Recebemos várias demandas principalmente de síndicos e administradores de edifícios questionando as implicações das intervenções (manutenção) no atendimento da vida útil dos edifícios. Voltamos a esse importante assunto abordando os conceitos básicos desse complexo tema.
Boa leitura,
Prof. E. Bauer
VIDA ÚTIL, MANUTENÇÃO, DEGRADAÇÃO
A temática do assunto é muito atual no contexto do estoque de edifícios existentes em Brasília, bem como nas novas edificações em construção, uma vez que a cidade já alcançou o patamar de 50 anos, e são notórios e evidentes os indícios das deteriorações nos edifícios de Brasília. Antunes (2010), bem como Bauer et.al. (2010) estudam e mostram claramente as situações das patologias dos edifícios em Brasília, particularmente para as fachadas dos mesmos, buscando quantificar e entender os mecanismos e intensidade de deterioração pertinentes.
O LEM atua de longa data nessa temática, particularmente na avaliação e vistoria de edifícios no aspecto de questionamento das deteriorações, vida útil e das patologias.
Segundo a NBR 5674 (ABNT, 1999) vida útil consiste no intervalo de tempo ao longo do qual a edificação e suas partes constituintes atendem aos requisitos funcionais para os quais foram projetadas, obedecidos aos planos de operação, uso e manutenção previstos. Para Flauzino e Uemoto (1981) a vida útil de um edifício é condicionada pela vida útil de seus constituintes devendo-se, portanto ater-se para o grau de importância que cada elemento exerce sobre o sistema considerando variáveis como facilidade e custos atrelados a manutenção e/ou reposição, fatores de degradação e outros mecanismos intervenientes.
A figura 1 representa o desempenho ao longo do tempo e destaca a vida útil de projeto, a vida residual, a sobrevida e a vida total. Evidencia-se a perda desempenho com o aumento do tempo de exposição do material aos agentes de degradação. Nela também, mostra-se a influência da manutenção, através das linhas verticais, no sentido de assegurar e prolongar a durabilidade ao sistema de revestimento de fachada ou qualquer demais parte de uma edificação.
Figura 1 – Função de desempenho versus tempo descrevendo a durabilidade de um produto em determinadas condições ambientais (ABNT NBR 15575-1, 2008).
Prevista na NBR 5674 (ABNT, 1999), manutenção é descrita como um “conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus usuários”. É interessante lembrar que a manutenção deve ser preconizada ainda em fase de projeto. Prever durante a concepção arquitetônica elementos que facilitem ou permitam o acesso a limpeza, estabelecer as condições e a periodicidade em que devem ser realizadas as manutenções colaboram para garantia a durabilidade esperada para edificação.
Existem diferentes tipos de manutenção a ser consideradas, conforme Resende et al.(2001):
▪ Manutenção planejada preventiva: atividades realizadas durante a vida útil da edificação, de maneira a antecipar-se ao surgimento de defeitos;
▪ Manutenção planejada corretiva: atividades realizadas para recuperar o desempenho perdido;
▪ Manutenção não planejada: definida como o conjunto de atividades realizadas para recuperar o desempenho perdido devido a causas externas não previstas.
Prevista na NBR 5674 (ABNT, 1999), manutenção é descrita como um “conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus usuários”. É interessante lembrar que a manutenção deve ser preconizada ainda em fase de projeto. Prever durante a concepção arquitetônica elementos que facilitem ou permitam o acesso a limpeza, estabelecer as condições e a periodicidade em que devem ser realizadas as manutenções colaboram para garantia a durabilidade esperada para edificação.
A degradação nada mais é, que a perda de capacidade do material responder às exigências, ao longo do tempo, consoante os agentes de deterioração, a natureza do material e, em certos casos, a própria maturação deste (como é o caso dos rebocos ou dos concretos), de acordo com Gaspar e Brito (2005). As várias formas de manifestações patológicas existentes, não se vinculam a apenas uma causa, normalmente são resultantes da atuação simultânea de diversos fatores promotores de degradação.
As patologias ocorrem quando surgem situações nas quais, a edificação ou suas partes, deixam de apresentar o desempenho esperado, em determinado momento da sua vida, ou seja, a edificação não cumpre suas funções, deixando de atender às necessidades dos usuários. Uma manifestação patológica acontece com a queda de desempenho precocemente (antes de se atingir o limiar de vida útil para aquele material ou componente), diante de erros no planejamento, especificação, execução e/ou mesmo em uso, que podem ou não ser cumulativos. Hoje em dias são diversas as formas de abordagem e tratamento das manifestações patológicas incidentes sobre sistemas de revestimento de fachada. Pedro et al. (2002) as classifica conforme suas origens em:
a) Congênitas - originárias da fase de projeto, em função da não observância das Normas Técnicas, ou de erros e omissões dos profissionais, que resultam em falhas no detalhamento e concepção inadequada dos revestimentos.
b) Construtivas - têm origem relacionada à fase de execução da obra, resultante do emprego de mão-de-obra despreparada, produtos não certificados e ausência de metodologia para assentamento das peças.
c) Adquiridas - ocorrem durante a vida útil dos revestimentos, sendo resultado da exposição ao meio em que se inserem, podendo ser naturais, decorrentes da agressividade do meio, ou decorrentes da ação humana, em função de manutenção inadequada ou realização de interferência incorreta nos revestimentos, danificando as camadas e desencadeando um processo patológico.
d) Acidentais – caracterizam-se pela ocorrência de algum fenômeno atípico, resultado de uma solicitação incomum, como a ação da chuva com ventos de intensidade superior ao normal, recalques e, até mesmo incêndio. Sua ação provoca esforços de natureza imprevisível, especialmente na camada de base e sobre os rejuntes, quando não atinge até mesmo as peças, provocando movimentações que irão desencadear processos patológicos em cadeia.
