Caros colegas;
Em Brasília, no momento (final de janeiro de 2015), ao trafegar pelas ruas do plano piloto e também pelas ruas das cidades satélites vemos várias placas indicando obras de reabilitação nos edifícios. A mais comum é a reabilitação de fachadas, onde emprega-se geralmente um termo "retrofit". Não sou expert na língua inglesa, mas entendo que esse termo possa ser usado como readequação, e talvez de longe possa ser associado com a reabilitação (tenho minhas dúvidas).
Fato importante é que Brasília é uma jovem senhora, e seus edifícios mostram que alguns de seus elementos chegam ao final de sua vida útil. Até aí, nada de novo. Temos observado todavia, uma vida útil muito curta para as fachadas. A Norma de Desempenho vigente coloca uma vida útil mínima de projeto de 20 anos. Os estudos acompanhados pelo LEM, mostram que existem edifícios antigos em que as fachadas sobejamente mantém seu desempenho. Com mais frequência edifícios novos tem mostrado não atingir nem de longe os 20 anos previstos. O pior, é que o usuário leigo (não técnico), passa a achar que isso está certo. Temos casos em que tem se feito um processo de reabilitação intensa (remoção dos revestimentos) das fachadas a cada 5 anos, e se acha que está tudo em ordem.
Meu assunto hoje não é esse, mas quero somente mostrar umas imagens que fiz aqui em Brasília. São fachadas em processo de reabilitação, em que a remoção do revestimento anterior (reboco, emboço, cerâmico) tem sido catastrófica, com danos graves à alvenaria.
As figuras 1 e 2 mostram como se tem feito a remoção do revestimento. Vejam os danos na alvenaria causados pela remoção dos elementos do revestimento.
Figura 1 - Aspecto após a remoção da camada de emboço
Figura 2 - Danos a alvenaria na remoção do emboço
Essa situação é generalizada e parece que a destruição da alvenaria é uma das etapas do processo de reabilitação das fachadas. Observem o grau de destruição da alvenaria que a figura 3 mostra. Literalmente o bloco cerâmico perde sua parede lateral, e em alguns pontos é reduzido pela metade em sua espessura.
Figura 3 - Danos graves na remoção do emboço.
Poderia se falar que a culpa é dos blocos cerâmicos que são muito frágeis e não permitem que se consiga remover a argamassa de emboço.
Me permitam, com liberdade, fazer uma simples analogia: Se um dentista (ondontólogo) destruir seu dente em um tratamento e colocasse a culpa no seu dente, qual seria sua reação ?? Da resposta, é óbvio que a técnica não é a adequada.
Mas vamos lá, vamos ver então uma alvenaria em bloco de concreto, como mostra a figura 4. Também se destrói igualmente a alvenaria.
Figura 4 - Alvenaria de bloco de concreto danificada na remoção da argamassa de emboço
Passando para outro assunto. Como se faz a recomposição da fachada. usualmente se preenchem os furos e rasgos com a mesma argamassa de revestimento. Imaginem a recomposição da parede da figura 3. Metade da espessura do bloco seria preenchida com argamassa, acrescentando-se ainda de 2 a 3 cm referentes ao emboço.
Daí questiona-se o que se está fazendo. Estamos num processo de reabilitação ou retrofit como insistentemente falam alguns colegas? Acho que o "remendo sai pior que o soneto". De forma breve teremos:
- material de grande espessura e rigidez diferenciada da alvenaria inserido na mesma - movimentações diferenciais ocorrendo de outra forma do previsto inicialmente para a alvenaria;
- grandes espessuras - retrações e fissuras, possíveis infiltrações, eflorescências, etc.
- nova interface argamassa bloco cerâmico - solicitações de peso próprio e umidade em outro plano na alvenaria;
Em nenhum caso (dos observados aqui) tem se pensado e inserir uma malha de aço galvanizada (ou outro sistema estruturante) de forma a estruturar a alvenaria, dando lhe um aporte mecânico capaz de realmente ser reabilitada. Isso não justifica concordar em destruir a alvenaria, mas é uma preocupação em resgatar o desempenho mecânico. Afinal, estamos fazendo uma reabilitação.
Também acho necessário repensar a necessidade da remoção das camadas. Acho que temos hoje tecnologia para buscar recuperar o desempenho perdido em função do uso de outras formas. Temos conhecimento técnico acadêmico e possibilidade de propor materiais mais adequados e soluções mais inteligentes.
Da forma que está, os famosos retrofits tem levado a se ter condições piores daquilo que se tinha originalmente, antes da intervenção. Qual a consequência ? Em 5 ou 6 anos a fachada está novamente toda degradada, com um novo pacote de patologias e anomalias. Isso é uma vergonha.
Um abraço a todos;
Prof. Elton Bauer