretagem da primeira e segunda camada da barragem. Ressalta-se que as demais camadas estão desativadas, portanto, os resultados dessas camadas não são de interesse no momento.
Figura 3 - Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 1a, 2a, 3a, e 4a camada

As Figuras 3c e 3d apresenta também, a evolução térmica quando se concreta a terceira e quarta camada. Nota-se na terceira camada que a temperatura máxima encontra-se no centro das camadas já concretadas e na lateral tem-se uma temperatura em torno de 40°C. Na quarta camada, embora a temperatura máxima permaneça no centro, nas laterais têm-se menores temperaturas, o que aumenta o gradiente térmico.

Nas Figuras 4a e 4b, têm-se os resultados para a concretagem da quinta e sexta camada. A máxima temperatura atingida permanece no núcleo da estrutura e as camadas concretadas inicialmente começam a reduzir a temperatura, ou seja, comega a haver um resfriamento dessas camadas.

Figura 4 Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 5a, 6a, 7a e 8a camada


Na sétima e oitava camada, Figuras 4c e 4d, o fenômeno descrito anteriormente se repete, no entanto a temperatura máxima atingida comega a diminuir, isso devido ao tempo de concretagem. Neste caso, 14 e 16 dias do inicio da construção.
As camadas nove e dez, as últimas dessa construção são mostradas nas Figuras 5a e 5b. Observa-se que há uma redução da temperatura máxima atingida e também da temperatura no contorno. O valor de temperatura máxima permanece no centro da estrutura, mas há um valor alto do gradiente térmico, diferença entre a temperatura máxima e mínima, que pode provocar a fissuração da estrutura.


Figura 5 Isotermas de temperatura após 2 dias de concretagem  para 9a e 10a camada


CONCLUSÕES/AGRADECIMENTOS

O concreto massa devido a sua características de grande volume e grandes dimensôes apresenta comportamento diferenciado do concreto convencional. Há uma maior preocupação com as possíveis fissuras que venham a surgir nessas estruturas, pois geralmente este material é utilizado em obras de grande porte. Os casos mais comuns de utilização são em obras de barragens, pontes e fundações. Qualquer dano que venha a ocorrer nessas estruturas pode ocasionar grandes acidentes colocando em risco muitas vidas humanas afetando também a economia local.

O estudo do concreto massa ou qualquer outra estrutura antes da execução é fundamental na prevenção dos riscos. O conhecimento detalhado da obra que se deseja construir é essencial para que futuros problemas possam ser evitados. A temperatura no interior do concreto é um exemplo disso, pois quando apresenta valores acima do desejável, provoca tensões no concreto podendo levá-lo ao rompimento. No estudo de caso pode-se verificar que o software ANSYS é um meio rápido e pratico de se obter as isotermas de temperatura para uma estrutura. Isso implica que as estruturas podem ser analisadas antes mesmo da construção, viabilizando assim estratégias de redução de tensões devido aos efeitos térmicos.

De forma geral, pode-se concluir que o ANSYS responde bem aos problemas térmicos, fornecendo respostas mais rápidas que análises de campo ou experimentais, podendo ser utilizado como meio de prevenção de riscos.


REFERÊNCIAS

ANDRADE, W. P. (Ed.); Concretos: Massa, estrutural, projetado e compactado com rolo. Sao Paulo: Pini, 1997. 1 v.

BASTOS, P. S. S.; Concretos especiais. Notas de aula. Universidade Estadual Paulista - UNESP, Bauru, 2011.

COELHO, N. A.; Um estudo numérico do efeito térmico em concreto massa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade de Brasilia - UnB. Brasilia: 2012.

COMITÉ INTERNACIONAL DE GRANDES BARRAGENS. Barragens e a Água no Mundo. Paraná: Texto Faz Comunicagáo S/S Ltda, 2008. Título original: Dams & The World's Water.

CREAGER, William Pitcher; HINDS, Julian; JUSTIN, Joel de Witt. Engineering for Dams. New York: J Wiley 1964. 3 v.

ELETROBRÀS, Centrais Elétricas Brasileiras S.A.; Diretrizes para estudos e projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Ministério de Minas e Energia; Brasilia: 2000.

FAIRBAIRN, E. M. R.; SILVOSO, M. M.; FILHO, R. D. T.; ALVES, J. L. D.; EBECKEN, N. F. F.; Optimization of mass concrete construction using genetic algorithms. Rio de Janeiro. Elsevier: 2003.