A patologia das construções estuda os sintomas, os mecanismos e as causas, bem como a origem dos defeitos observados nas edificações. A identificação das patologias, a definição da extensão das mesmas sobre o edifício, a constatação da gravidade fazem parte de um processo de diagnóstico, o qual busca identificar e deduzir o mecanismo básico do desenvolvimento e atuação da patologia. Infelizmente, na maioria dos casos dos edifícios em Brasília, o levantamento e estudo do diagnóstico são feitos em condições de grande gravidade das patologias, o que traz consigo tanto a dificuldade técnica da correção do problema, como um custo elevado, na maioria dos casos.
• Falhas graves na especificação (projeto) – erros e omissões frequentemente permitem a utilização de materiais e soluções não adequadas às condições de exposição e utilização do edifício e suas partes. Observa-se que vários componentes do edifício são executados sem especificação e projetos específicos (por exemplo: projeto de impermeabilização, projeto de fachadas). Disso decorrem soluções com desempenho incerto, que em muitos casos não possuem tanto os requisitos de desempenho necessários, bem como a durabilidade pertinente.
• Falhas na execução e no controle de qualidade – aplicação inadequada dos materiais por falta de treinamento e controle da mão-de-obra gerando falhas e não conformidades. Como a edificação emprega vários materiais e técnicas diferenciados (materiais estruturais, de acabamento, de proteção, etc.), bem como diferentes grupos de trabalho atuam em cada etapa, o surgimento de erros é extremamente facilitado. Falhas no controle de qualidade mostram-se também existentes ao não identificar não conformidades que se converterão em patologias futuras. Nesse aspecto a indústria da construção ainda é muito deficiente, com protocolos muito superficiais, ou privilegiando somente alguns elementos estruturais, como é o caso do concreto estrutural.
• Falhas nos materiais – embora a maioria das normas técnicas apresente critérios de recebimento do mesmo, é extremamente freqüente o emprego dos materiais sem nenhuma avaliação de qualidade por parte do construtor. Isso pode ser generalizado para todos os materiais empregados na construção civil. Se o consumidor não exerce controle dos materiais que recebe, e os aplica nas suas obras, o resultado a médio e longo prazo é incerto. Evidencia-se essa situação tanto em obras do tipo de construções populares como também obras de alto padrão.
• Incompatibilidade físico-química – ocorrem muitas vezes, por ausência de especificação e projeto ou incompatibilidades de soluções. Nesse erro, pode-se condenar um edifício, por exemplo, a fissuração constante (e consequentemente a infiltrações e deteriorações intensas). Frequentemente tem se observado estruturas deformáveis, em que a alvenaria confinada junto as vigas, pilares e lajes, não possui capacidade de deformação equivalente, vindo seguramente a fissurar.
Outro enfoque também diz respeito as metodologias para estudo da durabilidade e das patologias. Conforme relata Antunes (2010), o processo de diagnóstico tem como base um levantamento detalhado tanto da incidência das patologias como na identificação das diferentes patologias. Assim, para se poder fazer uma avaliação e um diagnóstico, os métodos de estudo devem ser melhorados e aprimorados. Existe clara dificuldade tanto na conceituação como na identificação das diferentes patologias. É necessário, portanto, aprofundar os métodos quanto as suas classificações e avaliações para uma maior precisão e , consequentemente, diagnósticos mais precisos.
Outra ênfase importante é a necessidade de “apreender com os erros”. Melhor esclarecendo, é fundamental que os casos de patologias sejam divulgados de forma continuada para que novos projetos e novos edifícios não apresentem repetidamente as falhas que levam ao surgimento de patologias e deteriorações. Assim, a compilação dos casos na forma de manuais ou em cooperação com sistemas de catalogação de patologias como o PATO REB, são fundamentais para o processo da construção.
Veja mais:
Bauer, E., Kraus, E., Antunes, G.R, Patologias mais correntes nas fachadas de edifícios em Brasília. 2010.Proc. 3º. Congresso Português de Argamassas de Construção - APFAC, Lisboa, Portugal.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674: Manutenção de edificações - Procedimento. Rio de Janeiro, 1999.
FLAUZINO, W. D.; UEMOTO, K. L Durabilidade de materiais e componentes das edificações. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E SUA APLICAÇÃO ÀS HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL, 1981, São Paulo. Anais... São Paulo: IPT, 1981. p. 203-220.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos - Desempenho - Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2008.
RESENDE, M. M.; BARROS, M. M. S. B. de; MEDEIROS, J. S. A influência da manutenção na durabilidade dos revestimentos de fachada de edifícios. In: WORKSHOP DE DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES, 2., 2001, São José dos Campos. Anais... São José dos Campos: WORKDUR, 2001.
GASPAR, P.; BRITO, J. de. Mapping Defect Sensitivity in External Mortar Renders. In: JOURNAL OF CONSTRUCTION AND BUILDING MATERIALS, v. 19(8), 2005, p. 571-578.
PEDRO, E. G.; MAIA, L. E. F. C.; ROCHA, M. de O.; CHAVES, M. V. Patologia em revestimento cerâmico de fachada. Síntese de monografia, Pós-Graduação em Engenharia de Avaliações e Perícias do CECON, Faculdade de Engenharia e Arquitetura – FEA FUMEC, Belo Horizonte, Brasil, 2002. Disponível em: <http://www.ibape-mg.com.br/monografia.htm> Acesso em: 4 de junho de 2009.
CASTRO, E.K. Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto armado, Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 1994
LOPES, B.A.R. sistema de manutenção estrutural para grandes estoques de edificações, Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 1998.