KAVAMURA, E. E.; Estudo do comportamento termo-estrutural bidimensional de barragens de concreto utilizando o Método dos Elementos Finitos. Dissertagáo de Mestrado. Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba: 2005.

KRÜGER, D. A. V.; KAVAMURA, E. E.; CARVALHO, N. F.; HECKE, M. B.; MACHADO, R. D.; LACERDA, L. A.. Thermo-mechanical analysis of Roller Compacted Concrete Dams. Roller Compacted Concrete Dams. Holanda, p. 625-632. 2003.

PEDROSO, J. L. Barragens de Concreto: Aspectos Gerais e Fundamentos do Cálculo de Tensöes e da Estabilidade Baseado no Método de Gravidade. Apostila do Curso de Barragens de Concreto. Universidade de Brasilia - UnB, Brasilia, 2002.


LEIA MAIS:
COELHO, N. A.; Um estudo numérico do efeito térmico em concreto massa. Dissertaçao de Mestrado. Universidade de Brasilia UnB. Brasilia: 2012. 
Disponível em: www.estruturas.unb.br



segunda-feira, 27 de maio de 2013

DIVULGAÇÃO - EVENTO XIII DBMC

Comunicamos e convidamos a todos os colegas e amigos a apresentar trabalhos para a 13th International Conference on Durability of Building Materials and Components. Esse evento, tradicional na temática da Durabilidade ocorrerá em setembro de 2014 (São Paulo), sendo que ainda estão abertos os prazos para submissão de artigos. Vejas os detalhes na sequência.
mat and mat

EVENTO:   XIII DBMC
DATA:  02 - 05 Setembro 2014 - São Paulo
Important Dates
20th  June 2013
Abstract submission deadline
28th  July 2013
Abstract acceptance notification
31st  October 2013
Full paper submission deadline
10th  December 2013
Notification of reviewers comments on full paper
10th  January 2014
Final paper submission deadline
03th - 05th September 2014
Conference

Themes
  1        Durability  Science
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
1.7
Degradation agents
Degradation mechanisms
Combined actions / synergy
Environment characterisation tools and techniques
Economics of durability
Natural and accelerated ageing tests
GIS mapping of degradation mechanisms

  2        Durability  of  Materials,  Systems  and  Components
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
2.6
2.7
 
2.8
2.9
2.10
Concrete and reinforced concrete
Steel and metals components
Mortars and other cement based materials
Wood and wooden components
Paints – organic and inorganic
Waterproofing systems
External envelope, roof, walls and windows
Asphalt and concrete pavement
Solar and renewable energy systems
Advanced materials and components

  3        Service  Life  Planning  and  Prediction Methodologies
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
Stochastic and deterministic predictive models
Field studies for service life prediction
Service life planning case studies
Failure mode and risk analysis
IT tools&service life planning
Construction asset and maintenance management

  4        Durability  &   Sustainable  Construction
4.1
4.2
4.3
4.4
4.5
4.6
4.7
4.8
Durability as a strategy for sustainable construction
Climate change, ozone layer and durability
Life cycle analysis (LCA) and service life
Life cycle cost analysis (LCC) and service life
Service life planning and green construction design
IT tools for durable construction design
Minimum service life regulation and sustainability
Durability of new green products

  5        Building  physics  and  pathology
5.1
5.2
5.3
5.4
5.5
Methodologies of research
Cases of failure
Degradation prevention strategies
Repair technology
Economic implication of building pathology

  6        Historical  and  old  buildings
6.1
6.2
6.3
6.4
Historical and new Buildings degradation
Refurbishment solutions
Service life planning of historical buildings
Inspection routines and repair actions



sábado, 18 de maio de 2013

DIVULGAÇÃO - LIVRO INDICADO 1

Iniciamos aqui no MATERIALS AND MATERIAIS uma nova sessão sobre divulgação.
Aproveitamos para convidar aos colegas e amigos para enviar suas avaliações sobre materiais, bibliografias, etc. Nosso objetivo é contribuir para a divulgação de todo o material útil à pesquisa científica e tecnológica.

O autor:
F. JAVIER LEON VALLEJO

O tema :
 "ENSUCIAMENTO DE FACHADAS POR CONTAMINACION ATMOSFERICA - ANALYSIS y PREVENCION"

Editor:
série ARQUITECTURA Y URBANISMO Editado pelo Secretariado de Publicaciones da UNIVERSIDAD DE VALLADOLID - ESPAÑA (1990).


O que essa publicação aborda?
O foco da abordagem é o estudo das manchas e desbotamentos em fachadas. Para tal o autor faz um profundo estudo sobre os mecanismos e fatores que influem no manchamento e escorrimento nas fachadas com grande propriedade no estudo da incidência de chuva e nos fluxos decorrentes nos diversos materiais e elementos da fachada. Também apresenta uma metodologia para avaliação em campo dos fenomenos envolvidos.

Minha opinião;
É uma obra fantástica num tema de raríssimas publicações (no Brasil acho que não temos equivalente).

Quanto custou:
Paguei R$ 100,00 e comprei na Amazon.



quinta-feira, 16 de maio de 2013

DIVULGAÇÃO - CINPAR 2013

Agora é a vez do CINPAR 2013. Estão abertas as inscrições, e o convite está feito. A programação está fantástica. Consutem o web site e programem-se para aproveitar mais esse evento.

Saudações,
materials and materiais (matandmat.blog@gmail.com)

João Pessoa (PB) - Brasil, de 3 a 5 de junho de 2013.






terça-feira, 14 de maio de 2013

ARTIGO TÉCNICO - AT15 - CONCRETO COM AGREGADO RECICLADO

O blog MATERIALS AND MATERIAIS (MAT AND MAT) traz o artigo resumido do pesquisador Elier Pavón e co-autores discutindo o tema concreto com agregado reciclado. Aproveitamos para mostrar a nova estrutura dos artigos de divulgação técnica que passamos a adotar.
Boa leitura.
Prof. E. Bauer (matandmat.blog@gmail.com)


APLICABILIDADE DO CONCRETO COM AGREGADO GRAÚDO
 RECICLADO - UM ESTUDO DE CASO


Elier Pavón(*), Miren Etxeberria(**), Nelson Emilio Díaz(***)

(*) Doutorando da Universidade de Brasília, DF, Brasil.
(**) Universidade Politécnica de Catalunha, Barcelona, Espanha.
(***) Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, La Havana, Cuba.

RESUMO
A geração de resíduos de demolição de concreto em Havana - Cuba é elevada. Além disso, as principais pedreiras que abastecem a cidade encontram-se afastadas da cidade, inclusive fora da região. Esta situação torna necessário o emprego destes resíduos como agregados na fabricação de concreto. Na pesquisa realizada, foram fabricados concretos com 25%, 50% e 100% de agregados graúdos reciclados obtidos a partir de quatro tipos de concreto, e com relação água-cimento 0,5. A partir da avaliação das propriedades físico-mecânicas obtidas pelo concreto reciclado, definiu-se a sua aplicabilidade como concreto estrutural, de acordo com os requisitos definidos pela normativa cubana.
 
Palavras-chave: resíduos, agregados reciclados, concreto.


 INTRODUÇÃO/ JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS

Os volumes de resíduos de construção e demolição (RCD) produzidos em todo o mundo constituem um grande teor do total de resíduos gerados pela sociedade. De acordo com os dados fornecidos por Tam (1), estes valores são bastante dispersos em diferentes países, chegando a variar em até 60%. De acordo com os resultados obtidos por Tam (1), os resíduos de concreto representam em torno de 40% dos  Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) na maioria dos países pesquisados, em alguns casos essa porcentagem chega à 65%. O problema principal com este tipo de desperdício está associado com a sua deposição irregular e ocupação de grandes volumes.
A cidade de Havana ocupa uma área de 727 km2 e possui uma população de 2,2 milhões de habitantes. A capital da República de Cuba é o centro da atividade econômica no país e representa as 14 províncias de pico produção de resíduos. No caso de Cuba, de acordo com a Diretoria de Planejamento e Serviços Comunais e da Oficina Nacional de Estatística (ONE), a quantidade de resíduo coletado foi maior que 300 kg / pessoa / ano para o período de 2001-2006 (2). Em Havana geram-se quase 40% do total de resíduos de Cuba, destacando a importância da reciclagem na província e, por enquanto, a necessidade de estudar os resíduos nela produzidos. Os valores gerados tendem a aumentar nos últimos anos de acordo com os dados da ONE (2).
Os números de produção de RCD são elevados (3), com valores em torno de 1200m3/dia, dos quais 5% são resíduos de concreto (4). O emprego de agregados reciclados na fabricação de concreto e sua influência sobre as propriedades físicas e mecânicas são extensivamente estudados (5-6) a nível mundial, mais é preciso estudar a aplicabilidade dos agregados reciclados produzidos em Havana, para sua aplicação como concreto estrutural nos diferentes ambientes estabelecidos pela normativa cubana (7).
Neste trabalho foi analisada a aplicabilidade de agregados reciclados de concreto em ambientes de agressividade alta, média e baixa. A fase experimental foi composta por duas etapas experimentais, foram utilizados quatro tipos de agregado reciclado e foram avaliadas propriedades fisco - mecânicas e de durabilidade dos concretos produzidos.

MATERIAIS/MÉTODOS/DESENVOLVIMENTO

Para a fabricação do concreto convencional foram empregados os materiais de maior disponibilidade na cidade, cimento Portland P-35, agregado miúdo calcário da pedreira “Victoria” de Havana, agregado graúdo calcário da pedreira “Alacranes” da província Mayabeque e aditivo superplastificante N100RC de
com uma boa distribuição granulométrica e com baixo teor de finos. Os resíduos foram triturados Mapei.
Os agregados reciclados foram produzidos a partir de quatro fontes de resíduos diferentes. Cada um deles com características diferentes (ver tabela 1), devido principalmente, pelas propriedades do concreto original. Em Havana, não ainda nenhuma planta de reciclagem a escala industrial para a obtenção de agregado graúdo reciclado, por isso foi necessário empregar um triturador de mandíbulas a escala de laboratório. Neste tipo de maquina produziram-se agregados até se tamanho máximo característico de 19 mm, ou seja, dimensão comumente utilizada para agregados graúdos convencionais.

O objetivo da fase experimental foi determinar os requisitos mínimos do agregado graúdo reciclado e o teor de substituição do agregado graúdo natural, para que o concreto feito com agregados reciclados cumpra os requisitos da normativa cubana NC 250: 2005. Ou seja, para que ele possa ser empregado em ambientes de agressividade média, empregando uma relação a/c efetiva de 0.5, o máximo permitido pela normativa. Os concretos reciclados foram fabricados com quatro agregados reciclados com 25, 50 e 100% de substituição (ver tabela 2).



Os concretos foram produzidos em uma betoneira gravitacional com capacidade para 30 litros. Os agregados reciclados utilizados em todos os casos ficavam saturados. Para a caracterização do concreto foram confeccionados corpos de prova cilíndricos de 10 x 20 cm, diâmetro e altura, respectivamente. O mesmo foi compactado em duas camadas, com 25 golpes em cada uma delas. O abatimento do concreto fresco, no cone de Abrams, foi fixado em 12 ± 2 cm. O concreto foi mantido nos moldes durante 24 horas em um ambiente de cura úmido e após esse período procedeu-se à desmoldagem e imersão do corpo de prova em água até idade de ensaio. Aos 28 dias determinou-se a resistência à compressão, densidade e absorção dos concretos.


RESULTADOS/DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra os resultados de resistência à compressão aos 28 dias de idade dos quatro concretos reciclados. Pode-se observar que não houve diferença entre a resistência à compressão do concreto convencional e do concreto reciclado para 25% de substituição. No concreto feito com 50% de concreto reciclado, houve uma diferença de 15% na resistência à compressão entre o concreto feito com agregado de melhor qualidade (HR1-0.5) e de pior qualidade (HR4-0.5), ainda assim, todos estes concretos obtiveram resistências maiores de 25 MPa, resistência mínima permitida para que o concreto possa ser empregado num ambiente de agressividade moderada, de acordo com a normativa cubana.


 Nos quatro concretos feitos com 100% de agregados reciclados observou-se diminuição da resistência em relação ao concreto convencional, sendo esta diminuição de 15% para o concreto HR1 e 35% para o concreto HR4. No entanto, o concreto no qual se empregou AR1, com massa específica de 2,57g/cm3 e absorção de 3,4%, cumpriu com os requisitos mínimos para a exposição do concreto num ambiente de agressividade média. Nos estudos de Abdelfatah Tabsh (8), foram obtidas perdas de resistência semelhantes às obtidas no estudo experimental feito.
De acordo com os resultados, seria possível utilizar os agregados com uma densidade maior de 2.13kg/dm3 e absorção de água inferior a 9% (correspondente a AR4) em substituição de até 50% para a fabricação de concreto reciclado, que podem ser expostas à ambientes agressivos médio.
A Figura 2 ilustra a influência da presença de agregados reciclados na capacidade de absorção do concreto. Observa-se que a capacidade de absorção do concreto com a mesma quantidade de agregados reciclados é agravada quando se utiliza agregados de menor qualidade (agregados de maior capacidade de absorção).

 Os concretos com substituições de agregados reciclados no teor de 25% não diferem com respeito ao padrão. No entanto, o concreto feito com percentagens superiores a 50% apresenteou um aumento na absorção de 20 e 70% em relação ao concreto convencional, exceto o HR1-50, onde não foi superior aos 5%. Estes resultados são totalmente consistentes com os resultados da resistência à compressão, onde foi concluído que apenas no concreto feito com 25% de agregado reciclado não foi detectada diferença com o concreto convencional, como já foi descrito em estudos anteriores (9-10). Os concretos HR3 e HR4 tiveram um comportamento semelhante tanto na resistência à compressão como na capacidade de absorção de água.


CONCLUSÕES/AGRADECIMENTOS

De acordo com os resultados da fase experimental, pode-se concluir que, nas dosagens estudadas:

Ø  Os concretos fabricado com 25% de agregado graúdo reciclado, independentemente da qualidade do agregado reciclado utilizado, não apresenta diferenças na capacidade de absorção ou na resistência à compressão em relação ao concreto convencional, quando a massa específica do agregado reciclado é superior 2.13kg/cm3 e a absorção é menor que 9%.

Ø  Em concretos que serão expostos a ambientes de agressividade média, podem ser empregados 25% a 50% de agregado reciclado, se os concretos forem feitos com relação água/cimento de 0,5 e 430 kg de cimento (P-35) por m3 de concreto.


Os autores agradecem à Agencia Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) e ao Centro de Cooperação e Desenvolvimento da Universidade Politécnica de Catalunha pelo financiamento. A CAPES pelo apoio financeiro atual.

REFERÊNCIAS

(1) Tam, V.W.Y., K. Wang, and Tam, C.M. Assessing relationships among properties of demolished concrete, recycled aggregate and recycled aggregate concrete using regression analysis. Journal of Hazardous Materials, 2008. 152(2): p. 703-714.
(2) Pavón, E. Empleo del árido reciclado de hormigón en la fabricación de hormigón estructural, Tesis de Mestrado 2010, in Departamento de Ingeniería Civil. Instituto Superior Politécnico Jose Antonio Echverría: Ciudad Habana, Cuba.
 (3) Soto, I. Estudio de viabilidad sobre la utilización de los residuos de construcción y demolición en Ciudad de la Habana, in Departamento de Ingeniería Civil. 2008, Instituto Superior Politécnico Jose Antonio Echverría: Ciudad Habana, Cuba.
(4) Pavón, E., Etxeberria, M., and Diaz, E. Utilización de los Residuos de hormigón de plantas de prefabricado, in Ecomateriales-14 Convención Científica de Ingeniería y Arquitectura, Cujae, Editor. 2008: La Habana, Cuba.
(5) Nagataki, S. Properties of Recycled Aggregate and Recycled Aggregate Concrete, International Workshop on Recycled Concrete, 2000.
(6) Kokubu, K., Tshimizu, A. Effects of recycled aggregate qualities on the mechanical properties of concrete, Internacional Workshop on Recycled Concrete, Tokyo, JSPS 76 Committee on Construction Materials, Japan Society for the Promotion of Science, 2000, p. 107–115.
(7) NC 250: 2005. Requisitos de durabilidad para el diseño y construcción de edificaciones y obras civiles de hormigón estructural. ININ, Cuba.
(8) Tabsh, S.W. and Abdelfatah, A.S. Influence of recycled concrete aggregates on strength properties of concrete. Construction and Building Materials, 2009. 23 (2009) p. 1163–1167.
(9) T.C. Hansen, H. Narud, Strength of recycled concrete made from crushed concrete coarse aggregate, Concrete International—Design and Construction 5 (1) (January 1983): p. 79–83.
 (10) Etxeberria M., Vázquez E., Marí A., Barra M., Influence of amount of recycled coarse aggregates and production process on properties of recycled aggregate concrete, Cement and Concrete Research 37 (2007) 735–742